O Orador: - Mas não deixo de lamentar que, para ganharem essa nova dimensão, tenham tido necessidade de sair do seu país, correndo riscos sem conta e sofrendo, muitos deles, traumatismos psíquicos incuráveis. A culpa é nossa, meus senhores, exclusivamente nossa, porque não soubemos prever, porque não soubemos acompanhar o ritmo de desenvolvimento que marcou a Europa do pós-guerra, porque usufruímos despudoradamente o sacrifício dos modernos servos da gleba. Responderam-nos sem revolução, sem alienação dos autênticos valores, sem queixumes. Acompanhemo-los na sua odisseia, soframos com eles o seu calvário e permitamos que o seu anseio de voltar à Pátria possa ser em breve uma realidade por todos festejada e desejada.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Sr. Meneses Falcão: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Sr. Presidente: - O Sr. Deputado Correia da Cunha já terminou a sua intervenção. Assim, V. Ex.ª apenas pode pedir a palavra para esclarecimentos, se o achar conveniente.

O Sr. Meneses Falcão: - Sr. Presidente: Peço desculpa pelo meu lapso, mas não me tinha apercebido de que o Sr. Deputado Carreia da Cunha já tinha concluído as suas considerações. V. Ex.ª dá-me então a palavra?

O Sr. Prasidente: - Tem V. Ex.ª a palavra para explicações.

O Sr. Meneses Falcão: - O problema da emigração pode ser equacionado de vários modos. Fundamentalmente, estou de acordo com os pontos de vista do Sr. Deputado Correia da Cunha. Apenas quero refutar A afirmação de que eu invectivei os emigrantes. Ora isso não corresponde à verdade. Simplesmente sou testemunha, como presidente de uma câmara, do facto de algumas mães e pais me virem pedir para eu tentar que os íilhos não emigrem, pois, além de trabalho, podem oferecer-lhes o carinho que nunca encontrarão lá fora. Eu presto a esses emigrantes as minhas homenagens e transfiro assim para os pais a invectiva que o Sr. Deputado Correia da Cunha me atribuiu.

O Orador: - Agradeço ao Sr. Deputado o esclarecimento que me deu. Todavia, as afirmações que fez no seu discurso não terão sido muito felizes, porque nermitiram levantar algumas dúvidas a este respeito. Quanto ao resto, conheço a acção que, vem desenvolvendo no seu concelho e não ponho de forma alguma em dúvida as boas intenções que, neste particular, o amimam.

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Oliveira Ramos: - Sr. Presidente: Creio ser obrigação maior dos Deputados exprimir, com objectividade, os estados de espírito das populações que representam, pondo a nu aspirações e necessidades, dando testemunho de satisfação e reconhecimento, quando é caso disso.

Pois bem: merece aplauso a obra realizada pela Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais em ordem a defender, restaurar e conservar testemunhos da civilização portuguesa nas várias épocas da sua história.

Esses monumentos constituem preciosa legítima, não apenas como sinal e exemplo de grandeza passada, mas ainda como memoriais de significação projectiva. Com efeito, os monumentos nacionais recordam a capacidade do Português paira vencer as carências e os desafios próprios do tempo em que viveu, urgências a que respondeu, à luz das circunstâncias, com maior ou menor arte, com maior ou menor sentido prático. Aí estão castelos e solares, palácios e catedrais, capelas e cenóbios, todos a atestar facetas de épocas pretéritas.

O círculo que represento possui, em cidades, vilas e aldeias, um sem-número de marcas dos tipos agora referidos, cujo simbolismo dinâmico - em período de «trabalhos ciclópicos» - deve perdurar na retina dos cidadãos. E de muitos deles restariam apenas vestígios, não fora o cuidado do M mistério das Obras Públicas e a devoção de quem promoveu as benfeitorias.

Sem embargo, nos nossos dias, há monumentos que carecem de urgente reparo; de outra maneira assistir-se-á à derrocada de edifícios e à perda de obras de arte insubstituíveis.

Por isso, em 1964, nos trabalhos do III Colóquio Portuense de Arqueologia e, logo depois, na imprensa regional, pedimos que se acudisse à igreja manuelina do Convento dos Lóios, em Vilar de Frades, no concelho de Barcelos, que anda votada a lamentável desdém, de par com o portal da sua primitiva capela, portal que é «o mais ricamente historiado do românico português».

Infelizmente, o apelo então formulado não encontrou eco em quem de direito.

Passaram os anos, e em situação calamitosa está o monumental cenóbio de Tibães, que foi cabeça da Ordem Beneditina em Portugal. É um conjunto arquitectónico barroco, digno de todo o carinho, e, afinal, desprezívelmente abandonado, como o Prof. António Cruz vem demonstrando, nas colunas da imprensa, de há vinte anos a esta parte.

Por tudo isto, os Bracarenses souberam, com júbilo, do interesse do Ministro das Obras Públicas pela causa do Convento de Tibães, onde, além do mais, figuram esculturas de Fr. Cipriano da Cruz, quadros de José Teixeira Barreto, azulejos e talha de incalculável valor. Obediente a frutuoso método de trabalho, o engenheiro Rui Sanches esteve no mosteiro a inteirar-se da situação, a ver o que importava decidir. Estamos certos, e connosco todos os bracarenses, de que o caso vai ter solução esclarecida.

O fim desta intervenção é tão-só louvar a visita do Ministro a Tibães e manifestar funda esperança nas resoluções que ela, decerto, suscitou, ou seja na salvaguarda do património monumental e artístico do vetusto cenóbio. O distrito de Braga, que tanto deve a S. Exa., confia no engenheiro Rui Sanches, de olhos postos em Tibães e sem esquecer Vilar de Frades, pois também aí urge salvar preciosas ruínas de iminente derrocada.

Uma vez restituídos ao asseio e fisionomia primitiva, os monumentos lembrarão, aos homens da região, a capacidade construtiva dos portugueses de antanho, capacidade que importa insuflar à consecução das tarefas de agora, em termos próprios do século em que vivemos.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem!

O orador foi cumprimentado.

O Sr. Sá Carneiro: - Sr. Presidente: Oportuna pergunta, recentemente feita ao Governo acerca do envio à Câmara da proposta do estatuto da imprensa, veio avivar assunto que tem estado, creio, presente no espírito de