metrópole com este estabelecimento de assistência, julgo necessários alguns momentos de reflexão, reflexão própria de um médico velho que conhece o seu distrito no campo das necessidades imperiosas da assistência médica, que desde há muito tem vivido o sofrimento físico e moral Ido bom povo do seu Alentejo e que tem colaborado muitas vezes, quase até ao limite das suas escassas forças, com todos os seus colegas, sentinelas avançadas da saúde necessária ao trabalho e à produtividade da vasta planície alentejana.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Tenho a certeza de que o novo Hospital de Beja, originando necessariamente um afluxo de médicos especializados a esta cidade, dotado de todos os meios complementares de diagnóstico e dos mais actualizados requisitos da técnica, irá contribuir decisivamente para uma melhor medicina no Baixo Alentejo, para uma assistência eficiente ao doente, para o seu tratamento adequado e rápido, descongestionando de maneira considerável os hospitais centrais, que tão sobrecarregados se encontram.

Torna-se igualmente necessário que se ,pense no seu descongestionamento, que as suas lindas enfermarias não se encontrem repletas de doentes sem admissão perfeitamente justificada e que dentro do possível, os doentes a admitir se apresentem já cuidadosamente estudados e observados, tendo em vista a redução do número de dias de internamento.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Em suma, torna-se necessário que os hospitais sub-regionais, guardas mais avançadas do bem de direito, que ,é ~& saúde, se integrem no mesmo esquema e possam cumprir cabalmente a importante missão que lhes assuste.

Julgo que a dedicação e competência dos meus colegas será um trunfo precioso, devendo, no entanto, ser necessário apetrechar melhor algumas destas unidades sub-regionais em material e dinheiro, visto serem do conhecimento geral as dificuldades enormes com que lutam muitas Misericórdias.

Mas o meu pensamento, o meu momento de reflexão, terá necessariamente de .se dirigir ao futuro, ia um futuro que, aliás, não me parece distante, e cumpre-me apresentar nesta Câmara ao Governo da Nação uma análise muito geral, mas elucidativa, das actuais possibilidades em médicos do distrito do Baixo Alentejo.

Srs. Deputados: O meu distrito tem actualmente no exercício da sua profissão 80 médicos.

Se me permitem uma análise comparativa, dir-vos-ei que este número, em 1954, era de 107.

Dos 80 médicos acima mencionados existem 28 que têm 60 ou mais anos de idade.

Com mais de 70 anos, ainda lutando tenazmente (com que sacrifício) e exercendo-a sua profissão, contam-se 7 médicos! -

Dos 50 aos 60 anos de idade o número de médicos é de 24, sendo de 21 os meus colegas com idades compreendidas entre os 40 e os 50 anos.

Com menos de 40 anos, e quero frisar este facto aqui com o maior realce, há apenas 7 médicos no vasto distrito do Baixo Alentejo, e 4 deles são especialistas ultimamente fixados na cidade de Beja, visando já o funcionamento do novo hospital.

Abstraindo o concelho de Beja, temos, no restante do distrito, a média de um médico para 4358 habitantes.

Os números são elucidativos, mas a evolução dos mesmos parece-me assustadora.

Como já acima frisei, o quantitativo de módicos do meu distrito era, em 1054, de, 107, não ultrapassando, em 1969, os 80.

O Sr. Cancella de Abreu: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faça favor.

O Sr. Cancella de Abreu: - Tenho ouvido com o maior interesse a exposição de V. Ex.ª não quero deixar de dar o meu apoio àquilo que tem estado a dizer. Em primeiro lugar, o futuro hospital de Beja é um magnífico edifício que se espera muito venha a contribuir para a saúde em Portugal. Por outro lado, é verdadeiramente alarmante, irão só no distrato de Beja, mas em muitos outros distritos de Portugal, a situação dos médicos. Devo, no entanto, dizer a V. Ex.ª. que tenho um certo optimismo quanto ao futuro. Estabeleceram-se as carreiras médicas que começaram por funcionar apenas nos hospitais centrais. Vão agora passar a estender-se aos hospitais regionais, um dos quais será certamente o de Beja, e numa terceira fase estender-se-ão aos hospitais sub-regionais. Comungando nas grandes preocupações que V. Ex.ª aqui apresentou, e muito bem, antevejo o futuro com relativo optimismo.

O Orador: - Muito obrigado, se Deus queira que assim seja e assim se concretize.

Mesmo Beja, o centro da medicina da região, viu, no mesmo intervalo de tempo, diminuir o número dos seus médicos de 25 para 22.

Também o conselho de Aljustrel, que dispunha em 1954 de 7 médicos, tem actualmente 6, 3 dos quais já ultrapassaram os 70 anos de idade.

Está diminuição do número de médicas verifica-se, aliás, em quase todos os concelhos do distrito.

Assim, por exemplo:

Durante os últimos quinze anos diminuíram assim quantitativamente as possibilidades da assistência médica das filhos do bom povo rural alentejano.

É este o panorama drástico, que certamente ainda poderá piorar num futuro breve, da medicina do Baixo Alentejo.

As suas causas suo diversas, mas terão de ser estudadas quanto antes para que o problema possa ser devidamente equacionado e lhe seja dada a solução mais conveniente.

A minha preocupação dominante julgo ter ficado bem expressa.

Para que o novo Hospital Regional de Beja possa desempenhar a contento a missão que está prestes a iniciar é absolutamente imprescindível que os hospitais sub-regionais não sejam esquecidos, e estas unidades, que lutam com tantas e tão graves deficiências, têm actualmente no distrito de Beja a maior que qualquer unidade hospitalar pode ter: uma carência grave dos operários necessários ao seu funcionamento, visto faltar-lhes o seu motor fun-