Mas neste caso, se o presente pode já pronunciar-se sobre a categoria intelectual e a acção cultural e política de Mário de Figueiredo, deve atestar também, sem reservas, a magnanimidade da sua alma, a limpidez das suas intenções e dos seus actos, a probidade de toda a sua existência.

Sr. Presidente e Srs. Deputados: Se me dissessem que deveria, retratar em poucas palavras o homem que encheu e enche esta Casa com a sua presença, escolheria estas, que se me afiguram perfeitamente justas:

Bondade. Honestidade. Fidelidade. Inteligência. Sim: Bondade e sensibilidade. Honestidade e desprendimento. Fidelidade, e lealdade. Inteligência e argúcia.

Se tivesse ainda que definir numa só palavra essa personalidade singularmente forte e sugestiva, diria:

Vozes: - Muito bem!

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentada.

O Sr. Presidente: - Srs. Deputados: Ainda que não fosse de praxe parlamentar e natural imperativo de cortesia, eu permitir-me-ia inaugurar a minha estada neste lugar introduzindo a prática de agradecer a eleição. Mas sei, pela experiência passada, que isto é da tradição desta Casa. O que eu me permito dizer a VV. Ex.ªs é que não creio que alguém se haja sentado neste lugar, para se dirigir à Assembleia que o elegeu para tão honrosa posição, com um sentimento mais repassado ao mesmo tempo da compreensão da generosidade de VV. Ex.M e da grande incapacidade da pessoa para corresponder plenamente a tamanha confiança.

Vozes: - Não apoiado!

O Sr. Presidente: - V. Ex.ªs perdoar-me-ão certa emoção que me toma neste momento, e decerto a compreenderão. VV. Ex.ªs hão-de perdoar, já que tenho a consciência de a minha imagem pública ser, baça e modesta, que lhes fale em breves instantes das intenções com que tenho andado na vida pública. Sou um homem que desde o primeiro momento aceitei servir o bem comum, movido pela certeza de me encontrar na vida beneficiando já do fruto do labor das gerações passadas, e de que o primeiro e elementar dever de qualquer cidadão consciente é nunca esquecer que os passos dados pela humanidade desde os tempos primitivos até à civilização actual se devem ao labor incessante das gerações passadas, sendo sua obrigação corresponder a esse labor para tentar deixar aos vindouros o mundo um pouco melhor. Foi, pois, este interesse pelo bem comum que me fez começar na modesta posição de presidente de uma câmara municipal, sem esperar nem tão-pouco suspeitar que alguma vez me alcandoraria ao lugar para que VV. Ex.ªs acabam de eleger-me. Tenho a noção de que estou aqui pela força de V. Ex.ªs e de modo nenhum por merecimento próprio.

Vozes: - Não apoiado!

O Sr. Presidente: - Sei perfeitamente que há nesta Assembleia numerosas pessoas que se acreditaram perante o País por relevantes serviços prestados e que, pelo prestígio conquistado na política, na Universidade, em tantas formas de acção em prol do comum, de muitas maneiras engrandecendo a Pátria, estariam em melhores condições de bem a servirem neste lugar com a riqueza da sua experiência e talentos.

No entanto, explica-se o facto de me encontrar eu neste lugar por já ter acontecido em assembleias políticas, quando se levantam dificuldades de escolha entre valores comparáveis, acabar ela por recair, não nalguma das pessoas de maiores méritos e talentos, mas noutra de mais modestas capacidades. Por isto, Srs. Deputados, com humildade lhes assevero que tenho a plena consciência de estar aqui bem provavelmente apenas pelo jogo de circunstâncias dessa ordem.

Sei que a tarefa é pesada para os meus ombros e desconforme do feitio deles. Em vão procurei demonstrar a quem primeiramente me honrou com a sugestão da candidatura não ser eu pessoa indicada para o lugar. Logo aí fiz a primeira verificação da minha incapacidade, pelo insucesso da demonstração. Como quer que seja, o certo é que estou aqui, por generosidade de VV. Ex.ªs, pronto a servir a Assembleia com a mesma dedicação e a mesma simplicidade de propósitos e isenção de interesses próprios que há mais de trinta anos me faz andar na vida pública. Mas digo a VV. Ex.ªs que estou aqui com profunda saudade dessas bancadas, porque também eu tinha os meus projectos e sonhos para declarar, anseios de poder trabalhar para ajudar nesta legislatura a servir melhor o País. Asseguro, pois, VV. Ex.ªs de que, se o temor das responsabilidades é muito grande, o desgosto desse abandono não é menor.

Creio pela primeira vez interpretar bem os sentimentos desta Assembleia dirigindo um agradecimento aos componentes da Mesa provisória, pela maneira como dirigiram e orientaram os trabalhos. Mas de maneira especial quero exprimir ao Sr. Deputado Albino dos Reis o meu vivo e profundíssimo agradecimento pessoal. O Sr. Deputado Albino dos Reis foi generoso comigo, como sempre foi nestes meus vinte anos de vida parlamentar. Foi o Presidente que encontrei nesta Casa, o Presidente que mais vivamente consubstanciou, na seriedade e aprumo da sua figura, o ideal que para mim próprio formei quanto às características da pessoa que devia ocupar este lugar.

O Sr. Melo e Castro: - Muito bem!

O Sr. Presidente: - Se me fosse dado escolher entre os que já o tomaram, eu não hesitaria em mostrar a minha preferência pelas excelsas qualidades de inteligência e valor moral que exornam a pessoa do Sr. Deputado Albino dos Reis.

O Sr. Melo e Castro: - Muito bem!

O Sr. Presidente: - Lembro-me que há anos, tendo sido V. Ex.ª eleito para este mesmo lugar, que tanto honrou, o Deputado que então presidia aos trabalhos pré-