Interessa-nos antes de tudo fazer uma política realista, que seja realmente benéfica para todas as parcelas do território nacional, e não lançar slogans demagógicos que contraponham, como inconciliáveis, uma política europeia a uma política ultramarina.

O voto dos eleitores, exige de nós, seus representantes, e do Governo da Nação, não que farisaicamente pronunciemos todas as ocasiões o nome «ultramar», ao qual se acrescenta, para descanso da consciência interna, cuja tranquilidade foi perturbada por uma guerra que nos foi imposta do exterior», mas sim que o» problema» sejam encarados de frente, com realismo, e as necessárias soluções preparadas com tempo, com habilidade e com inteligência. Se temos de «conquistar a paz», se a paz passa em grande parte pelo desenvolvimento económico, travemos também corajosamente a guerra, que nos é imposta pelo nosso subdesenvolvimento interno.

O Sr. Teixeira Pinto: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: -Faça favor.

O Sr. Teixeira Pinto: - Creio que o histerismo de que V. Ex.ª fala não foi das palavras que se pronunciaram aqui: O histerismo está na maneira como as pessoas tornaram essas palavras. V. Ex.ª refere que não há possibilidade de serem inconciliáveis as opções. Pois não. Isso nunca foi dito por mim, nem sequer pelo Sr. Presidente do Conselho. O Sr. Presidente do Conselho definiu claramente, em frase que eu citei, a nossa política em relação a Europa. Portanto, não se falou em serem ou não inconciliáveis as políticas. O problema que se põe é se nós, pela via económica, não estamos a querer trair outros interesse», ou melhor, esquecê-los, minimizá-los. E, portanto, a opção entre ultramar e Europa é uma opção política com laivos económicos. V.Ex.ª conhece as razões fundamentais da opção pela Europa, que suo perfeitamente darás. Foi uma opção política que se quis fazer por via económica.

Em relação a Portugal, o problema que se põe é o seguinte: nós, neste momento, estamos integrados numa Associação Europeia de Comércio Livre, onde, para além das opções económicas, temos que atender as opções de natureza política.

Portanto, o problema do Livro Branco inglês não é o de saber se é caro ou barato; os Ingleses chegaram à conclusão de que no plano económico é caro. O problema da Associação Europeia de Comércio Livre é se a opção política que tem de tomar-se é ou não paga em termos económicos, visto que os Ingleses antes de defenderem uma teoria fazem as contas.

0 Orador: - E V. Ex.ª opta por essa solução inglesa?

O Sr. Teixeira Pinto: - Eu não fiz contas em relação ao ultramar. E como es mão fiz, disse que, em relação ao ultramar,- a opção política estava tomada. Dentro dela temos de encontrar a melhor solução de natureza económica. Tomando como base a via económica, arriscávamo-nos a chegar à mesma conclusão a que chegaram os Franceses em relação aos seus territórios ultramarinos. Escuso de dizer o que é que isto significa.

O Orador: -Tenho a impressão de que, dada n extensão dos apartes de V. Ex.ª, o melhor será inscrever-se para usar da palavra sobre o assunto de que venho tratando.

V. Ex.ª consultou o Livro Branco da Inglaterra em relação ao Mercado Comum, tão grande, é o interesse com que ao facto se refere. Gostaria, já agora, que consultasse também, o Livro Branco dos Ingleses em relação os suas possessões ultramarinas.

O Sr. Teixeira Pinto: - Mas V. Ex.ª concorda com ele?

O Orador: - Não quero inculcar isso, mas apenas que quem manifesta interesse em conhecer umas coisas deve atentar nas outros. E é melhor ficai-mos por aqui ...

O Sr. Teixeira Pinto: - V. Ex.ª permite-me um esclarecimento?

O Orador: - V. Ex.ª já me interrompeu durante bastante tempo, quase parecendo que é V. Ex.ª que está no uso da palavra.

O Sr. Teixeira Pinto: - Creio bem que é legítimo que eu pretenda ser devidamente esclarecido.

O Orador: - Sr. Presidente, peço a intervenção de V. Ex.ª, pois o Sr. Deputado Teixeira Pinto pretende, contra a minha vontade, continuar a interromper-me.

O Sr. Presidente: - O Regimento é bem claro que nenhum orador pode ser interrompido sem o seu consentimento.

O Orador: - Quanto ao problema do desenvolvimento das restantes parcelas do espaço nacional, a minha opinião, já várias vezes expressa nesta Casa, é que o mesmo não é viável sem se fazer primeiro o desenvolvimento da metrópole, pois é com base nele que deve partir-se para o desenvolvimento do restante território nacional.

O Sr. Serras Pereira: - É uma opinião.

O Orador: - Com certeza.

Finalmente, tornam-se ainda necessários alguns comentários à ideia de que o nosso desenvolvimento industrial nos últimas décadas tem sido satisfatório, e que se tal, porventura, não aconteceu, isso não se deve ao condicionamento industrial.

Na verdade, «pelos frutos os conhecereis», e os índices estatísticos actuais indicam que. em relação a há vinte anos perdemos terreno e que estamos economicamente, infelizmente, na cauda da Europa.

Assim, em relação á vizinha Espanha, cada habitante do continente português obtinha, em 1947, menos 6600$ do que cada espanhol: em 1966, utilizando sempre este índice geral constituído pela capitação do produto nacional bruto, já cada habitante do país vizinho dispunha de um produto bruto que excedia o da média de cada português era 7090$ por ano. Em 1947 cada grego dispunha de uma capitação do produto nacional bruto, relativamente a cada português, que lhe era somente superior em 86$ anuais: em 1966, essa diferença já era de 7488$. Em 1947, cada irlandês dispunha, em média, de mais 1480$ do que cada compatriota nosso; em 1966, essa diferença passara já para 16700$. Finalmente, lançando inflo dos dados relativos a um país evoluído que faz parte da E. F. T. A., a Inglaterra, essas diferenças serão, como é natural, ainda mais impressionantes: 13248$ em 1947 e 40118$ em 1966.

Estes índices gerais já nos dizem alguma coisa, mesmo em relação ao problema da industrialização, pois se o País nas últimas décadas tivesse conhecido um verdadeiro processo de industrialização, ou estivesse em vias