O Orador: - Estamos também vencendo a batalha sócio-económica, com algumas insatisfações, justas embora, mas compreensíveis pelos espinhos dos problemas e da época.

Termino formulando os mais sinceros e ardentes votos para que, cada vez mais unidos e com maior participação na vida da Nação, possamos em breve ter um verdadeiro e total clima de paz que nos permita dirigir toda a nossa dedicação, o nosso talento, o melhor do nosso esforço intelectual e físico num crescer contínuo de promoção social e desenvolvimento económico do todo nacional.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Júlio Evangelista: - Sr. Presidente: Ao discurso que o Prof. Marcelo Caetano proferiu há dias, em reunião de grande transcendência, não se podia dispensar o devido sublinhado neste Casa de representação nacional. Constituindo, nas linhas essenciais, o enunciado de um ideário político proposto aos Portugueses, e também um apelo à acção dinamizadora, obteve ele repercussão inusitada, que há-de ter nesta Assembleia correspondente ressonância. A isso viemos hoje.

O mandato que, de há quatro legislaturas, o eleitorado generosamente me confia confere-me de algum modo o jus do depoimento de um homem novo com algum passado político, no qual pude aprender o segredo da humildade e da coragem - humildade que me leva a não recear o facto de ser ou poder parecer «menos inteligente» que outros; coragem na serenidade e na afirmação das atitudes, na fidelidade às ideias, às raízes e aos comandos legítimos, sem por isso me julgar ou ser «menos independente», ou menos livre que quem quer que seja.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - É nessa camaradagem de várias legislaturas vividas em comum, na amizade e no respeito assim alicerçados, que eu posso, com total isenção e na mais íntima lealdade de sentimentos, saudar V. Ex.ª, Sr. Presidente, e manifestar perante a Câmara o meu regozijo por vê-lo justamente ocupar o primeiro lugar entre os seus pares.

Sr. Presidente e Srs. Deputados: Lançou o Presidente Marcelo Caetano um desafio à nossa capacidade de actualização e de acção, definindo os princípios norteadores de maneira incisiva, com mestria e coragem, princípios onde perfeitamente se podem encontrar e dentro dos quais podem colaborar todos os que desejem a integridade e o progresso da Pátria, a melhoria das condições sociais e morais do povo português.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Na defesa do estado social, na defesa das gentes e das terras do ultramar, na defesa da dignidade do indivíduo fe da participação dos homens na construção do seu próprio futuro.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Na defesa da liberdade e da propriedade individual com subordinação à função social que lhes é inerente - quantos, de entre os Portugueses, poderão deixar de sentir-se solidários com este programa e até empolgados ante as perspectivas aliciantes que ele comporta?

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Quando se preconiza a promoção do ensino e da cultura com iguais oportunidades para todos, o desenvolvimento de programas de saúde, previdência e assistência, quando se preconiza, enfim, a melhoria da condição humana e a implantação da justiça social - quem se recusará a aderir entusiasticamente a tarefas tais e de tal modo avassaladoras?

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Quando não se renega aquilo que de bom e válido e pujante nos foi legado, fazendo o ponto com vista ao futuro, mas prestando eloquente homenagem a quem homenagem era devida - não será o nosso respeito incitado a manifestar-se?

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Os indivíduos têm de ser participantes activos do seu próprio destino - e este é um ponto capital das reformas que nos esperam e nos solicitam.

O Sr. Pinto Leite: - Muito bem!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Também neste ponto o Presidente Marcelo Caetano foi claro e inequívoco, e ninguém, ninguém de boa fé, pode recusar-lhe apoio e aplauso.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Depois de enunciar e desenvolver o sistema de princípios de acção que propõe aos Portugueses como promissoras vias do futuro, pôde com segurança e seriedade afirmar que tal ideário «não tem rótulo, não se acoita a nenhuma ideologia em voga ou a qualquer fórmula tradicional, não busca ofuscar com promessas demagógicas, nem fugir às responsabilidades das atitudes claras». E disse mais:

Se cerrarmos fileiras ao redor deste programa, se soubermos explicar, defender, espalhar, as suas concepções, se tivermos fé nas suas potencialidades, constituiremos uma barreira capaz de resistir aos embates da revolução e uma força suficiente para garantir a necessária renovação.

Uma barreira contra a revolução, uma força para a renovação - tarefa colectiva que vale a pena ser vivida!

Em mesa-redonda da U. N. E. S. C. O. o representante da Academia das Ciências de Moscovo, Zvorikin, declarava um dia:

Sabe-se hoje que se pode produzir muito, muitas casas, muitos automóveis, mas o problema do futuro é achar um sentido para esta riqueza.