Acontece que as condições técnicas de êxito do empreendimento que neste parágrafo se pretende analisar se encontrariam seriamente comprometidas se fosse esta sòmente a promessa feita aos proprietários e agricultores: a de alargarem ainda mais um sistema de aproveitamento do solo que já não querem manter e que seria bom substituir, se os recursos da técnica o consentissem.

Mau grado todas as fraquezas que infelizmente existem em matéria de investigação e experimentação, noutro lugar assinaladas, o êxito ficaria mais assegurado junto dos interessados desde que fosse desde já apontado claramente, traduzido em números, o verdadeiro programa da empresa em que vão colaborar.

E essa esperança encontra-se a p. 54-b do plano, onde se escreve:

e fomentadas em toda a região mediterrânea, nas zonas semiáridas e em solos degradados.

Equacionado o problema desta maneira, as espécies que iremos preconizar apenas poderão ser aceites simbolicamente, indicando unicamente, com maior rigor, as condições mais ou menos adversas do meio ambiente para o fomento florestal.

Esta maneira de dizer esconde, no entanto, na essência do Plano, os horizontes que à moderna silvicultura se abrem de um modo prometedor e aliciante. Para além de tudo o que constitui a revelação da existência de condições adversas, outras possibilidades se encontram no âmbito da «cultura de árvores», a que já se fez referência e que tanta vez se descortinam nas valiosas considerações que acompanham o Plano.

Parece ter havido o receio de romper de forma decidida com as técnicas tradicionalmente usadas na bacia hidrográfica do Terges e Cobres, que afinal conduziram a uma trágica situação. Quando o momento exige a abertura de novos caminhos não seria talvez audácia desmedida planear um pouco mais no aspecto fundamental que a transcrição feita deixa entrever. A menos que o problema técnico seja mais difícil do que parece à Câmara Corporativa. Mas então melhor seria não ter escrito a p. 54-b.

Na já referida 6.ª sessão da Subcomissão de Coordenação das Questões Flores tais Mediterrânicas, da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, recomenda-se que conviria: Conservar a floresta natural onde a sua função de protecção for reconhecida e conduzir esta função no máximo, assegurando a esta floresta uma produtividade económica. Em virtude do carácter de protecção desta floresta a intervenção do Estado nas operações de reconstituição é absolutamente indispensável;

b) Melhorar as outras florestas existentes pelos métodos da silvicultura intensiva, utilizando as essências de maior valor económico ou procedendo a conversões parciais ou totais das florestas;

c) Desenvolver os povoamentos e as plantações que tenham o carácter de uma silvicultura intensiva baseada no emprego de essências de crescimento rápido, quer seja em povoamentos propriamente ditos, quer seja em associação com as culturas agrícolas;

d) Regular o comportamento das formas de transição da floresta para a agricultura (se elas existem), tendo em conta o merca do dos produtos especiais, e tomar todas as medidas úteis para assegurar a manutenção da fertilidade dos solos segundo certos princípios biológicos.

Mas estará assegurada a coordenação com os programas de desenvolvimento agrícola e regional?

A aplicação possível e a aplicação impossível do esquema proposto Um facto essencial sobressai de qualquer tentativa do estudo económico do povoamento florestal no Terges e no Cobres: o carácter necessariamente lento da transformação prevista. Assim, o acréscimo de rendimento obtido pela exploração florestal, tomado em relação ao nível actual de proveito económico extraído de uma ruinosa exploração agrícola, encontra-se reportado ao fim de trinta a quarenta anos nos casos mais desfavoráveis e a dez ou quinze nos mais favoráveis.

Antes de obter esses rendimentos é necessário suspender nas áreas a florestar certo montante de rendimentos imediatos habituais, sendo certo que alguns têm de ser admitidos, por circunstâncias sociais, seja qual for o seu grau de liquidez ou de duração, mesmo quando apresentam evidente tendência decrescente.

Simultaneamente, haverá que promover investimentos necessários para proceder à reconstituição ou estabelecimento das matas, e talvez aqui venha a ser encontrada a contrapartida para o abalo económico resultante da suspensão de rendimentos agrícolas, tendo de aceitar-se como imprescindível, em muitos casos, o auxílio do Estado.

Ninguém poderá contestar que a transformação é conveniente ou necessária, não só para salvaguarda de interesses privados malbaratados, como também no que se refere a vantagens nacionais. Mas o que pode é averiguar-se até que ponto é possível essa transformação e onde existem os impossíveis, ligados, como sempre, às situações estruturais.

Uma análise sumária da estrutura demográfica dos concelhos abrangidos, em parte, pelo plano agora apresentado pode ajudar a esclarecer o assunto. Não se dispõe de dados demográficos respeitantes às áreas compreendidas no plano e os elementos necessários não figuram no recenseamento de 1950 discriminados por freguesias, pelo que se torna necessário recorrer ao concelho. Observa-se o que se passa em relação à população masculina, para evitar as dificuldades de classificação da população feminina que se sabe terem existido na realização do censo referido.