Não pode deixar-lhe caminho aberto para criminosas manobras de inversão de marcha através da faixa central, de consequências potenciais igualmente graves e quase encorajadas por uma legislação de benevolência.

Não pode ainda deixar-se caminho aberto que facilite a persistente desobediência dos peões, trágica para si próprios, mas também nalgumas ocasiões para terceiros.

As barreiras centrais de protecção evitam ou reduzem fortemente as consequências dos primeiros, não tornam possíveis os segundos e muito dificilmente ocorrerão os terceiros por movimento de travessia.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Tudo hoje se sabe, pode dizer-se, sobre esse equipamento rodoviário, seja para protecção central ou lateral. Desde as funções que deve cumprir, definidas pela O. C. D. E., às características que deve satisfazer (grau de inércia, coeficientes de restituição e absorção, deformação, resistência à corrosão, etc.); desde o material de fabrico as distâncias entre suportes; desde a fixação das vigas terminais às alturas em relação ao pavimento até aos dispositivos acopulados contra o encandeamento para substituir arborização, se for necessário.

Os Estados Unidos da América, a Alemanha Federal, a Holanda, a França, a Grã-Bretanha e Itália têm-se debruçado sobre o assunto desde as primeiras experiências feitas na Califórnia há bastantes anos. Alguma divergência que ainda se revela parece-me ser mais fruto de motivação inconfessável que de convicções sérias.

Assim, a solução do problema que pomos depende exclusivamente da aquisição e instalação do eq uipamento, o que deve poder levar-se a cabo com cerca de 18 000 contos, valor que tem de ser olhado como um investimento rentável.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Será bem o momento de não protelar a decisão, para que não nos encontremos amanhã, com outra quilometragem de auto-estrada. perante números de mais difícil satisfação.

Nem tudo ficará, no entanto, assegurado, se simultaneamente vão for tomada posição frente ao futuro, posição que terá de ser a de intransigência total em não permitir que um quilómetro mais de auto-estrada se construa, sem que disponha, de perfil transversal ou de equipamento que garanta o melhor índice de segurança.

O Sr. Camilo de Mendonça: - Muito bem!

O Orador: - Também neste aspecto acredito ser o momento para não demorar.

Dispenso-me de emitir um juízo ampliativo final sobre a situação presente da circulação automóvel nos 60 km de auto-estradas nacionais. Faço-o na convicção de tendo dito o necessário e suficiente, não se poder recusar-me a justiça de o ter feito honesta e conscientemente; isso há-de bastar.

Vozes: - Muito bem!

O orador foi cumprimentado.

O Sr. Camilo de Mendonça: - Sr. Presidente: Estará a Câmara e o País na expectativa de que me vá ocupar do negócio da década neste jardim à beira-mar plantado... do negócio do óleo de amendoim.

Ainda não será desta feita ... A seu tempo acontecerá.

Hoje ocupar-me-ei de outra acção monopolista, mas de uma de que também já tinha tratado - a operação Madeiper.

A insistência não resulta, porém, da escassez de outras matérias ..., mas tão-sòmente da circunstância de não ser meu hábito desistir, renunciar, retirar, enquanto os objectivos nacionais não estejam atingidos, justiça não tenha sido feita, por mais guerrilheiros que infestem o campo, mafias se movam na penumbra ou Sanchos Panças tropeços se arrimem no caminho ... Valeu a pena?

Respondo com Fernando Pessoa, enquanto houver portugueses que clamam justiça, actividades que carecem de defesa, um regime político que se não pode deixar conspurcar ou comprometer pelos abusos do poder económico que. tão. fingi da como traiçoeiramente, nele se alapam ou enquistam.

E ... vamos ao caso, ao caso das madeiras. Ainda não compreendi bem, certamente por insuficiência minha, as razões por que estando o acento tónico das graves deficiências de funcionamento dos circuitos económicos do sector florestal na desorganização, atomismo e dispersão da oferta perante a concentração comercial e, particularmente, industrial e terapêutica, contrariando o diagnóstico, começasse pelo reforço, até ao extremo do monapolismo, da unidade do sector industrial. Porquê?

Por que motivo havia o Governo, conhecedor desta situação, de começar por aprovar e, por parte de alguns governantes, de apoiar ..... a organização unitária do sector industrial, de meia dúzia de industriais, quando constituiria tarefa simples, rápida e secundária, enquanto o sector agrícola continuava no mesmo estado de desespero e pulverização que o tomava presa fácil do abuso capitalista e aí a organização não constituía empresa fácil, nem rápida?

Por que estranho motivo?

A qualquer parecerá que era pela organização do sector da produção florestal que teria e deveria começar-se ...

Não aconteceu assim, talvez porque a boa fé do Governo não deixou apreender a verdadeira generosidade dos industriais de celulose, o seu altruísmo, que sempre os levou a sofrer com as dores da lavoura e a preocupar-se com a sorte dos lavradores ...

Por tanta compreensão e tão grande auxílio está a lavoura que sempre soube ser grata, infinitamente reconhecida à indústria, florestal, trate-se de celulose como de aglomerados.

Pois bem, quando raiou a Madeiper fixando preços, como se fora Governo, já que poder sempre o tem sido ..., reagiu a lavoura, reagiu o País, feridos nos seus interesses, mas também em sua sensibilidade.

Em consequência, determinou honradamente o Sr. Ministro da Economia, com o realismo e a serenidade que caracterizam a sua personalidade de estadista, que as associações agrícolas e industriais negociassem um acordo em matéria de preços e de condições de fornecimento de madeiras, reservando-se ao direito de intervir como árbitro em caso de desentendimento e concedeu à lavoura liberdade de exportação, como arma, correctora do processo capitalista.

Apesar da urgência manifesta, em razão de se iniciar a época de corte, ou talvez por isso mesmo, não deram os industriais, reforçados pela existência de stocks para muitos meses de laboração, amostra de grande respeito pela decisão do Governo, e ainda menos de cooperação nos seus propósitos, mostrando bem à saciedade ser indesmentível objectivo da Madeiper auxiliar a lavoura ...