Noutra zona da semi, conhecida por "Penhas Douradas", há uma pousada, mandada construir há muito tempo pelo Secretariado Nacional da Informação, Cultura Popular e Turismo, constituindo estas três unidades a infra-estrutura hoteleira actualmente existente.

Conheço, na primeira destas zonas, locais onde se podem desfrutar paisagens maravilhosas, abrangendo horizontes vastíssimos o de extraordinária policromia, desde o oceano Atlântico e o casario de algumas das nossas praias do litoral oeste até à nossa vizinha Espanha, com as serras do sistema Luso-Castelhano.

Monfortinho, Belmonte, com o seu castelo evocativo dos Cabrais; a formosa serra da Gardunha; toda a Cova da Beira, com os seus pomares e outras culturas- hortícolas; o rio Zêzere, de traçado serpenteante; a cidade da Covilhã, com ias suas casas e as suas fábricas - todos estes pormenores podem ser apreciados em certos miradouros, alguns dos quais, como é próprio de uma região turística ainda desaproveitada, só diziam as revistas francesas, deixaram Paris com destino às estações de Inverno 600 000 parisienses! Nesse período organizaram-se 2200 comboios especiais".

E concluía da seguinte forma a sua observação:

A saturação dag estações é a regra, sobretudo nas épocas de ponta. O desportista ou o amante do espectáculo da neve determina-se, na escolha do local da sua vilegiatura, já não tanto pelas suas preferências, mas muito pela maior probabilidade de conseguir alojamento.

Também no nosso país a neve constitui já cartaz turístico, apesar da carência de infra-estruturas adequadas.

Desde há muitos anos, durante a época carnavalesca e, por vezes, durante o período das festas de fim de ano, todas as instalações hoteleiras das diversas categorias existentes na seira da Estrela, Covilhã, Tortosendo, Fundão, Alpedrinha, Castelo Branco e Guarda se encontram superlotadas, sendo frequentemente necessário recorrer às casas particulares, que, gentilmente, se dispõem a dar abrigo aos visitantes.

E isto sucede já na serra da Estrela, onde, como infra-estrutura específica da prática do ski, apenas existe um teleski rudimentar instalado na pista dos Piornos, de 2a. categoria.

Mas, para avaliar a verdadeira magia que a neve exerce já sobre os Portugueses, é indispensável conhecer a reacção dos excursionistas que visitam anualmente a seira da Estrela, sobretudo os mais jovens.

São largos dezenas de camionetas e centenas de automóveis que procuram ia montanha e largam os passageiros ao menor indício de neve, para que estes possam dar vazão ao seu entusiasmo, libertando-se de protocolos e de complexos e vivendo momentos de alegria e de sã camaradagem, que mais tarde se traduzirão por gratíssimas e inofensivas recordações.

Além disso, durante a época própria, quando as estradas da montanha estão inacessíveis ao trânsito automóvel, os desportistas mais aficcionados do sky fazem caminhadas de ida e volta de vários quilómetros quase todas as semanas, e, nalgumas, em dias consecutivos, para poderem atingir as pistas próximas da Torre e aproveitar o dia a esquiar.

A neve é, portanto, um grande motivo de atracção e fonte de uma indústria turística de Inverno, já poderosa e rentável na Europa e também possível de instalar em Portugal.

A questão é saber aproveitar convenientemente esta matéria-prima que é oferecida pela Providência a algumas regiões.

Porém, no nosso país, só na serra da Estrela há neve apropriada, em quantidade e tempo de permanência no solo, para a prática dos desportos com ela relacionados; por esse motivo, há cerca de uma dezena de anos, a Comissão regional de Turismo da Serra da Estrela entendeu, e bem, que deveria estudar a sério a possibilidade de desenvolver, em Portugal, a prática destes desportos, tão apreciados na Europa e, ainda, noutras regiões do Globo.

O estudo foi feito oportunamente, tendo-se concluído que apenas as pistas situadas a altitude superior a 1700 m ofereciam as necessárias condições para o lançamento de uma estação de desportos de Inverno.

Essa estação exigia, porém, um mínimo de infra-estruturas que permitisse o acesso às pistas de neve e a possibilidade de os d esportistas utilizarem teleskis, isto é, equipamentos de subida das pistas para, como é sabido, poderem depois fazer as descidas.

Daqui nasceu a ideia da instalação de um teleférico que pudesse ligar a zona dos Piornos ao planalto da Torre.

O projecto foi confiado a um técnico estrangeiro de reconhecida competência, que o elaborou, e a orientação seguida foi aprovada, em Maio de 1960, pelo Conselho Nacional de Turismo e também pelo Secretariado Nacional da Informação, Cultura Popular e Turismo, entidade que, na altura, superintendia no turismo nacional.

Ainda nesse ano obteve a Comissão Regional um subsídio do Governo de 4000 contos, não reembolsável, para início da realização do empreendimento. Em 1965 ficou praticamente concluída a construção dois núcleos funcionais das estações da Torre e dos Piornos (que hoje se encontra completa), a montagem das duas torres metálicas intermédias e da parto motora do teleférico na estação da Torre - encontrando-se guardada na serra da Estrela a totalidade do restante equipamento necessário ao normal funcionamento do teleférico e ainda não instalado.

Entretanto faltaram os recursos e os trabalhos tiveram de ser interrompidos já, portanto, há quase cinco anos. Se na altura tivesse havido possibilidade de os continuar, já hoje, certamente, estariam a dar os seus frutos.

Porém, um ponto importante da questão é que a maior parte da despesa relativa à instalação do teleférico já está feita; o que não está é paga.

Para se poder compreender bem este estado de coisas é indispensável ter em conta que a decisão da Comissão Regional de Turismo de instalar o teleférico, com sanção das entidades competentes, se verificou há cerca de dez