E porquê?

Por não se aproveitar toda a fruta existente e produzida no País e dar-se preferência a importação, nomeadamente da maçã de França.

A maior parte apodrece à falta de frigoríficos que a conservem e permitam uma distribuição uniforme ao longo do ano. Outras são lançadas no mercado por qualquer preço e, como o período de consumo é limitadíssimo, pouco proveito tiram os consumidores e nenhum o agricultor.

Dentro de dois ou três anos começarão a inundar o mercado esses enormes pomares, e o País, que não está preparado, nem com cooperativas, nem com armazéns frigoríficos (só está preparado para exportar divisas com a compra da fruta), cairá numa dupla ruína.

Os que beneficiaram de empréstimos terão de entregar as suas terras, e aos que aplicaram as suas economias restar-lhes-á a miséria das terras, não recebendo o País o correspondente resultado dos investimentos, tanto no consumo interno como, o que era igualmente próspero e de desejar, na possibilid ade de garantir quantitativos, e em condições, para a exportação.

E esse correspondente apetrechamento das cooperativas com armazéns e fábricas também convencerá o lavrador menos evoluído a associar-se.

Não desconhecemos que os actos da Administração só resultarão se da parte da interessada - a lavoura - houver a necessária correspondência de vontade e interesse.

Em muitos casos há que mentalizar, ensinando concretamente, para que sejam supridas as suas inatas deficiências profissionais.

A lavoura tem de tomar consciência dos seus deveres e principalmente confiar nos rumos que lhe apontam, quando evidentemente válidos, abolindo a desconfiança e a rotina.

Até certo ponto, a sua incredulidade nasce, e com razão, das muitas soluções que lhe dão a esperança de um melhor viver e que acabam por se suicidar no desespero e outras nem sequer são postas em prática.

Este pessimismo de que enferma o agricultor é confirmado por um eminente economista, que defende acerrimamente a elevada importância do campo na economia nacional, ao dizer: «... ainda chegue a tempo de salvar o que resta da lavoura, se é que ainda resta alguma coisa que possa ser salva.»

Os mensageiros de um mundo rural melhor limitam-se a explanações doutrinárias e a ditarem normas sem aplicação, para um máximo Aproveitamento da riqueza da terra, dando a todos a certeza de um maravilhoso porvir.

No nosso entender, há que rever todo o sistema agrário, conservando o que no presente possibilite rentabilidade e eliminando com reconversões o que seja impraticável e prejudicial à Noção, sem esquecer como fundamental o emparcelamento, e, enquanto isso não for possível, ao menos a reestruturação de quase toda a viação rural.

Mas o tempo não deverá ser de efectiva acção?

Olho para o horizonte até vislumbrar o astro que me ensine na prática e com resultados imediatos a melhor aplicação dos bens ao uso das gentes, mas penso que gasto os anos e a vida e a prometida riqueza não chegará.

E virá a propósito parafrasear um célebre passo de uma novela de Camilo que, ao descrever os maravilhas de um monte, pára e pergunta com graça: «O leitor, naturalmente, não sabe onde fica este montei Eu também não.»

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi cumprimentado.

O Sr. Valadão dos Santos: - Sr. Presidente: Apenas duos palavras para dizer a esta Assembleia do regozijo que o distrito de Angra do Heroísmo - que, juntamente com o meu colega Ávila de Azevedo, tenho a honra de aqui representar -, do regozijo, ia a dizer, que as populações açorianas tiveram em receber o Sr. Presidente do Conselho.

Por toda a parte foi V. Ex.ª recebido com provas do maior respeito e muita simpatia. Foi S. Ex.ª até àquele arquipélago do Atlântico em visita puramente particular, mas nem por isso mesmo o Prof. Marcelo Caetano deixou de ver e de ouvir todos os nossos justos anseios, todas as nossas legítimas aspirações e de ficar ciente dos enormes problemas que tanto nos afligem e nos assoberbam.

O povo recebeu-o de braços abei-tos, com aquela alegria, com aquele entusiasmo e, sobretudo, com aquela confiança que todos nós depositámos em S. Ex.ª, e estamos certos de que desta visita algo de bom e de novo há-de surgir para um arquipélago que tantas e tantas vezes tem desempenhado papel primordial na defesa da Nação, mas que, algumas vezes também, tão esquecido tem sido das esferas oficiais.

O agradecimento do povo açoriano, nomeadamente dos habitantes da ilha Terceira, é profundamente sincero e confiante. Bem haja S. Ex.ª por ter vindo até nós.

Vozes: - Muito bem!

O orador foi cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Vai passar-se à

O Sr. Presidente: - Vai iniciar-se a discussão na generalidade da proposta de lei sobre assistência judiciária. Tem a palavra o Sr. Deputado Correia das Neves.

Governo, discutido e aprovado por esta Assembleia, aquando da última e recente Lei de Meios, um dos projectos do nosso programa de acção política, constante do manifesto eleitoral que, então como candidatos, apresentámos ao País, e que era o do agravamento da tributação dos altos rendimentos e das transmissões hereditárias de avultado valor. Na verdade, sem ovos não podem fazer-se omoletas ... Sem verbas, o Governo não pode realizar o bem-estar social, por melhores que sejam as intenções e os métodos de trabalho!