Sendo o que não é, e tendo de parecer que é o que devia ser, foram impostos à Universidade diversos equívocos, dos quais saliento alguns dos mais relevantes:

edagógicas nocivas desta dicotomia trágica são evidentes e sofrem agravamento pelo facto de, por condicionalismos vários - ausência de exercício em tempo integral, necessidade de, por falta de infra-estruturas materiais e sobretudo humanas, o investigador ter de exercer funções de servente, técnico, bibliotecário, arquivista, dactilógrafo, etc. -, o docente que queira fazer investigação séria ter de descurar, por falta de tempo, a sua preparação pedagógica e a assistência que, para além das aulas, os seus alunos têm o direito de esperar dele.

3) Realistamente a função social da nossa Universidade limita-se à preparação de profissionais de qualificação dita superior. Porém: Os recém-licenciados são meramente portadores de um diploma que certifica terem, em tantos de tal, concluído uma longa prova de obstáculos - exames -, mas que de nenhum modo é garantia de uma competência ou, ao menos, de uma capacidade;

b) E acentuado e crescente o desfasamento entre os tipos profissionais que a Universidade fornece ao País e os homens de mentalidade universitária de que o País urgentemente carece em ordem no seu desenvolvimento económico, social, cultural, moral e político.

de instalações e reprodução replicativa dos estabelecimentos de ensino superior existentes não constituem reforma da Universidade portuguesa. E agora sim, ponto final.

Passou a hora dos pedidos de reforma. Agora a hora da reforma chegou. Esta é a nossa hora.

A reforma da Universidade tem um ponto de partida, uma referência primeira - Universidade para quê? Universidade como? Dito de outro modo, todas os decisões reformistas que vierem a ser tomadas deverão estar rigorosamente subordinadas ao reconhecimento prévio da missão da Universidade e da figura institucional universitária mais adequada a sua realização integral.

A missão da Universidade é frequentemente caracterizada por um conjunto de missões, de parcelas de que não se apresenta a soma. Tenho para mim que essa soma-sintese é o desenvolvimento do conhecimento científico, que é um tipo de conhecimento alcançado por método próprio, em. etapas sucessivas e interdependentes, e orientado para a percepção de leis explicativas da real idade. A Universidade, enquanto tal, interessa-se, pois, por tudo quanto pode ser objecto de conhecimento científico -inclusive ela mesma-, e se não pode aceitar, já que seria negar-se, que qualquer domínio da realidade seja subtraído & sua crítica, não pode, pelo mesmo motivo, permitir-se análises, formulações de hipóteses, elaborações de teorias e propostas, de modelos operacionais que não obedeçam aos cânones rigorosos e implacáveis da metodologia científica. Se esta verdade fosse bem compreendida por todos, evitar-se-iam muitos e gravíssimos dissabores resultantes quer de prepotências do Estado, em relação à liberdade de pesquisa da Universidade, quer da utilização da Universidade, por alguns de dentro, para fins, e segundo métodos, que lhe são totalmente alheios.

Também do exposto fica claro que a Universidade não existe por causa dos professores, nem por causa dos alunos, nem por causa dos investigadores, nem por causa da sociedade: por isso, nem os professores, nem os alunos, nem os investigadores, nem a sociedade têm o direito de dominar a Universidade como se fora pertença sua. Todos, cada um a seu modo, apenas devem possibilitar o exercício da sua missão. E porque a missão é una, é com a colaboração de todos que ela deverá ser realizada. Aqui radica a essencial autonomia da Universidade e a sua essencial supranacionalidade.

Porque o alargamento do conhecimento cientifico é a sua missão, e porque este processo é fruto do espírito humano, a Universidade procura, com determinação implícita na sua própria razão de existência, que seja cada vez maior o número dos que, nela e fora dela, se movem por um dinamismo fundamental de saber. Eis por que na Universidade surgem os alunos, eis por que elas são sua parte integrante e garantia de sobrevivência em perenidade da juventude! A pedagogia vigente na Universidade há-de evocar todas as faculdades e potencialidades positivas de, personalidade de coda discípulo, pois a inteligência não basta para garantir o êxito na senda da pesquisa.

A busca da verdade por ela mesma, a disciplina inflexível do método científico, o trabalho em equipa, a fortaleza de ânimo em face de fracassos sucessivos, o ter de recomeçar tudo e aceitar que se terá ainda de recomeçar outra vez, o ver atingir o objectivo um tal que partiu mais tarde, o ter como única testemunha a própria consciência, o enforco de horas e horas diurnas e nocturnas de trabalho contínuo, com refeição simbólica, etc., exigem uma educação integral - intelectual, moral e física - em cujo processo sobressaem o exemplo dos educadores, a associação dos estudantes nas actividades de pesquisa e a sua participação em decisões concernentes à vida da instituição, forma por