que, no fundo e na sua maioria, preferem a Pátria à corrida desordenada ao dinheiro e condições de vida que lhes são proporcionados pelos países para onde emigram.

Vozes: - Muito bem!

O orador foi cumprimentado.

O Sr. Alarcão e Silva: - Sr. Presidente: Seja-me permitido, ao iniciar estas despretensiosas considerações sobre o «bem da civilização» que é a electricidade, analisado do ponto de vista de um simples consumidor sito algures neste país, começar por citar essa figura grande da electrificação nacional que foi José do Nascimento Ferreira Dias Júnior. À sua memória se curva reverente um de entre os mais novos desta Assembleia.

«De entre as infra-estruturas do edifício económico [...], o abastecimento de energia eléctrica é dos mais exigentes» e, acrescentaríamos nós, dos mais exigidos.

A vida moderna, ainda quando observada fora do cerrado da economia, depende, servilmente [...] desta força natural, que os Gregos entreviram centenas de anos antes de Cristo, que se apagou na história até «o começo do século XVII, que cristalizou depois disso quase duzentos anos na forma de electricidade estática, e que nos últimos cento e cinquenta anos, com o .poder maravilhoso da corrente eléctrica, subjugou o mundo. Como reacção, o imundo exige-lhe uma luto. «em trégua, o crescimento sem limite e sem demora; neste sector não cabe discutir se deve fazer-se mais ou menos, porque há que fazer o necessário. Salvo em casos restritos, a electricidade já não é um estimulante da vida económica, mas uma imposição desta.

Mas é feliz a electricidade. Vive a sua hora de expansão e opulência [...]*.

Não iremos referir exaustivamente o esforço que houve que fazer para criar neste sector, e em Portugal, uma base que não existia.

Mas tem, sem dúvida, interesse alinhar uns quantos números para dar uma ideia da evolução operada em Portugal, desde que existem apuramentos:

[...ver tabela na imagem]

O que foram esses primeiros tempos da «electrificação» verdadeiramente «nacional» que haveria de surgir mais tarde está ainda na lembrança de muitos de vós, caros colegas de maior idade desta Assembleia, mas importa recordá-lo e justo é que a juventude se silencie e conceda a palavra, uma vez mais, a quem desapareceu do convívio dos vivos, mas está presente entre nós pelo seu espírito e, sobretudo, por uma obra que foi sobremodo sua:

O projecto desse primeiro plano (o I Plano de Fomento), na prudência com que se encarava os meios de produzir energia, na imprecisão com que contemplava o seu transporte e distribuição, na modéstia das suas intenções de electrificação [...], reflectia bem a arquitectura ainda instável de uma ideia nova, a hesitação na escolha de um caminho que não era o habitual.

Recordar é já viver. Valeu bem a pena ter vivido essa vida.

E, assim, «do monte de esperança e de dúvidas, talvez amorfo, mas luminoso de fé, a que era legítimo reduzir a teoria de pensamento do Governo, da Câmara e do País, nasceu, sobre o alicerce de uma, distribuição incompleta e dispersa, uma realidade - a electrificação»5.

Para traduzir num simples, mas expressivo, índice o progresso da electrificação nacional, pode dizer-se que a produção de energia eléctrica cresceu desde essa data a uma taxa vizinha de 11 a 12 ,por dento, em média, ao ano, o que significa uma duplicação de produção e de consumos sensivelmente em cada período de seis a sete anos.

Espectacular arregimento foi esse, mesmo atendendo à modesta base de partida.

Pode, assim dizer-se, «como afirmou esse outro qualificado profissional que sucedeu a Ferreira Duas na representação do sector, o engenheiro Paulo de Bairros, que «qualquer pessoa conhecedora dos problemas eléctricos sabe e conhece o enorme esforço realizado pela industria eléctrica, o progresso atingido e o seu alto nível tecnológico, que lhe permitiu assegurar a cobertura do consumo com serviço de boa qualidade» (na generalidade, acrescentaríamos nós) «e ocupar lugar de relevo nos organismos internacionais a que pertence»6.

Apesar da verdade, «isto não significa», como reconhece o digno relator deste parecer, «não haver sempre melhorias a introduzir, impostas, umas, pela própria evolução

1 Em capital e em pontualidade na sua realização.

2 José do Nascimento Ferreira Dias Júnior, «Parecer n.º 3/VII, projecto do II Plano de Fomento (1959-1964). Metrópole (continente e ilhas)», in Pareceres (VII Legislatura), ano de 1958, Câmara Corporativa, Lisboa, 1959, pp. 447-448.

3 Tose Nascimento Ferreira Dias Júnior, «Parecer subsidiário da secção de Electricidade e combustíveis acerca do capítulo III - Electricidade», in Pareceres (VII Legislatura), ano de 1958. Câmara Corporativa, Lisboa, 1959, pp. 770-771.

5 Idem, pp. 771-772.

6 Paulo de Barros, «Parecer subsidiário da subsecção de Energia e combustíveis da secção de Indústria, sobre o capítulo VI - Energia, do título II - Programas sectoriais, da parte referente ao continente e ilhas do projecto do III Plano de Fomento, para 1968-1973» in Pareceres (IX Legislatura da Câmara Corporativa, ano de 1967, vol. n, Lisboa, 1969, p. 658.