não universitário passaria de 4000 a cerca de 8000 em 1973-1974 e 9000 em 1976-1977. Logo, em conjunto, o ensino superior cresceria de 34000 a 74000 em dez anos.

Interessa, todavia, que esta prospecção não respeite apenas à evolução provável da procura do ensino superior em Portugal. Pretende-se que à procura possam corresponder outras medidas de reestruturação das Universidades, de estímulo e de condições de frequência que permitam o aumento correlativo do número de diplomados.

Resta-nos formular o voto de que a reforma da Universidade e as novas Universidades incluam nos seus objectivos: proporcionar o acesso de todas as capacidades aos graus superiores de educação, ainda que para tal, e independentemente da atribuição de bolsas de estudo, os estudantes possam conjugar a frequência da Universidade com o exercício de uma actividade profissional.

Isto supõe o funcionamento da Universidade em tempo pleno, a disponibilidade do corpo docente para cursos de tarde, nocturnos e por correspondência, a presença de professores para consulta e entrevista com os alunos «voluntários».

Supomos que esta política de democratização do ensino está nas intenções do Governo. Nela estão interessados todos os que ao ensino se devotam dedicadamente e os que desejam ver a nossa sociedade impregnada de maior justiça social.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

A oradora foi muito cumprimentada.

O Sr. Ávila de Azevedo: - Sr. Presidente: O Sr. Deputado Miller Guerra, que suscitou o aviso prévio sobre a Universidade e elaborou o programa adequado, tem estudado conscienciosamente os problemas universitários portugueses. O meu depoimento insere-se naturalmente nesse programa: no n.º I «As causas da crise universitária» e no n.º II «A necessidade e a urgência da reforma universitária». Num tema tão apaixonante e longamente discutido, entre nós, não nos move a pretensão da originalidade, mas isso não nos impede de juntarmos a vozes mais autorizadas um contributo, ainda que modesto, ao seu esclarecimento. Já tinha escrito esta minha intervenção quando ontem ouvimos interessadamente nesta Assembleia a magnífica exposição do Sr. Deputado Miller Guerra, em que verifiquei pontos comuns de pensamento. Isto é bem a prova que na crise e na reforma da Universidade começam a desenhar-se linhas de orientação geral, embora partindo de interpretações diferentes.

A crise de que umanista. Neste momento já sobravam razões para criticá-la como uma instituição conservadora e um tanto anacrónica. Não tinha compreendido, nem aceitado, a revolução que se operara na sociedade seiscentista. Depois, na primeira metade do século XVII, Descartes havia lançado os fundamentos do método científico experimental. E, passados cinquenta anos sobre este facto, os mestres da Universidade de Paris tomavam o compromisso solene de nunca ensinarem nas suas aulas a doutrina cartesiana. Durante este século e o século XVIII, a maior parte das Universidades europeias alheou-se do movimento de renovação científica que se processava nas academias e nas sociedades eruditas. Quando Harvey expôs a sua teoria da circulação do sangue, a Faculdade de Paris negou-a obstinadamente. As duas grandes reformas da Universidade Portuguesa, a de D. João III, em 1537, e a do marque de Pombal, em 1772, tiveram como finalidade essencial colocá-la a par do avanço da ciência contemporânea.

A Universidade nunca se pode limitar a transmitir os conhecimentos adquiridos. Para que seja uma planta vigorosa, tem de mergulhar as suas raízes nas transformações que se operam em todos os campos da investigação e das realizações científicas e tecnológicas. Em vez de adoptar passivamente, e a longo prazo, as conquistas da Ciência, deve ser ela própria a promovê-las. Quando a Universidade se torna compendiai, entrou numa fase de decadência ...

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Temos, pois, como explicação imediata da actual crise universitária e como uma das justificações dos protestos estudantis, o anacronismo da Universidade tradicional nas suas divisões em Faculdades, hoje pouco significativas, nos agrupamentos de cadeiras, nos programas e nos métodos pedagógicos. E ainda uma Universidade impregnada dos ideais e da divisão das ciências proposta no século XIX e destinada a uma aristocracia intelectual que substituíra -e principalmente entre nós - a chamada «aristocracia do sangue».

Mas há ainda mais, Sr. Presidente, são as forças extrínsecas à Universidade, as ideologias políticas, que, hoje como sempre, tiveram larga audiência entre os estudantes, também responsáveis pela crise a que acima aludimos.

A Universidade adianta-se em todas as épocas como a intelligentsia precursora dos grandes abalos sociais. Todos nós conhecemos as tendências doutrinárias que fermentam nas Faculdades. Apesar das suas contradições e das suas disparidades, todas elas pretendem a substituição de um estado por outro estado de que ninguém, nem os próprios estudantes, saberá definir as características concretas. Há indícios de uma revolução cultural à maneira de Mão Tsé-Tung de que estas palavras são o lema:

O movimento dos estudantes faz parte do movimento popular no seu conjunto. Será o movimento dos estudantes que dará o impulso fundamental ao movimento popular.

Mas também continua havendo estudantes partidários do marxismo-leninismo e do trotskismo russo. Outros há ainda neo-anarquistas e neofascistas. No fundo deste debate a batalha da Universidade é apenas a primeira fase de uma ardorosa batalha pela destruição dos princípios políticos e morais que servem, de base à sociedade contemporânea.