controle e tratamento dos casos não isolados, de suspeitos, dos comunicantes e

dos evadidos; internamento no preventório, quando necessário, dos filhos dos

contagiantes e educação sanitária.

Todas estas funções dos dispensários correspondem às que a nossa lei lhes

atribui.

Terá também de prestar-se cada vez mais atenção à recuperação social dos

leprosos, aumentando a actividade do centro respectivo, para o que, aliás, já

foi adquirida uma quinta no concelho de Tábua.

As cirurgias plástica e de recuperação devem ser usadas na maior escala

possível.

O rastreio e tratamento intenso dos doentes externos e a colaboração cada vez

mais estreita dos leprólogos com os médicos e autoridades sanitárias permitem

prever, com certo optimismo, a resolução não muito distante deste problema.

Na luta contra a lepra há, portanto, que prosseguir no caminho traçado em 1947. Por se poder confundir com a lepra e ainda com doenças do sistema nervoso,

cabe neste parecer breve referência à afecção heredofamiliar conhecida por

paramiloidose de tipo Corino de Andrade, por haver sido especialmente estudada

por este neurologista.

O principal foco situa-se nos arredores, do Porto.

Para coordenar os estudos pertinentes a esta doença, tanto no aspecto do seu

reflexo na saúde pública, como no da investigação científica, foi criado o Se bem que o sezonismo já fosse conhecido desde o século XVIII, deve-se a

Ricardo Jorge o primeiro plano da luta contra a endemia.

No relatório que, por incumbência do Ministro do Reino, elaborou, em 1903,

escreveu: «A questão do sezonismo é, como poucas, uma questão patriótica»,

porquanto «a infecção sezonal avulta entre as piores pragas colectivas que

flagelam a população portuguesa». Entretanto, acrescentou: «Ninguém o diria ao

atentar na resignada indiferença com que nos deixamos açoitar por ela, numa

passividade cobarde ou impotente, como se a malária fosse uma calamidade

inevitável e incoercível, das que ferem o homem desapiedadamente e sem remédio».

A resignada indiferença a que aludia Ricardo Jorge prolongou-se por cerca de

seis lustros, até que, em 1931, foi concedida a primeira dotação para o início

da campanha contra o sezonismo, a qual veio a desenvolver-se a partir de 1938,

com a criação dos serviços anti-sezonáticos.

Deste modo, quando, em 1943, foi enviada a esta Câmara a proposta relativa ao

Estatuto da Assistência Social, no parecer que então emitiu, o problema do

sezonismo foi posto com toda a clareza: «Não é o sezonismo das doenças de maior

letalidade no nosso país, mas é das que fazem perder mais dias de trabalho à

população rural e atingem mais fundo o organismo, depauperando os indivíduos e

definhando a raça».

Na verdade, como se lê naquele parecer desta Câmara, de 1931 a 1941 foram

tratados 94 450 indivíduos com mais de 15 anos atingidos pelas sezões, devendo

os mesmos, segundo cálculos internacionalmente estabelecidos, ter perdido 1 718

100 dias de trabalho, ou seja 18 dias de trabalho por indivíduo e por ano.

Ainda no referido parecer são comparadas as importâncias despendidas na luta com

as relativas aos salários recuperados, pois, com base nessa comparação, pode

avaliar-se o lucro que resultou para a economia nacional da campanha anti-

sezonática, lucro este extraordinariamente aumentado nos últimos anos.

Mas o referido número estava ainda aquém da realidade, visto que, com base nos

arquivos dos serviços de higiene rural e defesa anti-sezonática, se apuraram 253

388 casos nos anos de 1940 a 1945, o que corresponde, em média, a 50 000 por

ano.

E, como muitos deles não fossem registados nos serviços, o Prof. Cambournac

calculou em 70 000 o número de indivíduos impaludados em cada um dos referidos

anos.

Nos cinco anos referidos verificaram-se 2207 óbitos causados pelo sezonismo. O

número destes baixa de ano para ano: 248 em 1945, 168 em 1946, 83 em 1947, até

que o sezonismo acaba por desaparecer no nosso obituário.

Paralelamente, a morbilidade sofre lima baixa impressionante: nos anos de 1957 a

1960 verificaram-se, em média, 28 casos por ano, em vez dos 50 000 que, em

média, se registaram nos anos que antecederam a campanha.

Também os resultados obtidos contra o sezonismo permitiram rever a política do

condicionamento da cultura do arroz, passando esta a estender-se a zonas que

anteriormente lhe estavam vedadas.

Em 1945 produziram-se 44 483 t de arroz; dez anos depois, a produção subia para

178 816 t, passando a área cultivada de 13 100 ha para 38 704 ha.

O País, de um momento para o outro, passou de importador de arroz, sua posição

tradicional, para exportador.

A morbilidade por paludismo, nos últimos quinze anos, é dada pelo quadro

seguinte:

Fonte: Informação prestada pelos serviços de higiene rural e defesa anti-

sezonática.

88. Presentemente, a situação sanitária do País, no que respeita a esta endemia,

é bem diversa da descrita no parecer desta Câmara de 1943 sobre o estatuto em

vigor.

Mas isto não quer dizer que se possa repousar à sombra dos louros conquistados.

Não.

As zonas mais ou menos expostas ao reaparecimento, do sezonismo abrangem 36 234

km2 e são habitadas por cerca de 2 milhões de habitantes.

Provenientes do ultramar e de outras regiões onde o sezonismo ainda não foi

erradicado, entram no País