Esta seria uma fórmula a estudar, mas outras haverá, certamente, que possibilitem o objectivo a alcançar, e o Governo, e particularmente o Sr. Ministro da Marinha, a quem presto a minha homenagem como governante esclarecido, aberto a todas as iniciativas em que o interesse nacional esteja em causa, bem poderão debruçar-se sobre tão magno problema. O que importa é que iniciativas sérias para dimensionar apropriadamente as empresas existentes ou mesmo estabelecer novas empresas de navegação de longo curso, pelo volume da tonelagem que se comprometam a adquirir em prazos curtos, permitam que se caminhe rapidamente para uma tonelagem mercante que nos afaste daquele lugar quase humilhante que ocupamos entre as marinhas mercantes mundiais.

Vozes: -Muito bem!

O Orador: -Estamos positivamente numa fase de viragem, e ou nos situamos nas realidades actuais, ou muito, teremos de nos penitenciar. Ocorre-me lembrar que há. países onde as dimensões mínimas para as empresas a e navegação são da ordem do milhão de toneladas.

O Sr. Araújo Correia: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Faça favor.

O Sr. Araújo Correia: - Como complemento das considerações de V. Ex.ª sobre a marinha mercante, tenho aqui as cifras do déficit da balança de pagamentos da metrópole com o estrangeiro em 1969, matéria de transportes, em sua grande parte marítimos. É de 1 226 000 contos. Esta informação creio que reforça as considerações de V. Ex.ª

condições actuais do Tesouro, consequentes dos enormes gastos militares resultantes da subversão que temos de combater e anular em África, não permitem atacar o plano no seu conjunto, mesmo que fosse por fases, como, aliás, foi previsto. Mas se queremos manter-nos além-mar e guardar alguns trunfos para usar se o bom senso não imperar entre os responsáveis pela condução da política mundial - o bom senso parece cada vez mais arredado da mente dos homens -. temos de assegurar o controlo do mar que banha os nossos litorais e o acesso aos seus portos mais importantes, além de estar preparados para proteger as linhas marítimas que nos são vitais.

Para isso importa, quanto antes, construir navios de superfície. Considero o estudo ida construção de mais sei? corvetas urgente e ido mais alto interesse nacional, até ainda porque, há províncias, cuja posição estratégica, é fundamental para nós se de alta valorização para a nossa política perante os nossos aliados, que não dispõem do mínimo de força naval que seria aconselhável, pondo tal fraqueza em causa a sua própria segurança.

Repito: ou nos convencemos de que o mar nos é essencial,, e parca o usar teremos- de .fazer grandes sacrifícios, ou soçobraremos.

Compreendo perfeitamente, compreendemos todos, que não há tempo para dilações; que temos um longo caminho, com muitos escolhos, a percorrer; que temos muitas tarefas a executar e muitos reptos a vencer. Também sabemos que somos um país ide grande área e de população reduzida para a sua extensão, economicamente não desenvolvido, mas prenhe de riquezas por explorar, e que teremos de (acreditar que a grandeza das nações não reside apenas no numero dos seus habitantes, mas, essencialmente, no carácter forte, no espírito de iniciativa, nas qualidades de trabalho, na honestidade e na fé, que tem de ser inabalável, que eles possuem.

Napoleão dizia:

A alta política não é mais que o bom senso aplicado ás grandes coisas.

Platão escreveu:

É a palavra, e não a acção, que governa o Mundo.

A propaganda dissolvente que nos esmaga, através da palavra radiodifundida, televisionada ou escrita, não dará razão à afirmação de Platão?

Todavia, Shelley dizia: «a alegria da alma reside na acção». Eu creio, sinceramente, que hoje, para os homens de boa vontade e para as mações conscientes, é a afirmação de Shelley que realmente conta.

Dando a minha aprovação as contas, aqui fica o apelo do velho marinheiro que, sem jamais deixar de o ser pela alma e coração, é acima de tudo português, mas, pelo raciocínio, talvez mais português de África do que metropolitano, apesar de ter sido eleito Deputado pelo círculo da Guarda, onde nasceu, que, com essa eleição, o quis honrar e se esforçará por não desmerecer.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O orador foi muito cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Vou encerrar a sessão.

Amanhã haverá sessão à hora regimental, tendo como ordem do dia, em primeiro lugar, a apresentação de eventuais reclamações sobre a última redacção da proposta de lei sobre medidas tendentes ao desenvolvimento da região de Turismo da Serra da Estrela e da proposta de lei para a criação de tribunais de família; na segunda parte da ordem, do dia efectuaremos a discussão e votação na especialidade da proposta de lei sobre a assistência judiciária. Se ais circunstâncias o permitirem, haverá ainda uma terceira parte da ordem do dia, dedicada à continuação do debate sobre as contas públicas de 1968. Também informo VV. Ex.ªs de que amanhã serão postos à reclamação os n.ºs 30 e 31 do Diário das Sessões.

Está encerrada a sessão.

Eram 18 horas e 30 minutos.

Srs. Deputados que entraram durante a sessão:

Agostinho Gabriel de Jesus Cardoso.

Albino Soares Pinto dos Reis Júnior.

Augusto Domingues Correia.

Augusto Salazar Leite.