Todos, mesmo os da retaguarda, cujas responsabilidades são imensas, desde os chefes aos de menor graduação, estão cansados de preocupações e trabalhos, sem o merecido repouso.

Todavia, não deixarão de cumprir o seu dever escrupulosa, abnegada e determinadamente, custe o que custar, até que uma verdadeira paz triunfe finalmente.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Confesso que me entristece serem raras as vezes que aqui se referem as forças armadas com o respeito e apreço que merecem.

Estou perfeitamente à vontade para pôr esta questão, porque estou a menos de um mês da passagem à reserva e por isso não se reflectiriam sobre mim as apreciações elogiosas que lhes fossem feitas. De resto, eu fui um dos mais modestos dos seus componentes.

Mas não ficaria bem com a minha consciência se aqui não deixasse este apontamento, que é, antes, um sentido desabafo.

Julgo que temos de ser práticos e realistas. Custando à metrópole à roda de 25 por cento das receitas totais o encargo com as forças extraordinárias destinadas à defesa do ultramar e sendo as despesas militares totais uns 41 por cento daquelas receitas, as quais estão longe de corresponder às de que dispõem os países europeus industrializados de populações e extensão territorial semelhantes, ou até menores que as da nossa metrópole, como poderemos evitar medidas que, sem equivalerem à tal economia de guerra que também contestamos, têm de ser austeras, ponderadas, e combater desperdícios de qualquer espécie?

É imperioso que o progresso económico do País se processe no ritmo mais célere que os recursos financeiros e técnicos permitam, dentro dos tremendos condicionalismos existentes, sem agravar excessivamente a dívida pública, elevando-a para encargos incomportáveis. Necessariamente que todos compreendemos que os grandes empreendimentos económicos em que o Estado deva ou tenha de participar terão de executar-se mediante empréstimos a longo prazo, que onerarão mais de uma geração. Todo o resto, porém, e que é muito, sendo as despesas militares tão elevadas, como pode ser devidamente financiado?

Pois, só reduzindo despesas não essenciais ao estritamente indispensável, elevando receitas dentro de um critério de justiça social incontroverso e criando no Pata uma mentalidade e compreensão apropriadas para suportar algumas restrições, o que eu chamei um mínimo de «clima de guerra», por não encontrar expressão que melhor defina a mentalização que se impõe, apesar de todos sabermos que Portugal não está em guerra com qualquer país, se bem que alguns procedam como seus verdadeiros inimigos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Não sou, nem podia ser, partidário de uma economia de guerra, porque isso seria parar o desenvolvimento económico, e parar nesta altura seria morrer; mas sou, sim, partidário e defensor acérrimo de uma política de austeridade que permita ao Governo encontrar os recursos para atingir as metas que definiu na Lei de Meios e nos objectivos a alcançar pelo III Plano de Fomento, sem deixar de dar prioridade às despesas com a defesa do ultramar.

Quanto ao segundo ponto:

Eu disse que éramos hoje uma grande nação, classificando o País em extensão territorial e população na ordem mundial e lembrando que a diversidade, complementaridade e potencialidades das parcelas do todo português não deveriam ser esquecidas, antes atribuir-se-lhes a relevância que merecem.

Não disse, porque constituiria heresia ou ignorância crassa, que éramos um país rico. Temos em potência tudo o que é necessário para vir a sê-lo, precisando, contudo, de envidar todos os esforços para resolver o problema africano, a fim de trabalharmos em paz e elevar o nível de vida para recuperar, pelo menos, a massa mais válida dos compatriotas que emigraram para o estrangeiro em busca de melhores condições materiais.

Trabalhos ciclópicos desde logo, mas que têm de ser equacionados, decididos e executados.

Inimigo confesso do pessimismo, vendo nele e nos derrotistas a erva daninha capaz de asfixiar esta Pátria cheia de nobilíssimas tradições, que quer e há-de continuar a viver livre e honrada, tenho no futuro uma fé ardente e confio, com serenidade, em que grandes e aliciantes dias nos esperam. Para tanto precisamos, acima tudo, de ordem, trabalho, determinação e fé!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

tirando-lhes a possibilidade de se apresentarem ao exame de aptidão às Universidades.

Não queremos aqui, de forma nenhuma, pôr em relevo as enormes desvantagens do exame, porque isso seria assunto para uma exposição de muitas horas. Pedagogos de renome se têm debruçado sobre tão complexo problema, que, na sua opinião e com um sistema ideal de ensino, se resumiria a uma pura e total supressão do sistema.

Todos nós sabemos que os examinandos são classificados por uma prova de hora e meia ou de duas horas, a maior parte das vezes debaixo de uma tensão nervosa e de uma angústia, tão frequente até nos alunos bem preparados.

Há por esse País fora, e até pelo ultramar, algumas dezenas de estudantes nessas condições, para quem a perda de um ano não representa apenas um prejuízo material. Para alguns, a perda desse ano pode representar a frustração dos seus ideais ou a tendência para se desviarem do programa de um futuro que consciente e entusiasticamente haviam traçado. Só quem com eles lida diariamente e os ouve a todo o momento sabe e sente das suas aspirações e dos seus anseios.

Em Janeiro próximo é permitida uma terceira época de exames, quer nos liceus, quer nas Universidades, aos militares em serviço nas forças armadas. Por que não incluir