Dispensários e consultas-dispensário

Percentagem de novos casos de tuberculose pulmonar em relação aos novos examinados A profilaxia e terapêutica da lepra têm sido influenciadas, através dos séculos, por conceitos populares e pelo sentimento de horror que a doença sempre causou nos povos. Esse horror subsiste ainda hoje na recordação de certas histórias, mais ou menos dramáticas, dos tempos bíblicos e medievais.

A doença não é, porém, uma simples doença histórica característica de épocas (passadas), é, ainda hoje, um mal que deve ser Combatido e do qual estão atacados, em todo o mundo, mais de 5 milhões de pessoais, muito provavelmente mesmo o dobro deste número.

E se esta multidão de doentes existe actualmente, isso resulta, sobretudo, da ideia feita e aceite nos últimos séculos de que a lepra era flagelo que já não interessava combater, por se encontrar praticamente extinto.

A evolução da doença na Europa parecia, de facto, induzir e justificar, aquela confiança e o abandono de medidas de profilaxia que tinham sido mantidas com rigor até ao século XV. Estas medidas, que consistiam quase unicamente mo isolamento dos Leprosos, pois a terapêutica pouco além ia dos inofensivos caldos de víbora, produziram o seu resultado, e, por este motivo, ou, como pretendem outros, porque se tivesse verificado uma vacinação espontânea da população, o mal podia considerar-se desaparecido ao iniciar-se o século XVI.

O que se passou no resto da Europa sucedeu em Portugal, onde os doentes eram isolados em gafarias, que chegaram a ser em número de mais de 60, estabelecidas principalmente no litoral e no norte, protegidas, e dotadas pela generosidade dos nossos reis.

Também, entre nós, ao abrandamento das medidas de isolamento correspondeu, nos séculos XVI, XVII e XVIII, um aumento do número de casos de lepra, que, raros a princípio, já constituíam problema no século XIX.

Nos anos de 1800 existiam focos de lepra não só em países da África, do Oriente e da América Latina, mas também em vários países da Europa, incluindo Portugal.

Este recrudescimento veio mostrar a necessidade de se regressar ao sistema do isolamento, que a diminuição do número de casos e a crença, que entretanto se criara, da hereditariedade da doença, fizeram abandonar.

No fim do século XIX a descoberta do bacilo específico da lepra, confirmando o seu carácter contagioso, veio dar uma justificação de base científica aos defensores do isolamento como meio de proteger a população sã.

E o perigo começou desde então a ser denunciado: na Conferência de Berlim de 1898 e noutras conferências e congressos, como o de Estrasburgo, em 1923, o de Banguecoque, em 1930, e o de Manila, em 1931. Os organismos internacionais começam a interessar-se e a Sociedade das Nações cria uma Comissão da Lepra, encarregada de estudar as normas a seguir na luta contra o flagelo.

80. No nosso país, a gravidade que o problema começou a ter ditou as resoluções dos Congressos Nacional e Internacional de Medicina, realizados em Lisboa, respectivamente em 1898 e 1906, o primeiro dos quais emitiu o voto de «recomendar ao Governo a organização de estudo cuidadoso da lepra e do seu ensino, e a organização do censo dos leprosos e o estabelecimento de colónias agrícolas destes doentes, fundando-se, junto de cada colónia, os serviços clínicos em que se ensaiem todos os meios de combater a doença».