Mas não se limitam apenas a questões de tarifas as reclamações formuladas pelo público utente.

Também os horários - depois que foram conhecidos, e algo tardou ... - parecem ter deixado a desejam. Mas aí a empresa foi mais célebre a propor alteração, e novo horário veio a ser publicado quinze dias depois de o anterior ter entrado em função. Novo se encontra prometido para quando forem recebidas as novas carruagens encomendadas, mas esperamos que, quer um, quer outro, satisfaçam melhor as aspirações da maioria dos utentes do que o do anterior... a avaliar até pela pronta, alteração.

A agravar a situação também o mar entrou de "pregar partida", danificando a "muralha" e uma das vias na martirizada zona da Gibalta.

Os transtornos causados, os contratempos, a frequência com que tais acidentes se repetem em dias de maior maré, já deveriam ter feito conceber uma outra protecção ou perfil para a muralha dita "protectora" da linha de Cascais, no troço da Gibalta. E se,

encanto - ou não fosse ela a adaptação de um velho convento a habitação -, aí construiu poemas, deu corpo e alma a dramas, riscou romances, tendo como fundo de cenário, no dizer do poeta, os altos ciprestes, que em frente mostram os céus como dedos apontados

Da janela do seu quarto de meditação, o seu olhar espraiava-se pelo Alentejo, que convidava o génio às vitórias do pensamento.

Amou o povo na rudeza das suas manifestações humanas e artísticas.

Buscou compreendê-lo e conseguiu-o, ao deixar-se dominar pela arte popular, que tão amorosamente recolheu na sua casa.

E esta foi a sua outra paixão alentejana.

Depressa se fez coleccionador culto, sabedor, consciente, dedicado, respeitador da arte popular, permitindo desta forma que a cidade de Portalegre enriquecesse o seu património artístico com a colecção, que em certa medida, legou à Câmara.

Estaria pouco a propósito, Sr. Presidente e Srs. Deputados, alongar-me neste momento em considerações desta ordem, ainda que reais e válidas da vida do grande poeta, do homem simples e bondoso que se implantara na história da cidade.

O meu desejo é apenas o de evidenciar quanto Portalegre se orgulhou e continuará a orgulhar-se pelos tempos fora de ter sido o abrigo acolhedor de um poeta e de um escritor cuja fama ultrapassou as fronteiras de Portugal! e se projectou na literatura universal do nosso século, porque o seu nome ficou inscrito em letras de ouro nas páginas das grandes literaturas.

E Portalegre sabe reconhecê-lo.

O Sr. Veiga de Macedo: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faça favor.

O Sr. Veiga de Macedo: - Ainda bem que nesta Casa se evoca, com palavras trespassadas de justiça e de emoção, a memória de José Régio e se presta eloquente homenagem à preclara figura de intelectual de eleição e à sua multímoda obra de poeta, de prosador, de educador.

Este meu sentimento não nasceu agora, andava já no meu coração. Há bem pouco chegou-me às mãos, com as palavras de uma honrosa e generosa dedicatória do autor, o último livro de Álvaro Ribeiro, esse extraordinário pensador que da vida tem feito sacerdócio todo votado à cultura, à "restauração do perene significado da filosofia" e à "demonstração de que existe uma filosofia portuguesa e, mais ainda, de que existe um modo português de filosofar".

Deixai-me ler, de modo a ficarem bem registadas, como merecem, na nossa inteligência e na nossa sensibilidade, estas afirmações da carta que acompanhou esse livro admirável, intitulado precisamente A Literatura de José Régio:

Por este mesmo correio, tenho o gosto de oferecer a V. Ex.ª um exemplar do meu livro A Literatura de José Régio.

Poeta de alta estirpe intelectual, José Régio foi já comparado a Camões. Morreu, e creio que nenhum funcionário representativo do Estado compareceu no funeral, aliás religioso. Em vida não foi mais do que um modesto professor liceal; em espírito uma glória da Pátria e |um fervoroso Servidor de Deus.

Álvaro Ribeiro tem razão, e é sob a impressão forte das suas palavras que ousei pedir licença para interromper a voz autorizada do ilustre Deputado que é a do professor Silva Mendes, velho amigo dos tempos, para mim inesquecíveis, da campanha de educação popular em que pudemos, um e outro, e muitos, muitíssimos mais, trabalhar pela expansão do ensino e pela ascensão cultural do povo português. Não podia de modo algum - agora que estou a retomar contacto com o pensamento e a arte