se resiste à tentação de o referir. Para tanto basta transcrever os seguintes comentários e números do Prof. Engenheiro Silvicultor M. Gomes Guerreiro 1:

O problema do assoreamento foi levantado na América do Norte - onde em 1940 existiam já 8400 barragens - quando se verificou, em 1934, que das 56 albufeiras ao sul do Piedmont as 13 maiores estariam completamente assoreadas dentro de um período máximo de trinta anos. Neste mesmo trabalho, passando revista a um certo número de albufeiras e outras represas, apresentam-se valores verdadeiramente alarmantes. Deles respigamos os seguintes exemplos:

Assoreamentos de algumas albufeiras nos Estados Unidos da América

Estes números são de facto assustadores e devem ser encarados com o interesse que merecem, em especial em regiões onde o clima tem a irregularidade a que atrás referimos e onde a agricultura e o pastoreamento são excessivos e descontrolados.

A perda de 50 por cento da capacidade de uma albufeira, ou até menos, pode, na maioria dos casos, torná-la completamente inútil para o fim á que foi destinada. Além disso, sendo estes reservatórios construídos em locais com óptimas características, dificilmente poderão ser substituídos por outros que satisfaçam as mesmas exigências e necessidades. Quanto à limpeza de uma albufeira assoreada, embora haja divergências, parece que, de acordo com a base actual da técnica, ela é economicamente impraticável, pois o seu custo oscila entre cinco a cinquenta vezes o da obra inicial.

Segundo um relatório apresentado por Brawn (1937) o estado das albufeiras no território dos Estados Unidos da América era, em 1937, o seguinte:

38 por cento tinham uma vida útil de 1 a 50 anos.

24 por cento tinham uma vida útil de 50 a 100 anos.

21 por cento tinham uma vida útil de 100 a 200 anos.

E só 17 por cento tinham uma vida útil superior a 200 anos.

Por aqui talvez se possa apreciar o interesse deste problema e o valor económico e social que ele representa. A crítica estabelecida no plano à orientação que, em resultado de circunstâncias históricas com seus reflexos estruturais, tem sido dada à utilização do território merece a mais larga concordância e mostra bem quanto é necessário proceder, no mais curto espaço de tempo possível, a um novo ordenamento agrário conservador e fomentador de novos rendimentos estáveis e crescentes.

Depreende-se, no entanto, da leitura do plano que o problema - desaparecida «a floresta, a terra, presa fácil da erosão, foi pouco a pouco degradando-se até ser hoje o que é, a charneca imensa, quase sempre esquelética, campo infinito aberto ao trabalho da geração presente, para tornar possível, num futuro distante, recuperar o que tão leviana e rapidamente foi perdido» - não é já unicamente um problema florestal. As forças sociais e económicas que destruíram, a floresta poderão agora, sem desvio de sentido e ponto de aplicação, reconstituí-la?

E esta a dúvida mais angustiosa, que obrig a a lembrar a oportunidade de medidas de equipamento material e intelectual, de reorganização agrária e de estruturação de todo o quadro económico, que permitam abrir terreno à aceitação dos princípios consignados na Lei n.º 2069. E não se poderia esperar que estas medidas estivessem contidas num plano de arborização. Por isso não se vê que no plano agora em estudo falte alguma coisa do muito que, de certeza, vai faltar para vencer os obstáculos que o meio oferece. Não há, portanto, neste aspecto, crítica a estabelecer. Apenas se deve, porém, solicitar o auxílio de outros recursos da técnica, as leis, do ensino e da educação das populações rurais, auxílio que só poderá ser esquematizado de acordo com as novas técnicas do planeamento regional.

As condições técnicas de êxito do empreendimento Não pode deixar de causar sérias apreensões o facto de se prever no quadro x do plano o estabelecimento de 34 180 ha de montado de azinho, que, junto com os 25 284 ha existentes, totalizam 59 464 ha, num total arborizado de 103 623 ha.

Não pode duvidar-se de que a azinheira terá de instalar-se em muitas áreas como fatalidade irremovível e consequência inevitável dos erros antigos resultantes do uso inadequado do solo. Noutros casos ainda poderá ser vista como espécie pioneira, juntamente com o pinheiro manso, a que se entrega um solo a reconstituir a quê será dado oportunamente destino mais rendoso. Mas o certo é que o montado de azinho vai entrando em rápido descrédito na opinião generalizada dos agricultores e não são já seguramente convincentes os argumentos que a p. 46 do plano se reúnem em seu favor. Não se pode deixar de aceitar que a sua presença é uma triste fatalidade ecológica e nunca mais do que isso.

Quanto ao montado de sobro o lugar que lhe é. dado é importante e acrescentam-se 30 012 ha aos 5865 ha existentes, o que conduzirá a 35 877 ha. Existem ainda razões de peso para continuar a confiar no montado de sobro como forma económica de exploração de recursos. E, embora se justifique o receio de que o futuro possa vir a alterar as coisas, não seria prudente entravar desde já as possibilidades de acréscimo da produção de uma matéria-prima -a cortiça- que bem pode, pelas suas qualidades incomparáveis e o baixo preço de custo a que é obtida, tentar as oportunidades da luta de sucedâneos já desencadeada.

A superfície entregue a pinhal manso, de 5967 ha, criada praticamente de novo, entende-se por se considerar a necessidade de recurso a espécies pioneiras.

O eucaliptal apresenta, no entanto, uma presença modesta de 1812 ha apenas.