Ao Governo da Nação, particularmente, a SS. Exas. os Srs. Presidente, da República e Presidente do Conselho, embora toda a minha vida particular e profissional tenha sido o corolário de provas inequívocas de incondicional fidelidade ao Regime e ao progresso económico do País, quero mais uma vez afirmar que tudo farei, sem me desviar desses já enraizados princípios que me têm norteado ao longo de quase duas décadas.

Como chefe de família, empresário responsável, nunca me alheei das. responsabilidades que, em maior ou menor grau, em mim têm recaído. Tenho procurado ser prático e objectivo e também cumpridor das tarefas que me confiaram, e, por isso, estou aqui a tentar poder merecer a confiança que os meus conterrâneos, eleitores pelo círculo de Braga, em mim depositaram.

Sou independente e tenho procurado sempre imprimir às minhas iniciativas a maior isenção e, somente por isso, peço a melhor compreensão de todos para que nunca interpretem a minha acção e argumentação com outro sentido que não seja o de somente servir.

Dentro deste princípio, tenho procurado enveredar por atitudes claras e práticas, incutindo, sempre que possível, a acção directa, contrariando a perniciosa burocracia, e isso, graças a Deus, não criará agora problemas, pois todos sabemos qual a opinião do nosso Presidente do Conselho e dos seus fervorosos propósitos de a tudo imprimir eficiência com a maior rapidez possível.

Feito este preliminar e indispensável intróito, quero daqui, deste lugar, em que me é dada a honra e a consequente responsabilidade de falar em nome da minha região e dos seus manifestos anseios, procurar, dentro de certo equilíbrio e de forma ordenada, e solicitar ao Governo a sua melhor atenção para solucionar do modo miais breve os problemas de um dos sectores da maior representação económico-social da região que represento nesta Assembleia e que é também de preponderante posição na estrutura nacional.

Não quero, porém, entrar propriamente na matéria sem fazer uma alusão à influência que a unidade nacional tem na realização de medidas que e adoptem em qualquer actividade.

Nunca gastei de rivalidades regionais, por uma questão de, formação familiar, e não as posso compreender, sobretudo numa hora em que todos juntas somes poucos para enfrentar toda a série de problemas que, de momento, nos afligem e daqueles que o futuro nos reserva.

Por conseguinte, bom será que na nossa acção e planificação geral não descuremos nunca a forma do melhor aproveitamento dos recursos naturais e humanos que a cada região são miais favoráveis.

Invoco esta sugestão por saber que nem sempre este transcendente aspecto é devidamente ponderado, e daí o facto de surgirem indústrias de extracção ou transformação em regiões absolutamente deslocadas, com os consequentes ei avultados prejuízos de toda a ardem: transportes, mão-de-obra, abastecimento de força motriz, matérias-primas, etc.; enumerar casos concretos seria fastidioso e inoportuno. Os erros praticados não merecem outro tratamento que não seja remediá-los e evitá-los no futuro.

De certo modo, pode esta anomalia verificar-se no continente, mas em relação ao conjunto continente-ultramar o problema tem mais acuidade.

É, portanto, fundamental que na reorganização do condicionamento industrial não se descorem estes primordiais princípios de aproveitamento sectorial, uma vez que, se ao ultramar o que melhor se coaduna é a indústria extractiva e sequente transformação dos seus extraordinários produtos, até ao maior grau de aproveitamentos evitando-se a exportação em bruto, compete à metrópole a tarefa de se preocupar exclusivamente com a valorização da sua indústria transformadora, enveredando por uma maior especialização, possibilitando assim maior incorporação de mão-de-obra, riqueza que temos desperdiçado em favor da indústria estrangeira, que, utilizando-a, ainda acaba por se nos deparar concorrencionalmente nos mercados os, perturbando o comércio, a situação financeira, o descrédito do sector e, o mais grave, a economia da Nação, que, finalmente, é quem acaba por ser a principal vítima. Outros, ao persistirem, aguardando melhores dias - que vão tardando -, desmoralizam-se e acontece o inevitável desinteresse, fugindo para outras- actividades onde o risco não seja tão grande como aquele que semelhante situação pode proporcionar aos empresários, o que é lamentável, sendo a indústria têxtil portuguesa um potencial económico-social de primeiro plano, polis é a indústria que maior número de trabalhadores utiliza - cerca de 100 000 -, com a particularidade, entre nós ainda muito considerável, de ser a de mais fácil adaptação à natureza de cultura e preparação da nossa população, e porque existe, e porque ainda é a que maior número de divisas recruta para o País, ao exportar ainda numa grande escala de artigos. Posso mesmo admitir que, num total superior a 50 por cento em fios e tecidos por acab ar, tem atingido os 4 milhões de contos, sendo, portanto, de admitir que, se se utilizasse o tal aproveitamento de especialização a que atrás me referi, os números seriam bem outros.

Tudo isto provém, justamente, de não se tomarem as medidas adequadas que se impõem e que há muito, reconhecidas como necessárias, se deveriam ter adoptado.

Como águas passadas não moem, e o atribuir responsabilidades a A ou a B não altera os factos, afigura-se-me oportuno meter mãos à obra e pôr imediatamente em prática o que é necessário para remediar, se possível, alguns e incrementar outros, proporcionando-se-lhes o mínimo de condições indispensáveis.

Não se pede muito, pede-se o rudimentar, e em troca muito se pode dar, porque ainda sou dos que acreditam na industrial têxtil devidamente organizada. De resto, o fenómeno não é exclusivo desta actividade.

Há, portanto, que encontrar-se melhor entendimento entre os empresários e o Governo, congregando e aproveitando esforços, opiniões e estudos válidos para que pronta e eficientemente se ponha termo a este fosso onde uns já caíram e outros podem cair.