intenso movimento que a utiliza, o que prejudica as duas cidades e as suas economias.

Naquele eixo Coimbra-Figueira da Foz encontrará a indústria, logo que regularizado o rio, os caudais necessários às suas exigências. Já algumas das indústrias hoje existentes lutam com dificuldades enormes de falta de água, tendo as suas possibilidades de expansão limitadas enquanto o Mondego não lhes puder fornecer os caudais de que necessitam. A regularização do rio pode ainda oferecer a possibilidade de haver um canal navegável até Coimbra, que muito poderá contribuir para o desenvolvimento industrial de toda esta zona.

O Sr. Engenheiro Araújo Correia, no parecer das contas gerais do Estado do último ano, punha já em relevo a grande importância e a necessidade da navegabilidade do Mondego até Coimbra.

Agora que vão ser elaborados planos e projectos não deve deixar de ser considerado esta hipótese e estudada a sua viabilidade,, que muito poderá contribuir para que Coimbra atinja aquela dimensão a que tem justo direito, como cidade universitária e terceira cidade do País.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Ligado fortemente ao desenvolvimento da economia da região e beneficiando da regularização do Mondego está o porto da Figueira da Foz. Já mais de uma vez tratei nesta Câmara deste momentoso e importante problema, mas, exactamente pela grande importância de que se reveste, não poderei deixar de voltar a falar nele, e até porque falando dos campos do Mondego não poderia deixar de pensar naquele, visto que no desenvolvimento de uma região há necessidade da integração da agricultura no planeamento harmónico do conjunto das actividades económicas.

Não se encontra justificação, Sr. Presidente, que se tenha concluído a 1.º fase vai para três anos, onde se investiram já quase 100 000 contos, e não se dê execução aos planos estabelecidos na parte interior do porto, cujo investimento previsto se julga inferior àquela verba, para assim se obter toda a rentabilidade da obra e do dinheiro já investido.

O movimento da pesca atingiu cerca de 95 000 contos em 1969, sendo cerca de 75 000 contos de sardinha, situando-se assim em segundo lugar dos portos de pesca de sardinha. E é de referir que, apesar de o ano para esta pesca ter corrido francamente mal em todo o País, em que a captura de peixe foi muito baixa, o valor do pescado, na Figueira da Foz, foi superior em 713 contos ao ano anterior.

A pesca de arrasto costeiro tem vindo a subir de ano para ano, tendo atingido, em 1969, 19 000 contos, contra 8200 contos em 1964.

Se acrescentarmos a este valor do pescado o valor da pesca longínqua (bacalhau), que atingiu, em 1969, 47 000 contos, cujas empresas têm aqui as suas instalações, mas têm de fazer as descargas noutros portos e fazer o transporte para aqui em camioneta, verificamos que o movimento seria de 142 000 contos.

Possui ainda o porto da Figueira da Foz três estaleiros, cujo valor anual de construção atingiu cerca de 100 000 contos. O movimento total do porto atinge, assim, já hoje, apesar de todos os condicionalismos a que ainda está sujeito, mais de 500 000 contos, que, se considerarmos a pesca dos arrastões de bacalhau que pertencem aqui, subirá a mais de 550 000 contos.

Mesmo nas condições precárias em que ainda se encontra, não pode ser considerada despicienda esta verba de 500 000 contos, que atingiria cifra muitíssimo mais elevada se dispusesse daquelas condições mínimas indispensáveis à movimentação de barcos e mercadorias. Mas, se o porto nestas condições teria um interesse grande para a região, não o seria menos para o País.

A emigração atingiu grandes proporções, como ainda ontem aqui foi frisado pelo nosso colega Camilo de Mendonça, que não podem deixar de causar sérias preocupações.

Este fenómeno, porém, só poderá diminuir se criarmos actividades em que a mão-de-obra encontre remuneração conveniente, que permita melhores condições de vida. Isto só se conseguirá nesta região com uma lavoura revitalizada, que, neste caso, estará dependente da regularização do rio, acompanhada por uma industrialização deliberada.

O porto da Figueira, pelas suas características, pela sua localização, pelo vasto hinterland que serve, é, incontestavelmente, o principal pólo de desenvolvimento de toda aquela região, e que maior influência terá numa chamada às indústrias.

Mas julgamos ainda que o crescimento do movimento portuário do País exigirá a sua utilização a níveis de grande porto.

O movimento portuário do continente cifrou-se em 11 milhões de toneladas em 1966, o que dará cerca de 1,2 t por habitante. Se compararmos com outros países, verifica-se que naqueles a capitação atinge números muitíssimo mais elevados.

Por exemplo, a Espanha teve em 1969 uma capitação de cerca de 4 t por habitante.

Se queremos, como realmente esperamos, atingir os níveis de desenvolvimento industrial e económico dos restantes países da Europa, certamente que o movimento portuário também terá de se aproximar desses outros índices.

E, sendo assim, como comportarão os grandes portos esse movimento, se já hoje se verificam neles as maiores dificuldades?

Mas se esta não fosse uma razão válida, só a acção deste porto como pólo de desenvolvimento de toda uma região que necessita de ser revitalizada teria a maior justificação para os investimentos que se torna necessário fazer, a fim de o pôr operacional.

A potencialidade do seu hinterland está bem demonstrada e muitas são as firmas que desejam fazer a movimentação dos seus produtos através dele, mas que não o podem fazer pela limitada capacidade das infra-estruturas existentes.. Estava prevista no plano de obras de 1969 a construção de um novo cais, em estacaria de betão, mas que ainda não chegou sequer a ser posto a concurso. É urgente que esta obra se execute, assim como é urgente a continuação das dragagens de 1.º estabelecimento, interrompidas há mais de um ano.