A revisão do preço de pasta de papel no mercado interno deverá ter em conta os problemas políticos relacionados, bem como o facto de o mercado interno consumir apenas cerca de 30 % da produção;

iii) Deverá ser criada uma empresa que centralize a exportação de pastas de papel de fabrico nacional, a partir da actividade da «Comissão Coordenadora de Vendas» acima sugerida. A exportação da produção da Celnorte deverá também fazer-se através desta empresa, pelo que terá de ser revisto o seu contrato de comercialização com a empresa norte-americana «Central National» (aliás, amplamente desfavorável aos interesses nacionais).

Comunicado de oito mil trabalhadoras das madeiras da região de Castelo Branco:

Chegou-nos às mãos mais um panfleto distribuído em Castelo Branco, com o cabeçalho do «Partido Comunista Português», transcrevendo, ao que parece, uma intervenção de um Deputado comunista na Assembleia Constituinte, sobre o caso «Celulose do Tejo».

Não somos nenhum partido. Não nos vendemos. Somos oito mil trabalhadores da exploração florestal da região. Temos a nossa actividade dirigida para a Fábrica de Celulose do Tejo. E não podemos continuar a admitir que se façam impunemente afirmações demagógicas, como as que foram vomitadas nesse panfleto, mostrando uma total ausência de conhecimento do facto.

Todos sabemos que na Celulose do Tejo existem duas categorias de pessoas: os trabalhadores, que são a maioria, e os pseudotrabalhadores que são uma dúzia de tarados políticos, escravos partidários, parasitas destruidores, que mais não têm feito do que lutar contra os interesses dos verdadeiros trabalhadores, da economia regional e da Nação.

Todos sabemos que são da sua responsabilidade:

1.º Manipulação por meio coercivo dos trabalhadores da fábrica, desviando-se dos verdadeiros interesses;

2.º Afastamento dos melhores técnicos e trabalhadores mais experientes da fábrica;

3.º Afastamento de uma administração que era a garantia de investimento, dinamização, criação de postos de trabalho e melhoria do nível de vida regional;

4.º Destruição do património da fábrica;

S.º Arrastamento para uma situação de paralisação da fábrica, da economia da região e da actividade de oito mil trabalhadores das madeiras, duas centenas e meia de camiões e dezenas de tractores;

ó.º Diminuição da produção anual da fábrica para menos de metade.

Temos que sentir repulsa e nojo por afirmações contidas nesse panfleto no respeitante ao aumento de produção. Não permitiremos que se continuem a distribuir demagogias, enquanto cada dia que passa são 270 t de pasta que ficam por fabricar, ou sejam 8000 por mês. Há quantos meses a fábrica não produz um quilo? E há quantos meses a fábrica não recebe madeiras? E há quantos meses nós, os oito mil, vivemos com o fantasma do desemprego e da fome? E há quantos meses estão a estragar-se toneladas de madeira, produto do nosso trabalho? E por quantos meses mais é que essa dúzia de parasitas destruidores espera manter esta situação?

Quando se afirma que a empresa arruinada pelos capitalistas foi recuperada à custa do esforço e do sacrifício dos trabalhadores, resta-nos perguntar a essa dúzia de mentecaptos, ao Deputado ou a esse partido:

Onde estão os quase 100 000 contos que os tais «capitalistas» deixaram na fábrica?

Onde está o produto do esforço e do sacrifício dos trabalhadores da fábrica desde que afastaram os tais «capitalistas»?

Será que se dinamizou alguma coisa transformando a fábrica em local de jogo e desporto?

Nós somos oito mil trabalhadores, com a força do nosso trabalho, de seis dias por semana, de quatro semanas por mês, de doze meses por ano; com a força de duas centenas e meia de camiões e dezenas de tractores; com a força da dureza do nosso trabalho; com a força que nos exige a subsistência de oito mil famílias.

Não estamos mais em condições de pedir nada a ninguém. Estamos em condições de exigir - exigir com toda a nossa força:

Exigimos que a fábrica da Celulose do Tejo produza;

Exigimos que o produto do nosso trabalho seja posto ao serviço de nós todos, ao serviço da economia da região, ao serviço da Nação e não ao serviço de uma dúzia de parasitas;

Exigimos o afastamento imediato dos pseudotrabalhadores, destruidores profissionais, vendidos ao serviço de causas que nos são alheias, inimigos do povo português;

Exigimos que a nossa vontade de trabalho, de progresso social, de desenvolvimento económico, de construção de um Portugal melhor, não tenha de t ranspor obstáculos postas no nosso caminho por uma dúzia de incompetentes, falhados, cujo fim ë apenas a destruição;

Exigimos que a palavra que temos a dizer em relação ao futuro da fábrica, que é o nosso, que é o da economia florestal da região, seja ouvida com toda a força que temos;

Exigimos que os técnicos e trabalhadores até aqui selvaticamente afastados sejam imediatamente postos ao serviço da fábrica e portanto ao nosso serviço e ao serviço do progresso económico da região;

Exigimos que a direcção da fábrica seja imediatamente restituída à legítima administração, pois só com ela poderemos sair desta situação de paralisação, destruição, desemprego e caos, para o que essa dúzia de parasitas destruidores nos tem arrastado.

Não haverá obstáculo suficientemente grande para isolar toda a força da nossa razão.

Esta é a nossa luta. Ela já começou e irá até às últimas consequências se necessário for.

Aos trabalhadores da fábrica resta optar por continuarem a ser enganados e arrastados por essa dúzia de parasitas inimigos dos trabalhadores ou tomarem