sentados pelas Universidades portuguesas ao Governo avulta o da situação dos assistentes, ou seja o problema do recrutamento e da formação dos professares. Recordo-me de que ao longo da última década, nas sessões de reabertura solene da minha Universidade, primeiro sob o reitorado do Prof. Braga da Cruz e depois sob o reitorado do Prof. Andrade Gouveia, a Alma Mater Conimbrigensis manifestou sempre, pela voz do seu reitor, a necessidade imperiosa de resolver satisfatoriamente este problema de capital importância para o presente e o futuro da Universidade. Pois ao longo dessa década a situação dos assistentes agravou-se lamentosamente e nenhumas medidas de real significado foram, entretanto, adoptadas pelo Governo.

Muita coisa se modificou - quantas vezes se degradou ... - durante os últimos dez ou quinze anos no ensino universitário. O caso dos Assistentes é um dos capítulos mais sombrios dessa modificação. Com o crescimento gradual, nalguns cursos galopante, da população escolar, com a estabilização ou mesmo rarefacção da capacidade docente das (professores catedráticos e extraordinários - em várias Faculdades os quadros de professores são os mesmos de há trinta ou quarenta anos e os vagas existentes muitos vezes não suo preenchidos -, os assistentes foram (progressivamente chamados à regência de aulas teóricas, de modo que hoje se verifica em algumas Faculdades que a actividade docente é mantida por assistentes ao. elevadíssima percentagem de 80 por cento. Não é raro o facto de um assistente reger uma disciplina logo no seu primeiro ano de actividade docente, como não é nora, em algumas Faculdades, um assistente reger mais da uma disciplina, além de assegurar também muitas vezes o funcionamento das aulas práticos de um catedrático. Ao pesado trabalho de preparação metodológica e de informação científica indispensável para reger uma disciplina com honestidade intelectual e nível universitário, vê muitas vezes o assistente acrescer a esgotante tarefa de corrigir centenas de provas escritos e realizar, outras centenas de provas orais nas épocas de Junho e Outubro. Observe-se, ainda, que não raro o assistente se vê obrigado ia reger em cada ano irmã cadeira diferente da que regeu no ano anterior, 4e acordo com as necessidades da secção ou do grupo a que pertence, o que redunda, evidentemente, em sobrecarga de estudo e trabalho dispersivo.

Por outro lodo, o assistente tem de lembrar-se continuamente - e quantas vezes essa lembrança se volve em obsessão ou pesadelo! ... - de que, num prazo Limitado, deve elaborar uma tese de doutoramento de indiscutível mérito científico, demonstradora das suas qualidades de investigador e de docente. Alguns têm a dita de preparar essa tese em anos de estada no estrangeiro, má qualidade de bolseiros; mas outros, por motivos tila vária ordem, têm de a elaborar no País, roubando tempo ao justo descanso e à família, por entre a Actividade das nulos e as tarefas das exames, acontecendo que muuitos deles «tangem o termo do seu contrato sem poderem concluir a dissertação de doutoramento.

Pois a estas, jovens docentes, em régua os mais qualificados e os mais classificados do seu curso e da sua Faculdade, onde figuram com frequência licenciados com 18 e 19 valoras, a quem só entregam tarefas dei tanto responsabilidade e de tonta importância para o País, continua a oferecer-se uma remuneração inferior a do professar eventual do ciclo preparatório! Aquando da criação da categoria de assistente, «remuneração deste possuía mais propriamente o significado de uma bolsa do que de um vencimento, de uma bolsa que permitisse no jovem assistente manter contacto com a sua Faculdade e com um professor, de modo a preparar, em rápidos dois ou três anos, uma tese de doutoramento. Hoje, quando a situação do assistente e as condições dia sua actividade se modificariam tão radicalmente, não tem qualquer sentido a sobrevivência da sita remuneração com o significado - e o grau académico concedido por uma Universidade, que obteve, ao longo de vários anos de estudo, de investigação e de reflexão, quantos vezes nos mais categorizados centros universitários estrangeiros, uma qualificação valiosa e uma maturidade científica e docente de primeira andem, e que se vê equiparado, na escala de vencimentos, ao terceiro-bibliotecário ou ao professor efectivo de Canto Coral de um liceu! Acresce ainda que o primeiro-assistente não está incluído em nenhum quadro, com todos os consequências daí advindas, podendo, por falta de vaga, vegetar longos anos nessa posição.

Por tudo isto e porque de há vários anos poro cá o sector privado e até alguns sectores do Estado absorvem cada vez mais pessoal superiormente qualificado, a quem remuneram condignamente, tem-se tornado difícil para a Universidade o recrutamento de assistentes entre os seus melhores alunos. Algumas Faculdades ainda- têm a possibilidade de conservar na selecção dos seus assistentes critérios rigorosos no que tange h sua qualidade intelectual, mas outras vêem-se forçadas a aceitar licenciados com 12 valores, não doutoráveis, por conseguinte, a não ser com um curriculum deveras valioso, assistentes que, muitas vezes, não passam de «tarefeiros», que se aproveitam do lugar na Faculdade como trampolim paro outra actividade, e que nunca pensaram seriamente em encetar uma carreira universitária.

Quer dizer: o actual condicionalismo não só impede a existência nas Universidades de um número suficiente de assistentes em relação ao número de alunos, mas impede também, o que é muito mais grave, que esses assistentes sejam, em muitos casos, os de melhor qualidade possível. Deste moldo, qual o futuro da Universidade, qual a rentabilidade que o País pode esperar ou exigir do seu ensino superior?

Philip Coombs, director do Instituto Internacional de Planificação da Educação, escreveu recentemente:

Recrutar bons professores é a prioridade das prioridades para todos os sistemas de ensino do Mundo.

Vozes: - Muito bem!