Creio, assim, que foram igualmente úteis todas as contribuições aqui dados para o melhor conhecimento dos problemas nacionais, mesmo que parecesse não serem escutadas, e que mais o serão agora, quando o Governo se mostra tão atento nos nossos trabalhos e o Pais deposita tanta esperança nesta nova Assembleia.

2. Penso, portanto, que, ao apreciar as contas públicas, que acima de tudo traduzem a forma como foi executada uma política aqui implícita ou explicitamente definida ao aprovar a respectiva Lei de Meios, a Câmara melhor cumprirá a sua missão não se limitando a conceder uma aprovação que se apresente como se de mera apreciação de saldos contabilísticos se tratasse, mas revista uma expressão mais ampla, que se concretize em termos de mais activa colaboração com o Governo na tomada de posição perante problemas prementes, que a todos nos preocupam e a todos igualmente nos respeitam.

Creio, pois, que ao concluir este debate a Assembleia deveria condensar numa moção as suas maiores preocupações ou os seus mais vivos anseios, assumindo deste modo, de forma mais dará, os suas responsabilidades perante a Nação e, por outro lado, assegurando por essa mesma via, ao Governo, uma colaboração mais valiosa, para sacrifícios que hajam eventualmente de ser por ele pedidos ao País, porá exigências de uma mais activa participação de pessoas ou de capitais que tentem esquivar-se ao esforço que tem de ser de todos, para, a manutenção de um espírito de disciplina e de coesão que tem de reforçar-se tanto mais quanto mais rapidamente quisermos render e progredir; mas, ao mesmo tempo, chamando igualmente a atenção para conceitos ou estruturas que carecem de modificar-se ou simplesmente para grandes ou pequenos passos que poderão talvez dar-se prontamente para ensaiar-soluções ou buscar remédios.

3. Por mim, penso que urge que todos nós - não só os responsáveis nos diversos sectores da vida pública, mas até o simples homem da rua - ganhemos verdadeira consciência dos problemas nacionais, convencendo-nos de que eles não podem resolver-se unicamente por milagrosa acção governativa, mas requerem a participação consciente e decidida de todos e que a solução das nossas dificuldades está perfeitamente ao nosso alcance, resumindo-se numa fórmula talvez árdua, mas bem simples: querermos e sabermos trabalhar. Trabalharmos todos; trabalharmos mais e, sobretudo, trabalharmos melhor.

De facto, quando se verifica que se trabalhássemos e produzíssemos como 10 milhões de belgas ou de dinamarqueses veríamos mais do que quadruplicado o nosso rendimento nacional, poderá ainda argumentar-se que estes países se encontram em condições longe das nossas e que a sua localização, nu proximidade de vastos mercados e de poderosos centros de cultura, lhes conferem possibilidades que não possuímos.

Porém, quando pensamos que uma Nova Zelândia, isolada nos confins do Mundo, com menos de 8 milhões de habitantes, consegue um produto nacional que Assembleia no acompanhamento da acção do Governo, posto que as instituições, mesmo as mais veneráveis, podem também por vezes adormecer, como sucede aos homens quando tranquilamente repousam.

Sobre esta matéria, será certamente outra a oportunidade adequada para aqui a tratar; apenas a anotei para exemplificar quanto uma evolução nos conceitos - sem requerer dispêndio de capitais, salvos, naturalmente, os da inteligência- poderá contribuir apreciavelmente para o progresso económico e social da Nação.

5. Acerca dos pontos concretos trazidos à consideração da Assembleia pelo parecer em discussão, desejo referir rápidas notas sobre alguns problemas Ide Timor e acrescentar muito breves comentários para fundamentar duas conclusões que julgo devem salientar-se como termo deste debate:

Necessidade de acelerar a remodelação dos serviços públicos ou, em âmbito mais geral, a urgência de pôr em marcha uma eficaz reforma administrativa;

Necessidade de ligar cada vez mais estreitamente o esforço da defesa ao do fomento. Terei o cuidado de ser muito breve, mesmo com o risco de ser muito incompleto, ao referir os assuntos de Timor, posto que o aliciante interesse humano, a delicadeza e complexidade dos seus problemas económico-sociais e a minha paixão por eles me tentariam naturalmente a ser mais longo.

A província vive praticamente do café, cuja produção duplicou nos últimos dez anos. O seu crescimento está, contudo, fortemente limitado pelos condicionamentos do mercado internacional e pela conveniência interna de diversificar a produção.

Numa ilha como aquela, com menos de 100 km de largura, em que montanhas de 2000 m a 3000 m se elevam e se ramificam ao longo de quase todo o território; com o solo das encostas já em grande parte devastado pela erosão, que gradual e inexoravelmente se acentuará enquanto não for possível acudir-lhe com amplas e drásticas medidas protectoras; com climas amenos e saudáveis nas montanhas, onde vive agarrada as suas casas e a memória dos seus antepassados grande parte da população que, ao exercer ali a sua tradicional agricultura, está a acelerar a perda por erosão do seu próprio solo; com algumas amplas e férteis planícies situadas na costa sul, começadas já a agricultar há alguns anos, mas onde o clima é bem menos atraente e menos convidativo ao trabalho e onde será difícil, por consequência, fixar grandes massas populacionais para a prática agrícola de modesta proporção; numa, ilha como aquela - dizia - parece evidente que a, promoção económica e social do seu povo requer, sem dúvida, dispêndio de avultadas verbas, mas requer, sobretudo, um sólido apoio de pessoal técnico qualificado para que o difícil problema da reestruturação agro-pecuária de Timor se estude e se possa, pôr em prática com segurança e rapidez, tendo, em conta também que o salutar, mas enorme, crescimento da escolaridade torno o problema cada vez mais agudo.

E certo que existem outras riquezas em potencial além da agricultura, mas exigências ainda maiores de apoio técnico as condicionam.