candidatos e, sobretudo, as correntes de pensamento político que eles representavam tiveram também importância de relevo. Cedo começaram as oposições a reconhecer a existência de verdadeiro pluralismo nas listas da União Nacional. Os dirigentes mais responsáveis deste organismo afirmaram praticar uma verdadeira política de abertura, e de alguns sectores mais vinculados ao monolitismo político tradicional cedo surgiu também a acusação de se praticarem não aberturas, mas autênticas brechas. Verificou-se, assim, que as listas da União Nacional, com a inclusão ide candidatos considerados mais liberais, ultrapassavam o velho esquema Oposição-Situação. Essa abertura fez desaparecer em muitos a alergia que tinham à velha União Nacional e permitiu-lhes votar nos candidatos por ela propostos.

Neste aspecto, as eleições perderam o significado tradicional de voto em Oposição ou Situação e consagraram um pluralismo político desejável e sadio.

Não se pretenda, portanto, rigorosa homogeneidade ideológica desta Assembleia, porque o pluralismo define a sua autenticidade, aproximando-a mais do ideal de imagem da Nação que representa.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - No pluralismo está a sua verdadeira novidade, a sua riqueza, e não a sua pobreza. Oxalá que o pluralismo se vá ensaiando em diálogo e colaboração e se não perca ou desvirtue na aparênciaou confusão de divergências pessoais.

5 - Finalmente, ainda dentro do significado das eleições, e por razões já apontadas, parece-me evidente que o eleitorado votou na ideia da renovação, numa renovação dentro da ordem. A continuidade representa apenas um ponto de partida, o pressuposto da ordem, o reconhecimento e valorização do que se fez.

O Sr. Almeida Cotta: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faça favor.

O Sr. Almeida Cotta: - Tenho ouvido com muita atenção as considerações de V. Ex.ª, mas chegou uma altura em que também tenho dúvidas, de maneira que venho pedir-lhe o obséquio de me esclarecer sobre o que entende por «pluralismo». Esta minha dúvida resulta da circunstância de que, nesta Câmara, todos foram candidatos pela União Nacional. Ora, a União Nacional tem um idearia, o que ainda há pouco se referiu e foi já inserto na parte dos estatutos que regula a disposição. Fico, portanto, perplexo e sem atinar bem com o sentido e alcance que V. Ex.ª quer dar ao termo «pluralismo», que manifestamente é uma novidade. Se com pluralismo se quer significar diferentes maneiras de ver ou de interpretar as coisas ou acontecimentos, tenho de dizer que isso não constitui novidade. Aqui dentro da própria Assembleia sempre houve maneiras diferentes de encarar a solução dos problemas. O mesmo se passa em todos os órgãos colegiais. Qualquer que seja a sua natureza, económica, política ou religiosa, existe um corpo de ideias, e isso é que é fundamental. Era isto que eu gostaria que V. Ex.ª me explicasse acerca do sentido e alcance que dá ao termo «pluralismo».

O Orador: - Tenho todo o prazer em responder à pergunta feita pelo Sr. Deputado Almeida Cotta. Eu, por «pluralismo» entendo, evidentemente, e refiro-me aqui ao caso da Assembleia, a representação de correntes de pensamento político diferentes. Isto é a noção abstracta.

O Sr. Almeida Cotta: - Então não compreendo. Se houvesse aqui Deputados apresentados por outras organizações ou correntes de pensamento, ainda entendia. Mas se todos se deixaram apresentar pela mesma organização que tem o seu corpo de ideais, então é que não entendo.

O Sr. Oliveira Dias: - Peço licença para recordar a este propósito um texto do próprio Prof. Marcelo Caetano, o qual refere que dentro da União Nacional há diversas correntes! Uma corrente mais conservadora, outra mais de centro e outra mais progressiva. Isto foi dito, repito, pelo próprio. Prof. Marcelo Caetano.

O Sr. Melo e Castro: - Isso foi dito no congresso de 1946 e corresponde ao artigo 2.º dos antigos estatutos da União Nacional.

Este é um esclarecimento que me julgo na obrigação de prestar.

O Sr. Pinto Leite: - Todos nós sabemos, e foi dito pelo Presidente do Conselho e dirigentes da União Nacional que esta organização não é um partido e, portanto, está aberta a nuads de uma corrente política, embora haja pontos fundamentais e comuns. Gostaria de saber qual é, afinal, o ideário central da antiga União Nacional. O que é facto é que, não sendo um partido, permitem-se várias correntes políticas. O que uniu todos os candidatos apresentados pela União Nacional nas últimas eleições foram dois pontos fundamentais: a presença portuguesa no ultramar e a defesa da ordem pública.

O Sr. Barreto Lara: - Eu declarei-o publicamente quando me candidatei. Nunca fui partidário da União Nacional, o que afinal não era óbice a que eu pudesse candidatar-me.

O Sr. Almeida Cotta: - Não vale a pena estarmo-nos a reportar ao passado. Eu referi-me aqui aos estatutos da organização que inscrevem, no seu artigo 2.º, entre outras coisas, por exemplo, a defesa, e integridade do território nacional. Foi este precisamente um dos aspectos focados pelo Sr. Deputado Santos da Cunha.

O Orador: - Eu sou partidário disso mesmo.

O Sr. Almeida Cotta: - Não digo que não, mas se um ou outro princípio já estabelecidos não forem respeitados por quem faz parte desta Casa, não percebo como é que, simultaneamente, se pode falar em pluralismo.

O Sr. Pinto Leite: - Mas esses princípios não estão em causa.

O Sr. Almeida Cotta: - Eu só quero dizer que o plura-ralismo tem certos limites. Talvez pudesse haver vocábulo mais feliz, essa ideia que satisfizesse as preocupações técnicas e literárias de alguns Srs. Deputados.

Parece-me que traduzi claramente o meu pensamento. Dentro disso, há pessoas que encaram as soluções por uma forma ou por outra, mas há limites que não se podem ultrapassar.

O Orador: - Estou de acordo. E para que nenhum Sr. Deputado fique com dúvidas sobre a corrente ideológica em que me integro, eu não tenho dúvidas em declarar que sou católico e que a minha ideologia é a doutrina social da Igreja.