bordamentos das aguas fluviais são ainda os factos principaes que, mais duramente syntetisam as penosas consequências, que para o paiz provêem, da desarborisação das areias moveis do nosso litoral.

Esta descrição, burilada em estilo ao gosto da época, mostra-nos de forma bem viva a gravidade do problema, que, praticamente, só veio a ficar resolvido a norte do Tejo com o Plano de Povoamento Florestal de 1938.

Na verdade, pode ler-se no relatório do referido Plano que, depois de 1850, se assinalam;

em 1866, as sementeiras do pinhal do Pedrógão e as levadas a efeito nos pontos mais invadidos do pinhal do Urso, umas e outras de efémera duração, e, em 1876, as do Cabedelo, ao sul do Mondego.

De 1881 a 1891 iniciaram-se as de Camarido, Trafaria, Caparica, Lis, Vila Real de Santo António, S Jacinto, Gafanha, Lavos, Leirosa e Peniche.

Mas a crise de 1891 e o facto de se terem começado algumas sementeiras e plantações nas serras deram lugar a novo afrouxamento ou suspensão de trabalhos nas dunas, em virtude da carência de recursos, tendo prosseguido depois, de 1901 a 1927, na vigência do Decreto de 24 de Dezembro de 1901 e legislação complementar, Decreto de 23 de Maio de 1911 e da Lei n.º 1341, de 25 de Agosto de 1922.

ndependentemente dos ajustamentos de superfícies arborizadas, feitos em função de estudos mais pormenorizados do que hoje se dispõe, o Plano de Povoamento Florestal de 1938 apresentava a evolução dos trabalhos nas dunas desde 1950 até 1936, da seguinte forma:

Área arborizada até 1896 2 891,24

Área arborizada de 1927 a 1936 12 413,31

Total 23 350,33

A área a arborizada em 1936 era avaliada em 14 491 ha e, deduzindo a extensão revestida em 1937 e 1938, restavam 9860 ha, que constituíram a tarefa incluída no referido Plano. De qualquer modo a tarefa foi cumprida mas só a Lei n º 2069 tornou possível o início do estudo e arborização de grande parte das dunas situados a sul do Tejo que não estavam consideradas no Plano de 1938.

§ 2º

Aspectos particulares do plano em estudo. As dunas da Carrapateira representam um problema localizado e actual, em tudo semelhante ao problema nacional que, para outras épocas, ficou descrito.

Nu verdade, afirma-se no plano em estudo.

Nas áreas de aproveitamento agrícola confinantes com estas dunas são bem visíveis os efeitos destruidores das areias em constante movimento. Uma fina camada de areia cobre já extensas superfícies, os poços começam a atulhar-se e algumas propriedades encontram-se completamente abandonadas pelos proprietários.

É bem evidente que se não forem tomadas, com brevidade, as indispensáveis medidas nada mais restará, dentro em pouco, que extensos areais batidos pela forte ventania.

Também se pode ler no plano;

As caniçadas e os muros de piteiras, que pouco a pouco foram surgindo na vã esperança de dominar as dunas, estão completamente destruídos ou soterrados e algumas tentativas de arborização conduziram, como dissemos, aos mais catastróficos resultados.

Perante tais insucessos, a população local entrega-se a uma espécie de fatalismo pernicioso, descrendo da capacidade humana para deter o mal e chegando ao extremo de pôr em dúvida a viabilidade da própria arborização. Esta maneira de pensar filia-se, aliás, na ignorância em que se encontram as populações locais quanto às modernas técnicas florestais e vastos recursos da silvicultura actual.

Parece, portanto, bem evidente a necessidade de executar o plano de arborização das dunas da Carrapateira.

Exame na especialidade A Câmara reconhece as dificuldades que se oferecem aos trabalhos de arborização das dunas da Carrapateira e confia na larga experiência dos serviços em tarefas semelhantes. Fixou, no entanto, a sua atenção no propósito enunciado no plano, que parece viável do ponto de visto, técnico, de conjugar a finalidade da fixação das dunas com o embelezamento desta zona do litoral que apresenta possibilidades de aproveitamento turístico. Entende, portanto, que devem os serviços florestais explorar ao máximo essa possibilidade, ensaiando as técnicas que se apresentem como mais indicadas para o efeito.

Quanto ao ordenamento preconizado, não se oferece outro reparo além do que ficou referido e que se inspirou nas próprias palavras do plano. Sendo assim, não teria cabimento qualquer reparo a pormenores de estimativa orçamental. O custo da obra é superior a 5000$ por hectare beneficiado, o que o próprio plano considera avultado em virtude especialmente do custo das obras de defesa das plantações e sementeiras. Não se apresenta uma previsão de, rendimentos, mas não parece de exigir uma análise da reprodutividade deste investimento. A não execução do plano representaria, a prazo não muito longo, a perda de terrenos cultivados que a marcha das dunas ameaça, o que, decerto, tem maior valor. Sem a execução do presente plano, não parece também viável explorar as possibilidades turísticas do litoral, que representam, sem dúvida, uma reprodutividade mais vasta, capaz de se repercutir em diferentes sectores da economia.

III A Câmara Corporativa, tendo apreciado o bom critério e competência técnica que presidiram à elaboração do plano de arborização das dunas da Carrapateira é de parecer:

1.º Que o plano seja executado com os aperfeiçoamentos que lhe possam ser introduzidos para acentuar a finalidade de valorização de uma zona do litoral que tende a desempenhar crescente função no desenvolvimento do turismo,

2 º Que se proceda ao estudo da beneficiação de cerca da 5000 ha de dunas, quase totalmente situa-