tiva. Era um homem a todos os títulos notável, esclarecido. Segundo ouvi dizer aqui a um amigo seu, era um homem bom. Pois foi ele que hoje foi a enterrar, exactamente no dia em que V. Ex.ª o lembrou aqui e em que veio a proferir as considerações sobre um trabalho que o País acompanhou sempre com interesse e a que ele prestou uma decisiva e esclarecidíssima ajuda. Associo-me às suas palavras, até porque o Sr. Engenheiro Paulo de Barros desde há três meses era o administrador eleito da Companhia Portuguesa de Electricidade, cargo que não chegou praticamente a desempenhar. E pena é, porque as luzes da sua grandíssima experiência e do seu mérito poderiam concorrer, e muito, para o progresso, não da empresa, que é o menos, mas da electrificação neste país.

interessa ter", como continuou a afirmar, em mais um dos seus notáveis pareceres, Paulo de Barros, relator pela subsecção especializada da Câmara Corporativa, "grandes aproveitamentos projectados e realizados segundo a mais moderna técnica, uma rede de transporte de concepção moderna e de boa qualidade de fornecimento, uma rede de grande distribuição largamente difundida e com serviço de bom nível, se as redes de baixa tensão não permitirem, por deficiência de carácter técnico e económico, levar a energia a toda a parte nas melhores condições. Não se quer com isto dizer, ou sequer sugerir, que os concessionários dispersos por todo o País são incompetentes ou não dedicaram ao serviço o necessário cuidado e atenção. E um mero problema de dimensão económica, e não de competência, vontade ou dedicação dos homens. Preste-se homenagem a todos aqueles pioneiros que, por vezes com sacrifícios, conseguiram levar a energia a diversos pontos afastados, mas não se lhes reconhece a cap acidade económica para conseguirem manter as suas redes nas condições necessárias para acompanhar o progresso técnico registado nos outros sectores de produção, do transporte e da grande distribuição." 3

Sendo assim, há que arrepiar caminho, e esta Câmara política não pode deixar de acompanhar essoutra Câmara técnica e de representação corporativa quando afirmou, em 1967, que dá o seu acordo a todas as medidas que se possam tomar no sentido de resolver este problema candente, procurando a fórmula mais adequada que permita aumentar a dimensão das concessões da pequena distribuição sem prejuízo dos interesses existentes 4.

Trata-se, no fundo, de um problema de estrutura dos sectores da grande e pequena distribuição de energia eléctrica que importa resolver - e urge que se resolva -, agora que foi dado essoutro passo da fusão das cinco empresas concessionárias da rede eléctrica primária, através da constituição da Companhia Portuguesa de Electricidade - C. P. E., S. A.

O Sr. Camilo de Mendonça: - V. Ex.ª dá-me licença?

O Orador: - Com todo o gosto.

Sr. Camilo de Mendonça: - Tenho estado a acompanhar com o maior interesse as considerações de V. Ex.ª, e sinto como V. Ex.ª o drama da electrificação portuguesa. Eu suponho que temos de ter coragem de ir mais longe. Neste momento, creio que o problema que se põe é saber se o País pode continuar a aguentar um número infinito de freguesias que não têm condições de sobrevivência, se é económico levar a todas elas a água, a energia, a estrada, etc. E, portanto, afigura-se-me que longe da preocupação de me limitar a comprazer-me com a inauguração da luz em cada terra, tenho de apreciar a rentabilidade dessa mesma luz. E, acima de tudo, há dois problemas que me chocam. A minha região é a que produz maior quantidade de energia deste País (60 por cento) e é aquela, como V. Ex.ª já aqui acentuou, que a paga mais cara. Porquê? Nem posso falar em dispersão Ide concessionários porque ali é um só. Qual a razão? Prometi ao Sr. Secretário de Estado da Indústria não abordar o assunto, como é meu dever, antes que a comissão que ele nomeou chegue ao fim dos seus trabalhos.

Entretanto, quero antecipar o seguinte: pouco me importa levar a energia a toda a parte se o preço por que se leva for inacessível a todos. E que hoje acontece no Norteste é que é inacessível pelo seu preço.

O Orador: - Agradeço imensíssimo ao Sr. Deputado Camilo de Mendonça o brilho desta sua intervenção, brilho a que nos vai, aliás, acostumando. E estou inteiramente de acordo com S. Ex.ª no sentido de que importa, na verdade, rever todo o problema de ordenamento do território e das suas populações, e nesse sentido está em meu pensamento poder vir um dia a apresentar alguns elementos sobre tal matéria.

Mundo Rural. Alguns aspectos e problemas". Lisboa, 1958, p. 88 (relatório final do curso de engenheiro agrónomo).

3 Parecer subsidiário da subsecção de Energia e combustíveis, da secção de Indústria sobre o capítulo VI Energia do título II "Programas sectoriais", da parte referente ao continente e ilhas do projecto do III Plano de Fomento para 1968-1973. Pareceres (IX Legislatura). Ano de 1967, volume II, Lisboa, Câmara Corporativa, 1969. pp. 666-667.

4 Idem, ibidem, p. 667.