Disso estão conscientes a Escola -os seus docentes e estudantes - , os já diplomados, as associações profissionais e científicas, os centros de investigação, a administração pública e as actividades económicas mais directamente ligadas ao sector - a lavoura.

Mas não é apenas no domínio da actividade escolar - bem haja a Escola pelas propostas de alteração superiormente apresentadas-, ou da investigação científica, ou da actividade directamente produtiva de bens alimentares, e sua comercialização, e sua industrialização, que se vão afirmando desajustamentos entre o ensino de "Universidades tradicionais 18 e as sociedades modernas" no campo da agricultura em geral que- nos cabe tratar.

Também no domínio do social são notórias as carências: carência de disciplinas, de preparação profissional, de investigação. E, contudo, "não sei de classe técnica, vinda dos estudos superiores, que haja de manter mais largo contacto como o nosso povo, sendo que constantemente lhe pertence assumir no domínio do social as responsabilidades mais pesadas, e, do mesmo passo, as mais nobilitantes, perante o dia de amanhã 19.

Para muitas gerações de engenheiros agrónomos e de silvicultores tem sido a escola da vida a grande mestra do social, e não se diga que os seus profissionais não hajam de algum modo aprendido e correspondido à descoberta de "o outro" em seu irmão camponês.

Mas neste mundo moderno, nesta "idade do social", quando possa importar a ajuda à construção de uma sociedade mais justa, mais fraterna, mais humana - construir o tal "estado social", como foi proposto à consideração dos Portugueses pelo Sr. Presidente do Conselho, na histórica jornada de 21 de Maio do passado ano no Porto-, é natural que nos interroguemos sobre o valor da preparação sociológica dos diplomados pelo Instituto Superior de Agronomia, e a resposta continuará a ser a da insuficiência das disciplinas de "ciências sociais no quadro do ensino agronómico". E nem se diga que, também nesta matéria, os seus professores e a Escola se hajam demitido das responsabilidades.

"Se quanto ao que ocorreu dentro da Escola, propriamente, não é de índole deste relato dilatar mais a informação prestada" e extrair o sentido do movimento, e alguns dos seus mais instantes problemas poderia ter interesse "localizar ainda no quadro complexo da vida administrativa", da investigação científica e da vida económico-agrária interferentes, a actividade do Instituto Superior de Agronomia.

Mas, avante ...

Problema de índole diferente, mas de importância não menor, que aguarda solução, é o da preparação e dos meios de trabalho. Nem o ensino, nem a investigação [...] lograram ainda os recursos, as dotações em pessoal e material, a própria estruturação por vezes, que possam equiparar-se à grandeza e variedade das tarefas e sirvam de primeira garantia para o exemplar cumprimento do dever profissional 20.

Problema que não é apenas dos quadros docentes ou do superior de investigação - onde quer que exista ... -, é - o também do pessoal técnico auxiliar e do próprio quadro administrativo.

Deste, aliás, recebi,, no seguimento da intervenção do Sr. Deputado Nunes de Oliveira, no. período antes da ordem do dia de 27 de Janeiro findo, uma exposição que bem demonstra a exiguidade do pessoal da secretaria do Instituto Superior de Agronomia, face ao "volume de serviço" exigido e "sua ecléctica natureza, prazos a respeitar", etc. - "só com grande sacrifício das poucas unidades existentes se pode cumprir satisfatoriamente a missão [...] confiada".

A "respeito dê meios de trabalho, no ensino, como na investigação, já se tem afirmado que "a pobreza tradicional" (em sociedades também tradicionais) "é mau argumento relativo quando se trate de dotar o que é mais urgente". Ocorre a feliz réplica de certo cientista francês quando lhe. regateavam verba para a investigação cientifica, "por estar pobre a França"; "Exactamente porque está pobre é que precisa de gastar mais com a investigação", respondeu. A isto chama-se) ter a visão larga e possuir o real sentido das responsabilidades frente ao futuro. Bem entendido que se parte, além, de uma confiança radicada no valor da ciência, como fautora do progresso dos povos; de uma forte realidade a impor-se no domínio das consciências [...] 21.

Bem preciso era ter-se essa "confiança" nos espíritos, nas "consciências", face à "realidade" do ensino e. da investigação como elementos fautores do crescimento económico e do desenvolvimento social das nações. Do progresso de Portugal, em suma.

Partilhando a mesma casa e tendo de comum com a Agronomia os dois primeiros anos, é professado no Instituto Superior de Agronomia o curso superior de Silvicultura.

Também ele urge por reforma, e nem sequer se dirá que os seus professores e o conselho escolar não hajam apresentado superiormente projectos de reforma do seu ensino, na tentativa de. construção de uma Universidade nova ou mais modernizada, a ser edificada progressiva, experimentalmente, também no domínio florestal. Mal se compreenderia que assim não fosse num país que em seu território metropolitano "apenas revela aptidão especial para a produção agrícola em cerca de 1/3 dia sua superfície total".

Mas não nos iremos preocupar com teste ramo do ensino superior agrário, que encontrou na pessoa Ido nosso duplamente colega Gabriel Gonçalves a voz autorizada para o formular das aspirações de uma classe silvícola ou florestal interessada no repensar do seu ensino 22.

18 Forçadamente "tradicionais", por vezes, e em parte.

19 Azevedo Gomes (Mário de) - Ob. cif., p. 14.

20 Azevedo Gomes (Mário de) - 06. cit., p. 15.

21 Idem, idem.

23 Alusão à intervenção, antes da ordem do dia, do referido Deputado na sessão n.º 29 da X Legislatura, de 27 de Fevereiro de 1070.