O Orador: - Paralelamente natural será também que se exija dos funcionários escrupuloso trabalho e indispensável rendimento, havendo que sair de qualquer forma e por qualquer processo do ciclo vicioso de que não se pode exigir aos funcionários muito porque ganham pouco e ganham pouco porque não produzem o bastante! Há que seguir-se, repito, uma política inflexível e severa, exigindo dos funcionários públicos rendimento. Mais para que se lhes exija rendimento haverá também que se lhes pagar convenientemente.

Exige-o a sobrevivência da Nação! Exige-o o contribuinte que paga e mais pagará, mas que quer ver o seu dinheiro administrado com parcimónia.

Exigem-no, afinal, aqueles que à redenção da Pátria lhe entregam as suas vidas e os seus haveres.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Porque o luxo, o esbanjamento, o fausto, o disperdício, são um verdadeiro insulto à Nação. Como o é também o funcionário improdutivo, que, acomodando-se em almofadas de desinteresse, se rodeia, para seu repouso, de uma barreira de arame farpado a que é vulgar chamar-se, benévola e até ironicamente, «a burocracia inoperante».

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A época em que se vive é de apertar os cintos. Nem todos temos que apertar cintos, e o mais apertado de todos seja exactamente o da Administração.

Não há muito, e nestai Cosa, o ilustre Sr. Deputado Roboredo e Silva aflorou também o problema, manifestando lúcido juízo ao afirmar: «Há um mínimo de clima de guerra que deverá ser convictamente vivido pela Nação», salien-tando, em corroborarão, que «na metrópole e nas grandes cidades das províncias agredidas as populações parece que não sentiram os sacrifícios que se fazem».

Tem aquele Sr. Deputado sobeja razão para o afirmar. Mas eu peço-lhe vénia para acrescentar: não só as populações, Sr. Deputado. Não só elas! E elas até menos e com inferior responsabilidade, aos que mais o deviam sentir.

Aliás, deduzi logo das palavras daquele Sr. Deputado uma ideia bem mais generalizada, tanto mais que, em conclusão do seu douto pensamento, afirmou ainda:

Penso que despesas não essenciais, já não falo das sumptuárias, que considero inadmissíveis actualmente, deveriam ser evitadas a todo o custo.

Também a, ilustre Deputada D. Sinclética Torres manifestou a esta Câmara as suas apreensões, alertando a Nação ao recordar a necessidade de se impedir o esbanjamento dos dinheiros públicos em luxos exagerados e na facilidade com que se renovam os mobiliários e se adquirem carros de luxo.

Meus Senhores: A hora é de mobilização geral, porque o que está em causa é a própria Nação. E à Pátria não se podem regatear esforços nem sacrifícios. Sejam eles quais forem. Sejam eles os dia própria vida.

Mas exigir o sacrifício total de uns, enquanto outros se deleitam depauperando o erário público, quer sob a forma de gastos sumptuários e supérfluos, quer sob a forma do desinteresse, não rendendo e, mais do que isso, até entorpecendo e dificultando quem deseja trabalhar, quer sob a forma da fuga à contribuição justa e equitativa, ou quer sob a forma de transigência com isto tudo, constitui verdadeiro crime de lesa-pátria.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E é exactamente a Pátria lesada que se tem de levantar e que rebelar vibrante e inflexivelmente, mobilizando todos os seus esforços e recursos para chamar todos, sem a menor excepção, a uma luta que é, afinal, de todos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Luta que logo terá de se iniciar exactamente por convencer os trânsfugas de que a sua ilusória tranquilidade também está em jogo. Chamando-os à realidade e à cooperação activa e mostrando-lhes que de pouco lhes podem valer os pecúlios amontoados, e quando não escondidos, se não tiverem vida para os poder usufruir.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Nesta hora e neste país não pode haver lugar a indiferentes.

Exactamente por isso, eu, que nunca fui filiado da União Nacional e que me mantinha de há longa data inteiramente alheado à política, mas que desde o berço me integrei num partido que se chama «Portugal», acedi a tomar lugar nesta Casa e sem que vez alguma sentisse a mais ténue necessidade de alterar as aninhas convicções políticas de base. Porque nessa base esteve sempre, e está sempre com primazia sobre tudo, «o meu país».

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Não me chamem, pois, nunca, jamais, à disciplina de qualquer partido.

Chamem-me, sim, a servir a minha Pátria. E foi a essa chamada que respondi, e foi por essa chamada que aqui estou.

E vim para lutar e para cooperar.

Mas cooperar não é só entoar hinos guerreiros ou dar gritos patrióticos.

É apontar erros quando os topo, é denunciar ilegalidades quando as saiba, é reclamar da injustiça quando se cometa, é indicar as maleitas nacionais quando as conheça. Mas é também preconizar soluções quando as considere justas, como é também enaltecer a medida eficaz e oportuna, porque o estímulo é necessário a quem trabalha.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - É isto que eu entendo «cooperar». É isto que eu estou aqui a fazer.

As minhas intervenções poderão não ser cómodas, mas o que procuro, certamente, é ser construtivo, defendendo sempre o que eu considero seja o soberano interesse do País, sem consideração por ideologias políticas ou tendências partidárias.

Sr. Presidente e Srs. Deputados: As preocupações que revelei a esta Câmara não são só minhas. São de toda a gente de bem deste país. E são tão graves que várias vozes autorizadas já as trouxeram, e até com bem mais propriedade do que eu, a esta Câmara.

E perante a gravidade do problema, urge, como necessidade pública e inadiável, que:

1.º Se proceda a um amplo e rigoroso inquérito, objectivado no propósito de averiguar quanto pode a Nação economizar evitando-se despesas supérfluas e luxos sumptuosos;