que nós, Portugueses, dispondo de um extenso espaço económico alicerçado em sólida unidade política, fôssemos destruir aquele e quebrar esta, abandonando uma construção onde somos tudo para nos integrarmos numa outra que é dominada por outros e onde não seríamos nada.

E, assim, é esta visão larga da comunidade portuguesa, encarando os problemas a uma luz nova dimensionando-os em escala territorial nacional e apoiando-se num vasto movimento colectivo, que nos permitirá conceber em grande e construir em grande.

E à luz destes princípios que as províncias ultramarinas de Angola e Moçambique, pelos seus enormes recursos e vastidão territorial, assumem importância- cada vez maior no desenvolvimento global da comunidade nacional.

ditarei apenas alguns pontos relativos a Moçambique, que nesta Assembleia tenho a honra de representar.

Para um desenvolvi mento industrial considerável é necessária energia abundante e a baixos preços.

Os recursos energéticos tradicionais da metrópole são relativamente modestos, e estão a iniciar-se os trabalhos de Cabora Bassa.

Para uma apreciação da grandiosidade do empreendimento, citarei alguns dados extraídos do relatório- dos Serviços. Autónomo de Moçambique de 1967:

A potência total a instalar (3 600 000 KW) é superior ao dobro da potência instalada nos aproveitamentos metropolitanos em 1966, incluindo as centrais térmicas (l 700 000 KW);

Só cada um dos grupos de Cabora Bassa (400 000 KW) tem uma potência equivalente à das duas maiores centrais metropolitanas (Picote e Bemposta);

A produção anual garantida pelo aproveitamento (18 500 milhões de kilowatts-horas) é três vezes e meia superior à totalidade da energia eléctrica produzida na metrópole em 1966 ,(5200 milhões de kilowatts-hora):

A capacidade útil da albufeira (52 000 milhões de metro públicos) lê cerca de sessenta vezes a capacidade útil do Castelo do Bode, que é a maior albufeira metropolitana (870 milhões de metros cúbicos) ;

A área inundada pela albufeira dê Cabora Bassa é de cerca de 2800 km2, ou seja da mesma ordem de grandeza da área do distrito de Lisboa (2761 km2).

Se considerarmos ser Cabora Bassa apenas um dos muitos aproveitamentos (possíveis no rio Zambeze e seus afluentes, poder-se-á ter uma ideia do grande potencial de energia só nessa zona de Moçambique susceptível de aproveitamento, a que podem acrescentar-se os carvões de Moatize, situados na mesma região, com utilização actual reduzida, por falta de actividades que os consumam.

No volume II dos Pareceres da Câmara Corporativa, a p. 665, ao tratar-se da coordenação metrópole-ultramar quanto aos recursos da energia em apreciação do III Plano de Fomento, escreveu-se:

Chama-se a particular atenção para o problema da utilização dos carvões de Moçambique, que tem incontestável interesse, embora revista dificuldades muito grandes, e para a instalação preferencial de indústrias grandes consumidoras de electricidade.

E transcreve-se, no mesmo parecer, a admiração feita no capítulo do projecto do III Plano de Fomento (n.º 30):

A natureza dos recursos energéticos da metrópole não aconselhar a instalação de novas indústrias grandes consumidoras de electricidade do tipo electro-químico ou electrossiderúrgico.

Tendo-se em conta que os preços da energia produzida em Cabora Bassa são dos mais baixos do Mundo, não será difícil concluir onde localizar muitas das nossas indústrias, se quisermos obter produtos a preços competitivos nos mercados internacionais, e da necessidade em nos voltarmos cada vez mais para o ultramar, se quisermos ter no futuro alguma grandeza que se harmonize com o nosso passado.

Na última proposta, da lei de autorização de receitas e despesas para o ano em curso, apresentada a esta Câmara pelo Governo, frisa-se a intenção de criar pólos regionais de desenvolvimento para obviarem ao macrocefalismo de certas zonas.

Em Moçambique tem sido a zona de Lourenço Marques a que, por várias razões, tem merecido a preferência na instalação de indústrias.

Todavia, a sua situação no conjunto da província - no extremo sul -, as dificuldades de comunicações com as zonas ao norte, a localização dos principais recursos e riquezas nos distritos situados no Centro e Norte, tem que levar a ponderar seriamente sobre as zonas de desenvolvimento a incentivar.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: - Tendo-se em conta que se devem considerar preferenciais as regiões que apresentam maiores potencialidades e a susceptibilidade de um mais rápido e elevado progresso, são os distritos da Zambézia e de Moçambique que devem merecer especiais atenções da Administração e dos particulares interessados em investir rendosamente.

Antes de mais, é desses dois distritos, principalmente do primeiro, que sai a grande maioria dos produtos exportados pela província, sendo o seu valor muito superior a 50 por cento do total exportado. Comparativamente, cada um dos restantes distritos exporta valores relativamente pouco significativos no total.

Se atentarmos no facto certo de que a produção de tais riquezas se deve na quase totalidade aos esforços dos que por lá labutam, facilmente se concluirá quanto se poderá aumentar a riqueza produzida com uma activação do fomento dessa zona, mediante a criação das infra-estruturas de comunicação e fontes de energia, cada vez mais necessárias, e a orientação das actividades produtivas.

Em segundo lugar, sendo a população total da província calculada em cerca de 7 238 500 habitantes no ano de 1967, com base nos dados do Anuário Estatístico relativos a 1960 e taxa de crescimento do decénio anterior, a Zambézia teria nesse mesmo ano 1 515 640 habitantes e o distrito de Moçambique, 1533140, no conjunto 3048780 habitantes, o que corresponde a um pouco mais de 42 por cento da população total da província.

Por conseguinte, e ali possibilidades, do obtenção de mão-de-obra superiores às de qualquer outra região de Moçambique.

Depois, são grandes- as possibilidades de obtém cão de elevados recursos de energia dos cursos de água, principalmente na Alta Zambézia, e que podem propiciar instalação de diversas indústrias para aproveitamento das matérias-primas produzidas localmente:

Considerando que são restritas as possibilidades de produção de energia hídrica a sul do rio Búzi, fácil é compreende r o euro da concentração industrial na zona de