zendas, quero referenciar apenas aquelas propriedades rurais com expressão social e económica. Muito útil se mostrou esta medida, ainda que, infelizmente, não fosse tão válida como todos desejaríamos, por tardia ou deficiente execução.

E, assim, em traiçoeiro e inesperado ataque, pereceram mglòriamentei, mas em condições trágicas, mais de 2000 portugueses.

Cabe aqui uma palavra da mais elementar justiça para coou o Batalhão de Carmona, unidade militar normal da área, que, apesar do seu pequeníssimo efectivo na sede (três escassas dúzias da homens), se desdobrou em operações verdadeiramente suicidas, mas milagrosamente bem sucedidas. Acções essas que vieram provar mais uma vez o tradicional estoicismo te elevada moção do dever das nossas forças armadas, desses e de outros idos mais tarde e que até hoje ali exercem a função de soberania.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E fazem-no com uma galhardia e um total espírito de sacrifício que nunca é de mais salientar.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E eu, vivendo de perto os acontecimentos e em contacto diário e permanente com eles durante estes últimos nove anos, estou em posição privilegiada para o testemunhar e por isso aqui lhes presto as minhas homenagens do mais elevado respeito, de sentido agradecimento e da maior admiração.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A partir de 15 de Março o alerta foi geral e, portanto, não mais ficámos desprevenidos. Alerta que durou meses, muitos meses, e aqueles que os viveram acusaram traumatismos emocionais e psíquicos de tal ordem que só os mais fortes lhes resistiram ou os esqueceram.

Mas não foram só os militares; todos os civis, funcionários e comerciantes, industriais e agricultores, dando provas de um estoicismo épico, uniram os corações e as mãos e mantiveram a esperança contra toda a esperança e souberam aguentar o primeiro e mais duro embate, guardando para Portugal uma das anais ricas zonas da província de Angola.

Tal atitude foi privilégio dos homens do Uíge, do Quitexe, Negage, Pombo, Quimbele, Santa Cruz, Songo, Bungo, Mucaba, Nova Caipemba, Damba, Maquela, S. Salvador e tantos outros redutos vitais do nosso Congo.

Eles ficaram.

E, ao princípio, era só com eles que estava Portugal.

Mas, se tento dar uma ideia do que foram esses dias trágicos e tento dfcfinir a actuação de um grupo de homens na conjuntura angolana e o alto significado da sua atitude na salvaguarda da integridade nacional, apenas sei comover-me com a saudade dos mortos e a lembrança dos vivos e declarar que me sinto imensamente orgulhoso de representar aqui tal gente.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Muitos morreram; outros cobriram-se de luto pela morte honrosa de amigos, parentes e colaboradores; todos ficaram, praticamente reduzidos à pobreza, alguns à miséria. Mas ficaram.

E graças a Deus e à sua fé recomeçaram tudo de novo e hoje terão, na sua maioria, voltado a usufruir as condições e bens que legitimamente possuíam antes desse malfadado dia das «catanas ensanguentadas».

Gente áspera e bravia, talvez exigente, de palavras rudes e aparentemente rebeldes! Mas a sua rudeza é a daqueles que transformam em ouro a floresta bárbara; as suas exigências lembram as daquele mercador de Borba bradando a D. Duarte que guardasse Ceuta; e a sua aparente rebeldia não passa, afinal, de uma profunda e inteira submissão aos imperativos vitais da Pátria.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Eis, meus senhores, um forte motivo para evocar b dia 15 de Março e a razão por que em Carmona, no Quitexe e Mucaba, todos os anos, nesse dia, religiosamente, se presta homenagem a todos quantos caíram e caem em holocausto à Pátria e regaram ou regam com o seu sangue a terra úbere dessa província portuguesa. Homenagem que, para satisfação e estímulo, tem sempre a presença ilustre dos Srs. Governador-Geral de Angola e General Comandante-Chefe, além de outras altas individualidades civis e militares, ali representando, em realidade vivida, a solidariedade do povo e do Governo Português.

Poderão, por isso, VV. Ex.ªs ajuizar quanto nos sensibilizou a atitude desta Câmara quando da aprovação unânime da moção, votada de pé, em 15 de Dezembro próximo passado, e a satisfação de renovado entusiasmo com que ouvimos as declarações, feitas em 21 do corrente, por S. Ex.ª o Sr. Presidente do Conselho.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: Permita-me V. Ex.ª mais algumas palavras para fazer umas referências ao que considero como reacções francamente positivas ao ataque e conluio internacional de que fomos e estamos sendo vítimas.

Reforçou-se um espírito de solidariedade e de unidade nacional de que alguns andariam arredados;

Testemunhou-se, perante o mundo, e o que julgo ainda mais apreciável, perante nós próprios, uma força e uma capacidade, cujas virtudes, com frequência, teimamos em negar ao homem português;

Alertou-se todo o cidadão português para a verdadeira dimensão da Pátria;

Salientou-se mais claramente a possibilidade de um futuro risonho e mais próspero, para além do viver saudoso de um passado glorioso que, sem o negarmos, nos evidencia um lugar ao sol no conserto das nações, sem exibirmos apenas os pergaminhos de antanho.

O Sr. Pinto Leite: - Muito bem!

O Orador: - Afirmações que julgamos de inteiro cabimento, ao analisarmos e verificarmos o progresso verdadeiramente notável conseguido na última meia dúzia de anos, ao mesmo tempo que cumulativamente fizemos um esforço gigantesco em sacrifícios de toda a ordem, humanos e materiais, para nos defendermos em três frentes, e onde, para já, conseguimos estabilizar uma luta, nas suas mais variadas actividades subversivas, em que muitos nos julgavam irremediavelmente vencidos.

Vozes: - Muito bem!