excelência de adestramento no exercício responsável da liberdade.

A especialização é o modo por que avança o conhecimento científico. Por isso ela se vai acentuando com o progresso das ciências em sua marcha irreversível. Porém, a contínua diversificação da ciência, em vez de conduzir a uma pulverização, a uma atomização do saber, que seria a sua destruição, tem catalisado um movimento inverso e complementar de integração crescente dos conhecimentos particulares em sínteses cada vez mais amplas, e tem levado ao aparecimento de domínios científicos interdisciplinares, em que participam várias ciências distintas. Consequentemente, a Universidade procura que os seus alunos, antes de desenvolverem uma preparação especializada, adquiram uma sólida formação básica polivalente, mas unificada, pela qual se estruturará a mentalidade científica que frutificará na especialização ulterior.

O ritmo espantoso do progresso cientifico torna rapidamente desactualizados, e portan to inúteis, os conhecimentos hoje adquiridos, e as inovações tecnológicas, o desenvolvimento económico e as mobilizações sociais ascendentes criam necessidades novas para cuja satisfação se exige uma formação científica mais ampla e mais profunda. Assim, os que saem da Universidade para exercerem uma função diferenciada na sociedade há-de lá voltar periodicamente, para se actualizarem, para aprofundarem os seus conhecimentos, para contactarem com domínios da ciência que não haviam cultivado na pré-graduação.

A Universidade sabe que os novos conhecimentos que continuamente difunde na sociedade são das forças maiores que promovem o desenvolvimento desta, desenvolvimento que deve ser integralmente usufruído por todos. E este o seu modo específico de participação numa sociedade solidária. Por isso ela não pode alhear-se do modo como é utilizado o conhecimento que produz, cumprindo-lhe defender que o progresso cientifico seja efectiva e eficazmente posto ao serviço dos valores humanos fundamentais em ordem à construção de uma comunidade humana universal cada vez mais harmónica e cada vez mais justa, «para fazer renascer, de cepa sã, instituições humanas, como exige a nossa época, para que haja paz, para que sustentem mais eficazmente aqueles empenhos éticos sem os quais não podemos viver correctamente como homens», segundo o apelo de Bobert Oppenheimer. E cada Universidade em particular, localizada numa região, integrada numa nação, deve estar atenta às suas necessidades, ouvir os seus apelos de vida, assumir os seus problemas, analisá-los segundo o método científico, propor soluções racionais para a sua satisfação.

A resposta que dei a pergunta «Universidade, para quê?» trouxe consigo, naturalmente, resposta à questão «Universidade, como?». As características institucionais e a mentalidade da Universidade moderna, da Universidade nova, são, então, a de autonomia, participação, pluridisciplinarídade e interdisciplinaridade, conexão íntima vestigação, novas na estrutura arquitectónica e urbanística, novas na dedicação integral, entusiasmo e juventude de espírito dos docentes, novas na exigência, iniciativa e determinação dos alunos.

Sr. Presidente e Sr s. Deputados: Os maiores empreendimentos foram sempre fruto da rijeza da determinação e da grandeza da fé. Querer e crer, empenhar-se e acreditar que é possível, foram, são e serão as duas milagrosas alavancas capazes de remover obstáculos pesados como montanhas e imensos como o mar.

O empenhamento do Governo não é já uma hipótese plausível em face de declarações formuladas, mas certeza provada por um despertar de realizações efectivas. E é este o momento de manifestar publicamente ao Sr. Ministro da Educação Nacional a minha entusiástica concordância e sinceríssima homenagem pelas medidas tão acertadas que com decisão tomou para resolução de alguns dos mais prementes problemas que afectam a Universidade. S. Ex.ª sabe bem o que quer e sabe bem por qu e luta, e não lhe desfalece o ânimo perante resistências, dificuldades e riscos facilmente previsíveis que procurarão deter ou prejudicar a sua acção. Terá, porém, o apoio do Sr. Presidente do Conselho, dos universitários dedicados e dos portugueses conscientes. Creio que chega.

Na Universidade corre um frémito novo. Ao cepticismo sucedeu a esperança, os muitos que já não acreditavam juntaram-se aos poucos que nunca deixaram de acreditar, e os imobilistas e os demagogos vão ficando isolados. As declarações esclarecidas e determinadas feitas pelos que, nos últimos meses, item sido chamados a desempenhar as mais altos funções na gestão da Universidade -o que constitui mais uma prova do empenho do Governo na rápida e séria renovação universitária- não exprimem apenas pontos de vista pessoais, mas traduzem o pensamento e os sentimentos dos que integram a instituição.

A Noção, por tanto tempo ignorante do que a Universidade verdadeiramente é, começa a compreender que não consiste numa, fábrica de doutores que mandam na gente, mas que é a central geradora da energia mais portentosa da aceleração do seu desenvolvimento.

Na expressão feliz do reitor da Universidade de Coimbra, os astros entraram, finalmente, na conjunção propriciatória. A hora - a nossa hora - é, pois, de acção..

Vou terminar, e foço-o referindo aquele aspecto particular da missão da Universidade que vai tomando dimensões cada vez mais importantes e como nenhum outro define com evidência o lugar ímpar que a instituição universitária ocupa entre as estruturas sociais mais responsáveis pelo futuro da humanidade: interpretando o passado e o presente, preparai- o futuro, um futuro de ordem, de justiça e de paz, para que, como diz Karl Rahner, o futuro não seja mais «qualquer coisa que cai sobre o homem, (...) aquilo que é sofrido ou constitui surpresa, mas antes (...) algo que é assumido enquanto e à maneira do que deve ser feito em liberdade criadora».

O orador foi cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Vou encerrar a sessão.

Convoco para amanhã o Comissão de Finanças, a fim de iniciar o estudo do projecto de lei sobre o crédito da colheita. Deixo a hora da convocação ao critério do seu presidente.