mulher, que, como elemento dirigente ou executante, tanta influência tem no nosso campo.

O crescente êxodo rural, abrangendo normalmente os mais aptos pela sua preparação, vem trazer a este problema uma nova acuidade. Acuidade que tem o seu paralelismo com a necessidade de uma mais evoluída preparação e maiores conhecimentos em matéria económica, problema fundamental da agricultura de hoje.

Analisando o caso português, a consulta das estatísticas referentes à frequência dos vários graus de ensino agrícola, comparada com a dos outros ramos de escolaridade, permite conclusões que, se dispensam comentários, revelam bem a atenção que o problema requer. Atenção e urgência. Assim o compreendem vários países, entre os quais a nossa vizinha Espanha, onde, com uma população agrícola activa de 4 617 000, ou seja 39,7 por cento (1963), isto é, 3,3 superior à .de Portugal, se dispõe, especialmente no ensino elementar ou de formação profissional, de elevado número de escolas ou de cursos, a contrastar com o que se passa no País.

Às suas 28 escolas de capatazes, sensivelmente equivalentes às nossas três de Santo Tirso, Paia e Mirandela, corresponde a formação de 500 alunos por ano, quando entre nós não se chega à média de 50 (12 em 1961-1962)!

E .ª frequência de cursos vários, de «capacitação», etc., organizados pelos serviços do Estado ou pelas «herman-dades de labradores», abrange anualmente mais de 25 000 alunos, quando no nosso caso, fora os «cursos de aprendizagem .agrícola» nas escolas primárias, que em pouco excedem as 2000 frequências, aliás numa simples, se bem que sempre benéfica, iniciação, número aproximado só foi atingido em cerca de vinte anos. Daí, ser bem limitado, ainda, o número dos trabalhadores que beneficiam de cursos de especialização ou de renovação de conhecimentos.

Em França as escolas agrícolas passaram de 47 em 1960 para 115 este ano: 60 masculinas e ss femininas!

Entendem os que deve ser feita uma referência especial ao espectacular e para muitos imprevisto êxito dos cursos dos 46 centros fixos e ambulantes do serviço de extensão agrícola familiar, iniciados em 1959, promovidos pelaSecretaria de Estado da Agricultura, com o apoio da Fundação Gulbenkian, e de que já beneficiaram mais de 3 milhares de camponesas, número revelador da necessidade e do interesse da população feminina dos campos pela melhoria dos seus conhecimentos de técnica agrícola e de ordem doméstica, e que vieram reforçar e alargar algumas iniciativas, como a da Obra das Mães pela Educação Nacional, em especial.

Muito embora não constitua novidade, não deixa de ser flagrante a desproporção que se verifica entre nós quanto aos vários- graus de ensino, em relação ao agrícola (média anual), referente aos anos escolares de 1957-1958 e 1961-1962. Assim:

No mesmo período, os números absolutos do nosso ensino traduzem-se por:

Ensino elementar Escolas práticas de agricultura : Santo Tirso, Paia e Mirandela ....... 350 49

Ensino médio Escolas de regentes agrícolas: Coimbra, Santarém e Évora. ........... 578 80

Se se considerar o ensino superior ministrado nas Universidades clássicas e noutras escolas, teremos:

Dos 2133 alunos que concluíram um curso superior, 58 são engenheiros agrónomos e silvicultores e médicos veterinários; isto é, não chegam a 3 por cento os diplomados nas profissões agrícolas.

Nos cursos médios, aos 140 formados pelos institutos comerciais e industriais há a juntar os 80 regentes agrícolas e aos 13 942 diplomados pelas escolas comerciais e industriais devem opor-se os 49 das escolas de Paia, Santo Tirso e Mirandela!

A situação é de tal modo flagrante que dispensa quaisquer outros comentários. Se nos lembrarmos, porém, de que os vários problemas da mecanização, da rega e de administração exigem, entre outros, uma forte percentagem de mão-de-obra suficientemente preparada, encontra-se aqui, certamente, um dos grandes entraves ao progresso da nossa agricultura.

Se se pensar que o trabalho de um agricultor francês, com a ajuda de duas ou três horas por dia da mulher, permite alimentar 21 pessoas, quando em 1900 não ia além de 6, bem se pode avaliar da eficiência e necessidade da preparação profissional.

Agricultura de auto-suficiência, propriedades de recreio ou de entretenimento, não entram, hoje em dia, no ciclo das economias agrícolas. Subsistirão ainda, felizmente, para dar satisfação a tantos amadores e apaixonados pelas coisas da terra, para quem. os problemas de interesse material são secundários. Não são estes, porém, os que constituem a exploração agrícola ao nível rentável e como expressão económica válida. Esta terá, mau grado toda a rudeza da afirmação, de se libertar de tudo quanto de belo as práticas agrícolas têm amorosa e humanamente conservado, para se incorporar no ciclo das grandes actividades económicas no «sentido industrial» de uma exploração que, não obstante todos os inconvenientes, não está inteiramente sob a alçada da vontade humana e tem

de conservar aquelas incógnitas inerentes aos seres vivos./

7. Em 1960, definiu-se assim a evolução dos problemas «agricultura mundo rural», considerados inseparáveis (*):

ÏÍ evidente que na nossa época a agricultura tem de ser considerada por forma totalmente diferente do passado, o que exige uma preparação profissional em