de deixar as suas elevadas funções, por força de disposição da lei.
Refiro-me ao almirante Armando Roboredo e Silva, que, durante vários anos, e em circunstâncias extremamente delicadas e difíceis, foi o chefe do Estado-Maior da Armada, em cujo cargo desenvolveu uma acção, que se pode e deve considerar notável e que foi devidamente realçada num expressivo louvor que S. Ex.ª o Ministro dia Marinha lhe concedeu.
Marinheiro por vocação e pelo coração, impôs-se à consideração do País pelas suas virtudes cívicas e pelas suas excepcionais qualidades de militar, distinguindo-se, entre outras missões, na renovação da nossa marinha de guerra; na inspiração e execução das forças dos fuzileiros, para defender os sagrados territórios de aquém e além-mar; na reorganização do Estado-Maior da Armada, de modo a dotá-lo com os meios necessários às tarefas impostas pelos compromissos assumidos pelo País internacionalmente, quer no seio da N. A. T. O., quer junto das nações a q ue sempre nos ligaram fraternais laços de amizade.
Meu querido colega doa tempos de escola, companheiro de sempre na muna que abraçámos, não posso deixar passar este momento sem expressar a minha maior admiração e apreço pela conduta de ião distinto oficial, que teve desde o princípio da sua carreira a vida intimamente ligada ao ultramar português, de cujos problemas teve sempre profundo e directo conhecimento. Na defesa daqueles nossos territórios, o almirante Roboredo e Silva pôs sempre todo o seu entusiasmo e devoção, servindo assim incondicionalmente como português da primeira linha.
Vozes: - Muito bem!
O Orador: - Pelos seus dotes de carácter, inteligência e trabalho, o almirante Roboredo e Silva granjeou sempre o respeito e admiração dos seus superiores, camaradas e subordinados, impondo-se à consideração do País pelas suas excepcionais virtudes, consagradas pela honrosa presença do venerando Chefe do Estado no jantar de despedida e de homenagem ao oficial general que, na presente legislatura, temos por nosso par na Assembleia Nacional.
O almirante Roboredo e Silva vai continuar a servir Portugal com aquela mesma devoção e entusiasmo que sempre lhe conhecemos. Da sua fulgurante inteligência e invulgar capacidade de trabalho muito tem a beneficiar o País, que não pode dispensar do seu activo político-social um homem de tanto valor.
Vozes: - Muito bem, muito bem!
O orador foi cumprimentado.
O Sr. Oliveira Dias: - O dia primeiro do ano foi mais uma vez Dia da Paz. A iniciativa de tal celebração deve-se ao Papa Paulo VI, e a data escolhida recorda à humanidade que vemos envolta em ódios e guerras - que a paz é, segundo expressão do mesmo Papa na sua mensagem deste ano, «o princípio e o fim do desenvolvimento da sociedade humana».
Somos «homens desejosos de paz», como há pouco disse o Sr. Prof. Marcelo Caetano, e, porque a paz é de facto anseio profundo do povo português, sinto-me no dever de o recordar nesta oportunidade e nesta Assembleia, prestando ao mesmo tempo singela homenagem e esforço constante do Papa na luta pela paz no Mundo.
Ao instituir o Dia da Paz, Paulo VI recordou:
Não se pode falar de paz, legìtimamente, quando não são reconhecidos e respeitados os seus sólidos fundamentos: a sinceridade, ou seja a justiça e o
amor, tanto nas relações entre os estados, como no âmbito de cada nação, entre os cidadãos e entre estes e os governantes. Depois a liberdade dos indivíduos e dos povos, em todas as suais expressões, cívicas, culturais, morais e religiosas.
Mas também, advertiu:
... a exaltação do ideal da paz não seja entendida como um favorecer a ignávia daqueles que têm medo de dedicar a vida ao serviço da própria Pátria e dos próprios irmãos, quando se acham empenhados na defesa da justiça e da liberdade.
Muita matéria de reflexão se pode extrair destas afirmações, e bom é que o façamos.
Desde há quase nove anos que sofremos um conflito armado em três das nossas províncias ultramarinas, mas não desejamos a guerra, antes amainas ardentemente a paz.
Não vacilaremos nu defesa dos nossos irmãos, mas temos consciência de que devemos procurar empenhadamente a promoção da paz.
O Sr. Presidente do Conselho, em afirmações feitas aquando da visita à Guiné, depois de lembrar que «a paz é condição essencial de progresso», afirmou:
Temos de conquistar a paz.
Ora, para conquistar ia paz não basta lutar pelas armas. É preciso lutar, sobretudo, pelo cada vez mais acelerado desenvolvimento de terras e gentes no caminho seguro da sua crescente autonomia, que não significa separação. «Desenvolvimento é o novo nome da paz!»
A paz conquista-se através do aperfeiçoamento constante das instituições, na justiça, no amor e na liberdade.
A paz conquista-se no respeito dos direitos da pessoa humana, na ausência de qualquer espécie de discriminação, na promoção da saúde e bem-estar das populações, no seu acesso aos bens da educação, da instrução e da cultura, na crescente participação dos indivíduos nas responsabilidades sócio-político-económicas da vida das comunidades locais. «Temos de conquistar a paz!»
Mas, se queremos conquista duradoura, não podemos esquecer que a paz só ganhará raízes fundas se soubermos criar um «espírito novo» nos indivíduos, nas famílias, entre os povos - especialmente na juventude -, de compreen são, de amor, justiça e tolerância. Por isso o Papa nos fala em «educação para a paz», recordando que «a paz começa no interior dos corações».
Ao assumir as funções dei Presidente do Conselho, o Sr. Prof. Marcelo Caetano afirmou - e não o esqueçamos - não querer «ver os Portugueses divididos entre si como inimigos» e que «gostaria que se fosso generalizando um espírito de convivência em que a recíproca tolerância das ideias desfizesse ódios e malquerenças».