O Sr. Presidente: - Tem V. Ex.ª a palavra.

expressão muito acima do comum; um fundo de tolerante e liberal humanismo, atraindo-o para as posições políticas da justiça social e do progresso.

E, ao longo de vinte anos. o que talvez mais admirei foi como o Sr. Engenheiro Amaral Neto conseguiu superar circunstâncias, à primeira vista, adversas às posições políticas que tomava, como conseguia ser tão bom Deputado quando o ambiente que rodeava a Assembleia tanto aliciava ao imobilismo, quando até os seus meios funcionais, como era notório, andavam muito longe da suficiência.

Pois, perante o novo Presidente aqui está uma Assembleia também profundamente renovada. Ainda antes de ontem ouvimos acentuar a circunstância de em relação à anterior legislatura, serem novos 3/4 dos Deputados.

Também não deixo de frisar essa circunstância - e sempre o faço com sincera homenagem a experimentados homens públicos que desta vez não vêm ocupar cadeiras em S. Bento -, mas só para concluir que. com nova Assembleia Nacional - aís carece e que o Presidente Marcelo Caetano tenciona enviar à Assembleia Nacional, como perante a enorme confiança nacional de que dispõe, reiteradamente tem afirmado. A minha convicção é a de que está cumprido o bom augúrio. Creio que é esta. numa legislatura revisionista da Constituição, uma Assembleia à altura da realização do «Estado Social - Marcelo Caetano».

Votos cordiais, Sr. Presidente e Srs. Deputados, todos, todos Srs. Deputados, de feliz trabalho parlamentar.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Veiga de Macedo: - Peço a palavra.

O Sr. Presidente: - Tem V. Ex.ª a palavra.

O Sr. Veiga de Macedo: - Sr. Presidente: Categórico imperativo de consciência e de coração leva-me a olhar hoje mais para o passado do que para o presente, mas não deixarei de cumprir antes este outro irrecusável dever de dirigir ao novo e ilustre Presidente da Assembleia Nacional, ora eleito, vivas saudações e efusivos parabéns por ter sido investido em tão elevada magistratura política.

Formulo os melhores votos pelo pleno êxito da honrosíssima mas espinhosa missão confiada a V. Ex.ª, Sr. Presidente, o qual, não duvido, está de antemão garantido pelos méritos e talentos que o distinguem.

O Sr. Engenheiro Amaral Neto deu já, na verdade, sobejas provas de vocação parlamentar e de um raro devotamento às delicadas e difíceis tarefas que aos Deputados incumbe desempenhar. Recordo, com particular aprazimento, as notáveis intervenções que, ainda este ano, aqui teve, no debate da proposta de lei sobre a reorganização das Casas do Povo e a previdência rural, durante o qual, por motivos de todos conhecidos, pude tomar contacto mais estreito com as suas reais qualidades de tribuno, o seu discernimento de espírito e o seu conhecimento dos problemas económicos e sociais.

Recaem, a partir deste momento, sobre os ombros de V. Ex.ª mais pesadas responsabilidades. Mas V. Ex.ª está à altura delas, e pode contar com a Câmara, que, uma vez mais, saberá honrar o mandato nobilitante que lhe foi outorgado pela Nação através de uma vitória eleitoral da maior significação política.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E, agora, peço a recolhida atenção de todos para «s palavras de respeitosíssima homenagem que vou proferir na certeza de interpretar os melhores sentimentos da Assembleia Nacional.

Sr. Presidente: A mão patrícia de quem, entre todos, mais sofria, baixou, suavemente, e apanhou, comovida, um pouco daquela terra sagrada, em que a luz do entardecer punha laivos de ouro e de esperança. Depois, ergueu-se, bem fechada, como se todos os tesouros da vida e da morte estivessem nesse punhado de terra - punhado de luz e de fé também! -, imobilizou-se por instantes e abriu-se lentamente sobre o rectângulo escavado, onde, momentos antes, o ranger das cordas levara- à sepultura o corpo de um homem que fora Alguém em Portugal.

Estou a ver e a ouvir essa terra caindo sobre as tábuas. Já ao fundo, voltadas para o céu e engrandecidas pelo Cristo nelas pregado e pelo mistério da morte e da ressurreição. Relembro também a partida deste. Palácio de S. Bento, naquela manhã de 20 de Setembro, e a passagem por Coimbra, onde a Universidade desceu até Santa Clara para juntar às suas as lágrimas do Mondego, pela perda de um dos seus valores mais representativos.

Bem presente no meu espírito, ainda, a Beira desse dia cálido e belo, a Beira, esplendorosa e maternal, acolhendo o filho que, após longa caminhada, regressava para sempre, sem ocultar as cicatrizes deixadas pela vida, mas indelevelmente marcado pela glória que nem, os homens sabem recusar aos justos.