chegar ao fim. Nos domínios da educação, raras vezes é possível ver as coisas à luz deste critério. Em educação, começa-se, recomeça-se, continua-se ... e nunca se chega à meta final. Este é o drama dos educadores, que, por isso, não podem ter ilusões: o seu esforço raras vezes será devidamente apreciado na intenção generosa que o ditou ou nos triunfos que conseguiu. Em educação, só costuma ver-se o que se não fez. Por isso, o educador que não possuir largo espírito de renúncia e não viver com fé a sua missão não terá força para resistir à indiferença e à injustiça, o mesmo é dizer: não será autêntico educador, já que não se educou a si próprio, nem foi capaz de prever, em toda a sua dureza e ingratidão, as realidades do meio e da vida.

Mas o pior é ver, nos tempos que correm, professores sana a menor autoridade, pelo desinteresse e abandono a que têm votado o múnus docente, assumirem o papel de ásperos censores, talvez na esperança de que lhes seja fácil passar de culpados a julgadores ou lhes seja lícito tornarem-se mentores exclusivos e dogmáticos em matem tão vasta e melindrosa como a da educação.

Ainda há dias caiu sob os meus olhos um livro de uma universitária francesa em que, logo no prefácio, se escreveram palavras impressionantes reveladoras da desorientação que, em França, se apossou também de alguns professores que «encantados», é a autora quem o diz, «pelo ruído do renome ou pelo brilho da acção, trocam a missão de mestra pela de tribuno e ... dão a entender que eles, sim, têm no coração os estudantes - os outros não, ... atentando, desse modo, contra a liberdade intelectual destes e contra a dignidade dos seus colegas ... quando não os move ainda une ambition plus crue et plus jalouse ...».

Não estou a pensar em pessoas das minhas relações que, aqui ou nos sectores onde trabalho, se tenham dedicado ao estudo dos assuntos universitários, porque essas julgo conhecê-las bem e, mesmo quando não aderisse às suas opiniões ou métodos de acção, não as consideraria merecedoras destas severas palavras, que, no entanto e infelizmente, não podem, também entre nós, haver-se por inoportunas, ou injustas perante o que por aí se vê e ouve.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Nem sequer desejo aludir às confusões de diversa ordem em que alguns, embora de boa fé, se deixaram enredar e à leviandade ou malevolência de outros que, por impreparação, deformação ou sectarismo, suscitam novos factores de desordem nos espíritos.

Pretendo apenas chamar a atenção para o sentido anarquizante e a intenção demolidora que, amiúde, têm explorado o problema universitário, como se ele, em tudo e por tudo, não houvesse de ser encarado e resolvido pelos verdadeiros portugueses, na perspectiva das conveniências nacionais.

Vozes: - Muito bem!

para que a autoridade seja mantida não apenas nas oficinas e nas ruas, mas também nos estabelecimentos escolares, e assim, garantida a liberdade de trabalho, de estudo e de ensino.

Se as prepotências ou as precipitações dos detentores da força pública são de condenar, também não podem tolerar-se os desrespeitos à lei, as afrontas à dignidade das pessoas ou das instituições, nem tão-pouco a paralisação de actividades públicas ou privadas impostas por grupos de pressão. Que Deus nos defenda dos abusos do poder, mas nos livre também das suas renúncias, das suas tibiezas ou das suas conivências com os fautores da desordem.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Ainda há dias pude ler um panfleto em que dois ilustres intelectuais autores de um notável trabalho sobre a Universidade são, injusta e acintosamente, acusados de constituírem, pelas posições assumidas, «instrumentos do grande capital». Nesse panfleto, depois de se dizer que «o movimento estudantil ao lado das classes exploradas portuguesas significa, em primeiro lugar, levar a luta de classes à Universidade», afirma-se, a concluir:

Decidir o que isto significa neste momento de acções práticas, decidir se isto se pode fazer unicamente na própria Universidade, ou se, pelo contrário, a acção estudantil deve tomar como quadro uma perspectiva mais ampla (as ruas da cidade, os transportes públicos ou os locais de trabalho da população), e decidir as formas dessa acção são os problemas que, neste momento, se põem a todos nós.

O que se pretende tantas vezes não é, como se vê, discutir os problemas administrativos, técnicos ou pedagógicos da Universidade, nem satisfazer as legítimas aspirações dos estudantes, nem fomentar a promoção cultural do povo. O que alguns querem, isso sim, é abalar e postergar os valores cimeiros da nossa cultura, como a concepção cristã da vida, a ideia da Pátria, a estabilidade da família, as estruturas naturais da sociedade ë os institutos jurídicos destinados a salvaguardar a livre iniciativa e a superar os diferendos pessoais e sociais.

É neste ponto que importa fixar a atenção para impedir que, a propósito das questões universitárias, se ponham em perigo ou em almoeda os valores fulcrais da nossa civilização e da nossa cultura.

Não será mesmo o esquecimento ou a visão defeituosa desses valores que mais agudo terão tornado o problema da Universidade e mais terão deformado e desprestigiado a instituição?

Estamos, na verdade, perante uma questão de conceitos que transcende os aspectos metodológicos ou adjectivos para se situar no plano ético e substantivo em que se ganham ou perdem as causas de validade fundamental.

A Universidade tem de remodelar-se e renovar-se, ou melhor, tem de ser remodelada e renovada para satisfazer as múltiplas necessidades da vida moderna e acompanhar as prodigiosas transformações resultantes da evolução