tudo, desorientada. Falta quem, conhecendo os problemas peculiares de cada região dentro de um contexto nacional, indique uma solução a longo prazo, que permita enfrentar os poblemas do presente e do futuro. Faltam empresários agrícolas actualizados, porque também não há quem os actualize. Faltam trabalhadores rurais, cuja saída em larga escala, se facilitou uns problemas, complicou outros.

Quase tudo falta, no que se refere à preparação dos homens para as tarefas de uma agricultura moderna. E, sem isso, todas as reformas, por melhor intencionadas que sejam,

hão-de fatalmente fracassar.

A situação a que chegámos resulta, em grande parte, do muito pouco que se tem feito para encaminhar e estimular as novas gerações para o ensino agrícola ou para-agrícola.

Num país cuja principal actividade económica tem sido a agricultura, não pode compreender-se que, no conjunto educacional português, o ensino agrícola apresente números que são verdadeiramente desanimadores quanto às perspectivas de formação dos técnicos e práticos agrícolas, ou paragrícolas de que o País necessita.

No volume das Estatísticas Agrícolas e Alimentares, de 1968, respeitante à metrópole, que o Instituto Nacional de Estatística acaba de publicar, pode observar-se que no ano lectivo de 1967-1968 foi o seguinte o movimento nas escolas de ensino agrícola:

No que se refere à organização de cursos de formação e aperfeiçoamento profissional, funcionaram, em 1968, 86 cursos de natureza diversa, nos quais se inscreveram 1053 alunos, o que dá uma média, por curso, de cerca de 12 alunos.

Estes números não podem deixar de impressionar pelo que denotam de falta de interesse por uma actividade que tem sido a principal fonte de produção nacional, só superada, nos últimos anos, pela indústria. E se se pensar que vive ligada à agricultura uma terça parte da população portuguesa, esses números são ainda mais concludentes.

Tudo isto nos faz perguntar: Têm-se oferecido condições de remuneração suficientes paca aliciar para os serviços oficiais os engenheiros agrónomos, os engenheiros silvicultores, os médicos veterinários e os regentes agrícolas? Por que razão alguns dos nossos melhores técnicos, ezn cada uma dessas especialidades, preferem as empresas privadas? Que se tem feito no sentido de integrar os empressários agrícolas nas m odernas técnicas de gestílo e os trabalhadores rurais em actualizados conceitos de produtividade?

Será com o reduzido número de técnicos que os serviços oficiais têm nos seus quadros e com empresários e trabalhadores rurais insuficientemente preparados - não só por culpa própria, mais por falta de apoio técnico - que se poderá promover a viragem que todos desejamos e que todos sentimos cada vez mais premente?

Estas e outras interrogações, muito pertinentes em face das realidades que as estatísticas comprovam, me assaltam frequentemente o espírito. A mim e, certamente, a todos os que; vivendo da agricultura, sentem na sua própria carne o preço de muitos erros e de muitas improvisações.

Enquanto vemos florescer, num sintoma de saudável vitalidade, relativamente, à indústria e ao comércio, cursos oficiais e particulares de especialização de empresários, de técnicos de vendas, de marketing, de informática, e, ainda, cursos de formação profissional acelerada, cabe perguntar o que se tem feito no domínio da agricultura, relativamente às necessidades do País?

A nossa agricultura, segundo alguns economistas, está ainda demasiadamente dependente dos recursos em mão-de-obra. Com efeito, apesar da sangria provocada pela larga emigração da nossa gente dos campos, ainda hoje vive da agricultura cerca de 33 por cento da nossa população activa. E esse número, segundo afirmação recente do Sr. Subsecretário de Estado do Planeamento Económico, baixará, dentro de pouco tempo, pana 20 por cento. Ora, se o excesso de população concentrada nas actividades primárias é sintonia de subdesenvolvimento, quer-nos parecer que o não será menos a falta de mão-de-obra especializada, que possa suprir em qualidade o que se perdeu em quantidade. E, desde que esse mínimo de mão-de-obra altamente preparada existisse, não só a produtividade aumentaria, como ainda se valorizaria, justamente, o trabalho humano.

Tal como estamos é que não poderá continuar-se, sob pena de vermos deteriorar-se ainda mais a situação da nossa agricultura.

A legítima justiça tem sido progressivamente aplicada uma favorável legislação social, mas que, paradoxalmente, tem diminuído a sua produtividade. O aumento de procura tem contribuído para a elevação dos salários, mas como nada tem sido feito para aumentar a rentabilidade do trabalho, sucede que a situação se transformou em móis um pesado encargo para uma lavoura sem poder económico.

Voltamos, assim, ao princípio dia questão posta: a necessidade de valorizar os homens e de modernizar os processos de exploração agrária.

Tem sido defendida por alguns economistas a necessidade de uma reforma agrária. Mas será exactamente de uma reforma agrária que nós precisamos ou de uma reforma de processos agrários? A reforma agrária colide com o legítimo direito de propriedade. A reforma de processos agrários, respeitando o direito de propriedade, pretende, através da modernização dos processos de exploração, aumentar aprodutividade e a riqueza da Nação.

Poderá pensar-se que uma divisão mais equitativa da propriedade, decorrente de uma reforma agrágria, contribuiria para a melhoria das formas de exploração? Quer-me parecer que não, uma vez que a tendência dominante, aqui, como em outros países de maior evolução agrícola, é para a formação de largas extensões territoriais, que constituam, pela agregação das médias e pequenas propriedades, explorações rentáveis. Aliás, é compreensível que os pequenos e médios proprietários não possuam, por si sós, capacidade financeira para modernizarem as suas explorações. Mas, se todos se compenetrarem da necessidade imperiosa de se formarem explorações amplas, de culturas adequa-