mãos e que, em vez de reinvestirem os seus lucros, os aplicam em meras actividades de especulação.

Julgo, finalmente, ser muito importante referir a atenção com que o Governo parece seguir a evolução da E. F. T. A. e as próximas negociações da Inglaterra com a Comunidade Económica Europeia.

Ë fundamental que o País tome consciência de que o movimento centrípeto iniciado pelo Mercado Comum é irreversível, e que Portugal, embora de vocação ultramarina, é também europeu e não deve, nem pode, fugir -lhe. Mais tarde ou mais cedo, teremos que entrar em qualquer tipo de relação íntima com a Comunidade Económica Europeia Bom é que não se espere pelo ultimo momento, para se ter que procurar precipitadamente uma solução que poderá ser a menos conveniente para o grau de desenvolvimento da nossa economia e para a nossa característica pluricontinental.

Encaremos o futuro com esperança e com lúcida objectividade, até porque o isolamento é suicida e porque é sob a tentativa de exaustão económica que se exerce o mais perigoso ataque à independência e à unidade nacional. Como já o tenho dito, penso que a médio ou longo prazo a integridade da Nação Portuguesa, como comunidade multirracial e pluricontinental, só poderá ser mantida com base na independência política do território metropolitano, e esta só será viável desde que prossigamos uma hábil e oportuna política europeia, que nos assegure a indispensável participação no progresso económico, tecnológico e social das nações mais avançadas do Globo. Trata-se, portanto, de enunciar inversamente a tese que faz depender a independência política do próprio território metropolitano da manutenção da integridade de todas as parcelas do território nacional.

Terminarei com uma frase do Secretário de Estado do Comércio. Dr. Xavier Pintado, ao regressar da reunião dos parlamentares da E. F. T. A. em Estrasburgo: «É-me ainda grato referir a clara melhoria de atitude dos meios europeus em relação ao nosso país», e isto, acrescentarei eu, porque, após a definição de uma sã, esclarecida e vantajosa política de renovação, tem vindo gradualmente a ser possível ao Governo encontrar pessoas renovadas mi formação e nos métodos para a realizar.

Vozes: - Muito bem ! O orador foi cumprimentado.

O Sr. Aguiar e Silva: - Sr. Presidente e Srs. Deputados: Apresento a V. Ex.ª, Sr. Presidente, e a VV. Ex.ªs, Srs. Deputados, respeitosos cumprimentos.

Dolorosos e lamentáveis acontecimentos ocorridos há alguns meses na Universidade de Coimbra vieram revelar de modo brutal que a Universidade portuguesa, como a Universidade europeia em geral, é uma vulnerável instituição profundamente doente e desprovida de meios eficazes para se defender e regenerar.

Esses acontecimentos foram demasiado importantes de significado e de implicações para que possam ser apenas classificados e entendidos como erupção juvenil ou desmando de rapazes curável com dois açoites. Deixo de lado causas gerais de ordem psicológica, ética, filosófica e social, que afectam a nossa juventude como afectam a juventude italiana ou francesa; deixo de lado prováveis fenómenos de mimetismo, fenómenos muito importantes para a gestação de uma atmosfera emocional e de uma aura revolucionária, pois, tal como muito estudante da Sorbona sonhou reviver as jornadas revolucionárias de 1789, também muito estudante coimbrão, nas velhas ruas da «alta», se terá suposto um enragé das barricadas já legendárias do Quartier latin. Depostas de lado estas causas, vejo nos referidos acontecimentos, na sua trama profunda, independentemente de episódios e incidentes concretos e fortuitos, duas ordens de factores.

Em primeiro lugar, factores de ordem estritamente política, corporizados na acção doutrinadora, de propaganda e dinamização de massas, desenvolvida por grupúsculos bem preparados, tanto do ponto de vista ideológico como táctico. Pela leitura e análise dos seus manifestos e panfletos, não é difícil condensar os seus pressupostos ideológicos e definir os seus objectivos e a sua atitude em relação a problemas concretos e fundamentais da vida nacional..

Num ocidente politicamente desvitalizado, onde a burguesia neocapitalista proclamou a morte das ideologias para difundir uma visão tecnocrática do mundo e do homem, visão cloroformizamte do espírito crítico e alienadora da liberdade individual., estes grupos, como outros semelhantes na Europa e na América, representam a revindicta das ideologias contra o princípio de que na acção governativa apenas interessa programar, racionalizar, planificar, desconhecendo ou escamoteando os valores políticos que conferem um significado ético, nos planos do indivíduo e da comunidade nacional, às tecno-estruturas. Lógica e coerentemente, estes grupos visam, através ida Universidade, modificar as estruturas políticas e sociais vigentes, e decerto o Governo não o ignora, nem alimenta a ilusão de que a actividade desses grupos anarco-sindicalista.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Neste domínio, infenso aos planeamentos e às programações, joga-se o sentido das programações e dos planeamentos.

Estes factores, porém, não teriam desencadeado semelhante movimento de agitação, não teriam congregado em altitude de desafio alguns milhareis de estudantes se não houvesse motivos de outra ordem a impulsionar a inteligência e o sentimento dos jovens em revolta: as graves deficiências do actual ensino universitário, geradoras de amargura, desengano e cepticismo em tantos e tantos jovens idealistas e generosos. Quem ousará negar que, ao lado das quimeras e das exigências absurdas, os estudantes