Com a dimensão das explorações abordámos um dos problemas mais delicados, porque se parte do princípio que houve uma escolha política e filosófica. A Europa do Oeste parece ter escolhido a exploração familiar. O futuro nos dirá se esta estrutura poderá resistir em presença da grande exploração capitalista ou das fórmulas comunitárias. No estado actual dos nossos conhecimentos pode dizer-se que nenhuma das experiências conhecidas é de plena satisfação. Isto sem dúvida porque nenhuma delas resolveu o problema da tensão indústria-agricultura, que se exerce simultâneamente nos domínios técnicos, económicos, financeiros e sociais. Torna-se necessário considerar amanhã de que maneira todas as explorações agrícolas, e as das regiões de desenvolvimento em particular, que devem estar à testa do progresso, poderão sustentar a velocidade tomada pela indústria em todos os domínios.

A mesma publicação, ao estudar aspectos da agricultura na Alemanha em confronto com a agricultura francesa, esclarece:

Os agricultores que abandonam a terra têm numerosas possibilidades de se colocar na indústria mesmo sem mudar de região. A presença da indústria permite manter por toda a parte uma densidade de população elevada, mau grado o êxodo rural.

A situação é, portanto, bem diferente das numerosas regiões francesas exclusivamente agrícolas, já muito despovoadas, para as quais a necessária reforma das estruturas arrisca provocar uma nova regressão da população, levando a esvaziar as regiões de toda a vida económica e social. Isto mostra bem que as soluções dos problemas agrícolas não dependem ùnicamente da agricultura e que devem necessàriamente inscrever-se numa concepção de conjunto de equipamento do território.

Na Dinamarca, cujo equilíbrio técnico-económico justifica a sua florescente agricultura, escreveu-se não há muito tempo:

De facto, o sistema de agricultura da Dinamarca, baseado até hoje na pequena propriedade, vai passar por uma reforma completa, desaparecendo 10 000 das 30 000 propriedades rurais que actualmente existem. O Ministro da Agricultura pretende desse modo que as herdades com menos de 3 ha desapareçam, dando lugar a propriedades com 5 ha de boa terra e 7 ha de terra inferior, por família.

Por sua vez, o Ministro da Agricultura Pisani disse recentemente que, em França, na maioria dos casos, uma exploração de 8 ha a 10 ha com diversas culturas e sem especialização não permite que dela viva uma família de agricultores.

Voltando à vizinha Espanha, "laboratório" trabalhando em grande ritmo no sector agrícola e que sob tantos pontos de vista nos interessa acompanhar cuidadosamente, o êxito espectacular da "concentração parcelar", emparcelamento, também de interesse directo e indispensável como prólogo à "agricultura de grupo", ou outras formas de associação das explorações agrícolas, levou a ter de se considerar como indispensável um estádio mais avançado, o do "ordenamento rural", que consiste "na ciência de uma melhor vida no campo e deve reunir num

todo e coordenar uma série de problemas e de técnicas até aqui estudadas em separado e que, por isso mesmo, não podiam esses problemas, no estado actual das coisas, receber soluções nem aplicações satisfatórias" e assim actuar como embrião em zonas limitadas dos planos mais vastos do desenvolvimento regional. Para D. Ramon Beneyto, director do Serviço Nacional de Concentración Parcelaria y Ordenación Rural (1962), tem de se considerar em conjunto (1): Ordenamento da propriedade da terra, ordenamento agrário e ordenamento rural em sentido restrito, com os seus aspectos agronómicos, jurídicos e sociais;

2) Equilíbrio agro-industrial;

3) Concentração municipal e desenvolvimento das cabeças de comarca;

4) Dotação local em equipas culturais, escolares, sanitárias e sociais;

6) Embelezamento dos lugares e cuidado com a paisagem natural.

Entretanto, como se disse, o emparcelamento em Espanha tem tido um êxito espectacular. Em 1963, o balanço de dez anos de trabalho era o seguinte:

Proprietários que intervieram na concentração ............. 74 789

Parcelas, por proprietário, antes da concentração ......... 14,08

Propriedades, por proprietário, resultantes da concentração 1,09

Superfície média por parcela:

As operações em curso estendiam-se por 1338 povos e em 2 052 400 ha de 31 províncias.

Beneyto, bom conhecedor da fácies agro-social espanhola e dos resultados das operações em curso, conclui que: O minimifúndio é o mais grave freio da economia agrícola espanhola. É preciso concentrar com urgência 53 milhões de parcelas, cuja área média é de 25 a, que ocupam uma superfície de 13 milhões de hectares e são propriedade de 5 milhões de pessoas;

b) As grandes propriedades não exercem função perturbadora desde que os proprietários esgotem as possibilidades teóricas da utilização das suas terras e que utilizem um e todos os meios técnicos que as suas dimensões o permitam.

As características gerais da propriedade da terra em Espanha que impedem o seu máximo rendimento e a devida organização das empresas agrárias são o não aproveitamento de todas as suas possibilidades e a desordem, anarquia e clandestinidade jurídica, que impedem a capitalização do campo e o desenvolvimento da sua riqueza, através de explorações que hão-de melhorar-se e incrementar-se, como a ganadaria e indústrias derivadas.