Quanto à primazia do distrito do Porto sobre o de Lisboa, ver-se-á, pelo quadro seguinte, que as coisas se não passam do mesmo modo quando comparadas as duas cidades. Mas verá que esclarecer ainda, estar incluída no distrito do Setúbal toda a população dos concelhos industrializados da margem sul do Tejo, que, efectivamente, se integram na região industrial de Lisboa (Barreiro, Seixal, Moita, Montijo e Almada).

For grau de industrialização deve entender-se a percentagem de população industrial na população activa.

Como se verifica, a posição de Lisboa-cidade é mais do que dupla relativamente ao Porto-cidade, quando se tomem os números absolutos que exprimem as suas populações industriais: 103 400 unidades, contra 46 600 unidades. E o próprio grau de industrialização é também mais alto em Lisboa: 30 por cento, contra 25 por cento no Porto. Com o aumento da população portuguesa, em geral, que tivemos ocasião de analisar em parágrafos anteriores, verificou-se obviamente um acréscimo correspondente na população activa do País, que em 1950 se cifrava em 3 196 000 pessoas, das quais 783 000 constituíam a nossa população industrial (cerca de 25 por cento).

Esta percentagem da população industrial sobre a população activa, quando tomemos como ponto de partida o censo de 1930, tem vindo a crescer sensivelmente: 17 por cento em 1930, 21 por cento em 1940 e 25 por cento em 1950. E tal parece demonstrar o esforço de industrialização que veio a processar-se de 1930 para cá e em que o País mais ainda se tem empenhado nos últimos anos.

Esta percentagem crescente da população industrial na população activa deve-se principalmente aos cinco distritos industrializados, onde o crescimento tem sido muito mais acentuado.

Para ajuizar o que tem sido a intensidade de crescimento na população industrial desses cinco distritos, relativamente aos restantes, durante o período 3930-1950, veja-se o quadro seguinte:

Os números, porque são suficientemente expressivos, não exigem grandes desenvolvimentos. A notar apenas - repetindo uma observação já feita antes- que a notável percentagem de aumento registada no distrito de Setúbal (148 por cento), e muito distante de todas as outras, é com certeza substancialmente devida nos concelhos industrializadas da margem sul do Tejo, e por consequência deveria rigorosamente ser acrescentada, em grande parte, à zona sul - Lisboa, cujo distrito apareço no quadro com a percentagem da acréscimo mais baixa de todas: 56 por cento.

Este e outros factos anómalos quanto ao estudo da repartição das indústrias impõem o abandono, para certos casos, do critério puramente administrativo da divisão por distritos, dando preferência ao das regiões industriais.

Transcrevem-se, a tal propósito, estas judiciosas afirmações, inserta em obra recente:

Sobre os números do censo de 1950 (que já sabemos falseadores da realidade do nosso ponto de vista) definimos concelhos industrializados aqueles em que a participação da população industrial na activa é largamente superior u média do País e construímos dois agregados com tais concelhos, que, pela sua proximidade geográfica, dependência comum de idênticos centros de consumo, recurso a análogas redes de transporte e manifesta interdependência de actividades fabris, pareceram autorizar a delimitação de núcleos bem diferenciados. Pode discutir-se a inclusão de certos concelhos e não temos dúvidas acerca da possibilidade de aperfeiçoar a estruturação estabelecida, sobretudo quando se dispuser de melhores elementos de informação; mas cremos que corresponde a uma realidade, bem mais profunda do que a divisão distrital, a delimitação das zonas industriais Norte e Sul, centradas, respectivamente, no Porto e em Lisboa, abrangendo a primeira quase todo o distrito do Porto, o sul de Braga e o norte dê Aveiro e abarcando a última uma "coroa" de concelhos industrializados desde Oeiras a Vila Franca de Xira e completando-se com os da margem sul do Tejo, polarizados para o estuário e a zona urbana, muito mais do que para Setúbal, sua capital administrativa. (Estudo sobre a Indústria Portuguesa, II Congresso da Indústria Portuguesa, 1957, F. Pereira de Moura e um grupo de trabalho por ele chefiado. Deste importante estudo se retiraram todos os elementos estatísticos que a presente parágrafo encerra).