lhetes e das assinaturas, bem como nos horários dos comboios, a praticar em 1970.

Ninguém, honestamente, poderá deixar, de reconhecer que a elevação dos custos de transporte, e nomeadamente da sua parcela salarial e encargos sociais, haja de determinar ajustamentos do preço dos serviços prestados, sempre que o acréscimo de produtividade conseguido pela modernização do equipamento e outros factores fique aquém dos referidos agravamentos de custo.

Sendo assim, ter-se-á de aceitar, como única solução económica e financeiramente viável para a empresa, o aumento das tarifas, até mesmo porque, tratando-se de uma empresa privada, não pode recorrer à fonte graciosa do Estado para cobertura dos seus deficits...

As tarifas actuais suportaram apenas um agravamento de 15,5 por cento nos últimos quatro anos. São as mais baixas do País e não são do nosso conhecimento quaisquer tarifas de transportes suburbanos tão baixas como as da linha de Cascais.

Quer isto dizer que toda a receita proveniente do tráfego da linha é inteiramente absorvida pelas despesas de exploração e pelas despesas de 1.º estabelecimento.

Todos os investimentos que fizermos terão de estar amortizados dentro dos dez anos que faltam para o termo do arrendamento.

A fórmula que nos parece mais viável para resolver o problema será a de um ligeiro aumento de tarifas, da ordem dos 25 por cento.

Não se desconhece que qualquer aumento de tarifas, qualquer que seja a sua natureza, provoca certa reacção por parte dos seus utentes.

Haverá que ponderar se a reacção é justa ou não justa. Sabemos que não seria justa a reacção ao aumento de tarifas superiormente solicitado para fazer face ao pesado encargo que temos de suportar devido ao desenvolvimento do tráfego na linha de Cascais e para cobrir o encargo com o necessário aumento de salários do nosso pessoal.

Confiamos, portanto, no justo deferimento do pedido superiormente apresentado e [...] saberemos aplicá-lo na necessária melhoria do serviço público que nos está confiado.

Do relatório, balanço e contas da Sociedade Estoril relativo ao ano imediato (1967) se transcreve:

Não nos foi consentido o aumento de tarifas de 25 por cento que tínhamos previsto. Ficou em 20,5 por cento [...].

Relativamente a 1926, os nossos preços apresentam agora um aumento médio de 29 por cento. Cada vez estão mais distantes dos restantes preços de transporte do País e não conhecemos, em qualquer parte do Mundo preços de transportes ferroviários suburbanos tão baixos como os da linha de Cascais, mesmo tendo em conta a relatividade do custo de vida.

O aumento de tarifas foi-nos superiormente autorizado, após laboriosos e demorados estudos e ensaios atinentes a que esse aumento cobrisse apenas a encomenda de novo material circulante e mais investimentos necessários por causa do crescimento do tráfego de passageiros e melhoria dos vencimentos e reformas dos nossos agentes.

Logo, portanto, que foi concedido o aumento das tarifas, estávamos constituídos ma obrigação de firmar a encomenda do material ferroviário.

E acrescentaremos, nós:

Pena é que essa encomenda tivesse acabado por vir a ser firmada com empresas estrangeiras, desaproveitando a capacidade de trabalho ou não valorizando a necessidade de expansão da indústria nacional, muito embora haja de acordar-se que a diferença dos preços propostos e as mais vantajosas condições de pagamento recomendariam a primeira solução para os interesses da empresa transportadora em causa. Mas pode e deve lamentar-se que, por parte dos responsáveis da gestão da coisa pública como da administração da empresa nacional concorrente, mão houvesse sido possível encontrar soluções que permitissem resolver, a bem da indústria nacional, uma encomenda de 107 000 contos.

O aumento da receita provém da elevação das tarifas (a já referida de 20,5 por cento em média, que passou a vigorar desde, Outubro de 1967).

Como reconhece o relatório, a receita das passageiros situa-se aquém dos cálculos feitos quando se estudou a tarifa actualmente (entende-se, na altura) praticada, talvez porque, se não haja entrado em linha de conta com a quebra do tráfego que o relatório registou e seria, aliás, fácil de prever.

Pode isto significar - no caso de a rentabilidade dos capitais investidos pela empresa se situar aquém da alcançada no mercado livre, de capitais em condições de risco similares - que a actualização de tarifas se impunha há já alguns anos e não deveria ter sido concentrada praticamente nestes últimos... apenas por recentemente ter encontrado, da parte da administração pública, aquela "luz verde que é sinónimo de "caminho desimpedido" para o progresso das tarifas.

Mas há aumentos... e aumentos, actualizações de tarifas... e actualizações. Algumas processam-se com "conta, peso e medida", outras excedem o que de razoável seria de esperar, principalmente se se tiver em conta o desejo manifestado pelo Governo ainda bem recentemente (proposta de lei de autorização das receitas e despesas para 1970) de que "a política económica, fiscal e orçamental durante o ano de 1970 deve procurar:

b) Contrariar as tendências de subida das preços.

Ora, quer-nos parecer que aumentos da ordem das 80, 100 por cento e mais em algumas assinaturas, como alguns dos agora alcançados, excedem um pouco os habituais de simples actualização de tarifas e assinaturas.

Pena é que tal tenha acontecido por esta forma, não podendo dizer-se que o Ministério das Comunicações, ermo departamento individualizado da administração pública, se despede em beleza na última remodelação ministerial do público lisboeta e "da linha", bem provados que ficaram por alguns, assaz acentuados, agravamentos de tarifas de transportes colectivos na região de Lisboa.

Oxalá que este andar tão apressado se não repita breve e frequentemente, para que se não tenha na linha de Cascais, a curto trecho, "os mais ciaras transportes suburbanas do Mundo". Estes... os votos que formulamos no raiar da década de 70.