André Malraux diria, por seu turno:

Casas e automóveis construídos, o problema é saber-se como será o homem que se instalará neles.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Dentro desta linha de preocupações, o Presidente, discursando, referiu particularmente «aquela juventude que, desorientada momentaneamente por falsas ideologias ou arrastada imprudentemente por generosos sonhos, pode ver-se amanhã angustiada no meio de trágicas ruínas por entre as quais reine a desolação e a guerra, em lugar da cidade ideal de paz, harmonia e flores que lhe haviam prometido». E acrescentou:

Só com um Estado que não se haja demitido da sua função ordenadora, disciplinadora e promotora das actividades individuais poderemos construir uma vida mais feliz para os Portugueses.

O Sr. Santos da Cunha: - Muito bem!

O Orador: - É nesse Estado que todos confiamos, e nele prosseguiremos os caminhos difíceis, mas gloriosos, do progresso da grei.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Sr. Presidente: A política é compromisso, por ser vida e participar do compromisso da própria vida. Livres de compromissos existem as teorias dos doutrinários, as dialécticas dos dialetas, os sectarismos dos sectários. Quando se desce ao plano das realidades concretas da vida, da viabilidade do dia a dia, do exercício do comando, do erguer de planificações, da salvação do essencial ou da garantia, das ideias mestras, das grandes e das pequenas coisas, de assegurar a perenidade da Pátria, como de dar de comer a uma boca sem pão ou agasalho a um corpo com frio, então, a vida impõe-se, a virtude dos princípios transfigura-se e transpõe-se, os planos reajuistam-se, a autoridade coleia - e tudo prossegue como um rio, que se recorta nos vales mais suaves, ou mais propícios, a caminho do grande mar, onde vão dar todos os rios do Mundo. É então que a muitos se afigura terem os políticos o grave pecado da ductilidade, como outros diriam minguar ao rio coragem para enfrentar os píncaros das serras.

A consciência do político exercitia-se ao longo do contacto habitual com a coisa pública, adestra-se na sublimação do pensamento e na perfeita consciência dos objectivos nacionais.

Já uma vez proclamei desta, mesma, tribuna, falando da vida e da morte dos regimes, que eles têm de manter em si próprios o indómito segredo da renovação, têm de viver em permanente actualização.

O Sr. Pinto Leite: - Muito bem!

O Orador: - A «polaridade», segundo Goetbe, designa o movimento duplo pelo qual se pautariam a vida e o mundo; todas as coisas criadas existem por uma concentração sobre si próprias e uma expansão para as outras, por unra sístole, e uma diástole, por um egoísmo e um altruísmo, uma recusa e uma entrega.

A planta morre se não renova os tecidos; o animal morre se não renova os glóbulos. No coirpo de cada um de nós dá-se, momento a momento e célula .por célula, uma implacável renovação - em que algo é destruído para algo ser criado -, e assim realizamos a variação das idades dentro da identidade que não perdemos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Quando essa renovação deixa de se verificar no organismo, a morte impõe a sua lei e os corpos ou se decompõem, ou se mineralizam.

Também os regimes políticos e as instituições têm de alimentar a renovação, almejar a variação das idades dentro da identidade. Ser eterno e ser moderno, ser permanente e actual, ser fiel e insatisfeito, participar da seiva e disparar-se em novos ramos, ir às raízes mais profundas para apontar altos cumes - eis o caminho firme do futuro que Marcelo Caetano clarivideintemente nos aponta.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Não há ordem possível sem revolta, como não haveria Creonte sem Antígona, nem Antígona sem Creonte, nem vida, nem estado, sem um e outro. Antígona tem de existir: ela é a invenção, a insatisfação e o idealismo. Creonte é a experiência, a sensatez e a autoridade. O estado é salvo à custa de ambos, mas o preciso é que, tal como na tragédia clássica, Antígona esteja dentro do palácio - isto é, no seio do regime -; de outro modo, suscitar-se-ia implacàvelmente no arraial oposto.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - «Não vim à tenra para partilhar o ódio, mas sim para partilhar o amor», dizia a princesa tebana no sopé da Acrópole.

A acção política a que somos solicitados nesta hora, pelo Chefe do Governo, tem de ser partilhada com amor também, com decisão e entusiasmo por todos, na diversidade natural de pontos de vista, mas na indispensável confluência de vontades, na aceitação plena dos princípios definidos, na determinação de os prosseguir e na firme confiança que o chefe prestigioso nos inspira.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Foi lançado aos Portugueses um desafio, para atingirmos o progresso e o desenvolvimento sem receio das reformas:

São palavras do Presidente Marcelo Caetano:

O tempo não é para atitudes meramente defensivas. A sociedade tem de se defender atacando, atacando os vícios reais que possam existir na sua estrutura, atacando os males de que enferma, atacando as injustiças efectivas de que tenha consciência, e atacando também aqueles princípios que queiram minar os seus fundamentos racionalmente necessários e moralmente justos.

Este programa implica na sua base uma acção permanente de consciencialização política, desde os núcleos mais reduzidos da oficina ou do lugar aos grandes centros de convívio ou onde se planeiam e se tiram as decisões. «A hora é de acção esclarecida e vigorosa.» Ensina a apologética que, em cada época e em cada situação do mundo, Deus suscita uma ordem mais especialmente apropriada às necessidades, sem que, por isso, passada que seja tal ocasião, deixe de vigorar a vantagem e o valor dessa ordem. Também são igualmente válidas as três virtudes teológicas - a Fé, a Esperança e a Caridade -, e, não obstante, há alturas em que se exige mais a uma delas. Também na vida política alturas surgem em que a tónica há-de necessariamente acompanhar o ritmo das necessidades, da vida, das válidas exigências das gerações. Esta hora da vida portuguesa impele-nos para a acção, ao apelo eloquente do Chefe do Governo.

O Sr. Santos da Cunha: - Muito bem!