As tentativas actuais de negociação entre os dois agrupamentos e suas perspectivas É tempo de extrair alguma conclusão de toda a análise histórica que vem de ser. apresentada - e conclusão que ajude, mais adiante, ao esclarecimento da posição portuguesa. Vejamos os aspectos importantes do problema.

A ideia mestra da cooperação europeia é a de vencer a perda de dimensão de cada um dos países do continente, mesmo os de maior importância e recursos, em face das novas potências mundiais. Ora, a esta luz, não parece satisfatória a situação a que se chegou por agora com duas ou três «europas» do Ocidente, a juntar & outra, já separada, que é a do Leste. Os números que seguem exprimem, com razoável clareza, os fundamentos dessa insatisfação, pois torna-se evidente que apenas o Ocidente europeu, em sua totalidade, estará em condições de confronto económico com os seus grandes comparsas da cena mundial.

É a meditação sobre dados como estes que ainda dá animo aos melhores espíritos europeus, e em todas as nações do velho mundo, para não descrerem de uma superação próxima dos estreitos antagonismos actuais.

Confronto das economias da Europa Ocidental, Estados Unidos da América e Rússia

Observações. - Os dados respeitam a 1958, de um modo geral, e a 1955 ou 1956, para cortas produções. E os elementos sobre a C. E. E. referem-se apenas aos territórios europeus.

Fontes: Boletins de Estatística das Nações Unidas e O. E. C. E. e Oxford Economic Atlas of the World (2.ª ed.).

A necessidade de acordo e do trabalho em comum aparece ainda mais fundada quando se substitui uma visão dinâmica ao quadro estático das grandes economias, que ficou traçado, e se verifica quais têm sido os resultados «relativos» do esforço de recuperação empreendido na última década pela Europa. A produção de aço aumentou 45 milhões de toneladas, entre 1950 e 1960, no Ocidente europeu, e apenas 29 milhões noa Estados Unidos e 36 milhões na Rússia; em outras importantes actividades, como o cimento, o carvão, a construção de habitações, a própria indústria automóvel, também vem sendo mais rápido o desenvolvimento das produções europeias, em confronto com as norte-americanos; a produção por habitante cresceu cinco vezes mais depressa na Europa, e o nível médio de vida melhorou aí duas vezes mais rapidamente do que nos Estados Unidos. E são curiosas, por provirem de comentadores ianques, as anotações de surpresa acerca da terceira força que assim surge, por forma a fazer e squecer a concorrência económica russa, e com feição tonto mais inesperada quanto se enraizara já o hábito de considerar «acabada» a influência é o poder das velhas pátrias europeias. Sobre esta primeira grande realidade - a de efectiva capacidade da Europa, mas condicionada à sua cooperação, seja qual for a fórmula por que esta se atinja - vêm somar-se argumentos dispersos, cada um com seu significado e influência, mas praticamente todos tendendo a impor o entendimento.

Dentro de cada um dos agrupamentos actuais levantam-se vozes autorizadas e agitam-se interesses poderosos no sentido da associação, em âmbito vasto: e apenas vale a pena referir as circunstâncias em que se vem desenvolvendo a ratificação do acordo de Estocolmo nos parlamentos de todos os Estados signatários, sem uma nota discordante a propósito da necessidade de trabalhar pela cooperação; como importa salientar a multiplicidade de declarações oficiais de entidades privadas nos países da Comunidade Europeia (com excepção frisante para a França), sempre defendendo as vantagens do entendimento, e afirmando a compatibilidade entre a obra de unificação dos «seis» e o progresso na cooperação com os restantes Estados do Ocidente que não queiram ou não possam empenhar-se em compromissos excessivos no plano da integração política.

For outro lado, tanto a assinatura da Convenção como a consolidação interna da Comunidade são factores que bem podem facilitar o acordo geral, na medida em que o primeiro acontecimento vem em apoio das correntes conciliadoras dentro dos países do Mercado Comum, e o último tende a anular os temores daqueles (Franceses sobretudo) que sempre têm, encarado as propostas de zona livre como uma astuta ameaça britânica contra o espírito de união europeia.