dades tradicionais e a sociedade moderna», cujo sumário passo a ler: As causas da crise universitária.

II) II) A necessidade de urgência da reforma universitária. As principais resistências à reforma: Resistências intrínsecas ou institucionais; Resistências extrínsecas ou sócio-politicas. Os factores favoráveis à reforma: O progresso científico-tecnológico; O desenvolvimento sócio-económico; Os movimentos estudantis. Linhas gerais de um projecto de reforma: Reorganização do Ministério da Educação Nacional; Fundarão do novas Universidades! dedicadas às ciências e à tecnologia; Ligação dais Universidades com a vida nacional (agricultura, indústria, serviços);

O Sr. Presidente:-Informo o Sr. Deputado Miller Guerra e a Assembleia de que enviarei nota deste aviso prévio ao Governo e oportunamente marcarei data para a sua efectivação e eventual debate.

Tem a palavra o Sr. Deputado Pinto Machado.

O Sr. Pinto Machado:-Sr. Presidente: A minha intervenção visa trazer à Câmara, por breves minutos e através de palavras muito simples, mas muito sentidas, uma figura de rara têmpera e de fecunda actividade num sector da vida nacional de maior relevância - a Universidade. Quero referir-me ao Doutor Amândio Tavares, professor catedrático da Faculdade de Medicina do Porto, atingido pela lei do limite de idade no passado dia 15 do corrente.

Não vou apresentar aqui a biografia rio Prof. Amândio Tavares, mas, sim, em traços curtos, que desejaria fundos, assinalar os aspectos essenciais da sua personalidade e da sua obra, que lhe mereceram unânime e indefectível respeito.

Amândio Tavares explica-se assim: fidelidade permanente ao dom da vocação universitária. Haverá apenas que completar dizendo que essa fidelidade foi mantida por inteligência preclara, vontade férrea, espírito de serviço estreme, capacidade de trabalho que saúde débil tornava ainda mais espantosa, sentido lúcido de objectividade, senso da oportunidade e sensibilidade vibrante mal escondida por fácies austera e trato reservado.

Nas ciências médicas, consideradas estas dos pontos de vista da pesquisa, da docência e da aplicabilidade ao homem doente, a anatomia patológica vem progressivamente ocupando lugar cada vez mais reconhecidamente fulcral. A (escola portuguesa de anatomnia patológica insere-se com dignidade, nessa posição, e t«l se deve ao arranque decisivo desencadeado, isoladamente, há algumas dezenas de- anos pelo jovem catedrático .Amândio Tavares.

Para os que resumem a docência à aula magistral, e esta a peça de oratória, Amândio Tavares não terá sido professor brilhante. Porém, o conceito é errado, e, melhor que os argumentos discursivos, prova-o Amândio Tavares por sã mesmo. As suas aulas, por exemplo. Eram actos verdadeiramente universitários, de mestre formador de inteligências. A exposição não era abstracta, recitativa e repetitativa, mas objectiva, tecida com a apresentação de documentos científicos do serviço, que serviam de veículo para a formulação de comentários pertinentes de observação e interpretação das lesões, comentários que nenhum livro traz e que só se podem receber da palavra viva, pessoal, do investigador.

Pena é que a deficiente capacidade de deflexão e crítica com que muitos alamos saem do liceu não lhes permitisse aproveitar plenamente tais lições. Mas para o Prof. Amândio Tavares a relação com os alunos não se interrompia no fim da aula, para ser retomada na aula seguinte. Era confidente e conselheiro dos que o .procuravam em aflição e até problemas económicos resolveu, possibilitando assim que sejam hoje médicos válidos alguns que vícios de estrutura social fiariam quedar-se em graus obscuros de promoção.

Desde que entrei, como aluno, na Faculdade de. Medicina do Ponto, em 1948, sempre o laboratório de anatomia patológica ocupou posição de relevo particular na actividade científica da Faculdade. Além das realizações próprias, avultava um papel de colaboração indispensável e catalisadora à investigação clínica e fisíopatológica e um apoio inestimável nas .provas de doutoramento e concursos de docentes de muitos serviços. E se tais realizações foram, evidentemente, fruto de uma equipa que o tempo ia tornando mais numerosa e diferenciada, a verdade é que tal equipa foi constituída, preparada e continuamente valorizada pela competência e zelo do Prof. Amândio Tavares. E, porque falo na competência, queria deixar aqui um apontamento, muito humano, da confiança total dos médicos no saber e na exigência do Prof. Amândio Tavares como anátomo-patologista. Quero referir-me às tantas vezes em que as sombras negras de um diagnóstico clínico do cancro totalmente se dissipavam .só porque , no relatório do exame de fragmento de tecido Amândio Tevares escrevia que «não há sinais de malignidade»! Por largo tempo foi o Prof. Amândio Tavares1 vice-presidente do Instituto de Alta Cultura. Apesar de esta instituição ainda hoje dispor de uma estrutura muito aquém das reais necessidades, naquele período a estrutura, de tão insignificante, era quase nula. Pois, apesar dessa grave deficiência, a dedicação, sacrifício e entusiasmo do Prof. Amândio Tavares - e estou certo de que me seguem os que então tinham também responsabilidades na vida do Instituto- conseguiram que s(c) realizasse obra importante, que em publicação foi demonstrada.

Foi o Prof. Amândio Tavares reitor da Universidade do Porto durante dezena e meia de anos. Assumiu o cargo em momento agitado da vida estudantil. Os ânimos dos estudantes andavam exaltados e. no primeiro encontro, hostilizaram o novo reitor. Poderei dizer alguma coisa de mais comprovativo da actuação do Prof. Amândio Tavares na Reitoria da Universidade do Porto se declarar que, não faltaria muito, os estudantes haveriam de tornar-se os seus mais fervorosos admiradores?! Conseguindo malabarismos de tempo"- pois mantinha o exercício das suas funções na Faculdade de Medicina e no Instituto de Alta Cultura -, Amândio Tavares foi reitor por excelência - na dignidade eminente, no zelo contínuo, no ânimo sem desfalecimento, na atenção larga e penetrante.