tados, mas sim contra a sociedade de que fazem parte, cuja flagrante injustiça se verifica seja qual for o horizonte geográfico (c)m que as comunidades se encontrem radicadas.

Acaso nos teríamos furtado à agitação universitária dos últimos meses, se Portuga] fosse governado à luz da mais ortodoxa democracia? Acaso se teria evitado a reivindicação juvenil, se o império soviético e a sua teoria da "soberania limitada" se houvessem estendido a toda a Europa Ocidental, e não "apenas" até aos limites da actual "cortina de ferro"?

Só por ingenuidade ou má fé seria possível responder afirmativamente.

A insatisfação ido universitário moscovita é tão intensa quanto a do estudante francês ou alemão. A disparidade reside apenas no seguinte: ao passo que a rigidez e a intransigência do estado policial soviético não permitem que os movimentos estudantis se politizem e desçam à rua para, nela instaurarem a desordem, a revolta dos estudantes franceses politiza-se facilmente através da infiltração capciosa de grupos activistas minoritários, que, à sombra do liberalismo e da complacência das autoridades, facilmente (dominam a generosidade, a pureza e o irrequietismo natural da esmagadora maioria- dia juventude.

Vozes: - Muito bem !

O Orador: - Fosse Portugal uma das chamadas "democracias populares", houvessem os nossos estudantes praticado uma milésima parte dos desacatos que têm cometido, tivesse a população aderido ao inconformismo juvenil, e .choraríamos já hoje, .porventura, as consequências de uma nova hecatombe, como a de Budapeste,, ou uma invasão "protectora" e "aniquilante", como a Ida Checoslováquia.

Que admirável confronto, apesar de tudo, entre o que aqui se passa e o que vai por esse mundo fora: entre a agitação de Nanterre (que conduz a França ao caos); entre a violência repressiva Idas autoridades, seja qual for o país onde as desordens se manifestem, e o altíssimo exemplo que acaba de nos ser dado pelo Chefe do Estado, que respondeu à agitação coimbrã com a reconfortante e tocante cerimónia do Palácio de Belém!

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Aqui se aflora, Sr. Presidente, outro dos pontos cruciais do problema.

Uma coisa é o reconhecimento das carências universitária!-; a crítica a tudo quanto se revele ultrapassado nas estruturas do sistema de ensino; a diagnose dos males que afligem a Universidade; o anseio de participar na gestão das escolas e de colaborar nas comissões de estudo preparatórias das grandes reformas a empreender; e outra, bem diversa, é a agitação arruaceira, que parte janelas e destrói instalações; que desce à rua e desafia as forças de segurança para confrontos indesejáveis; que ocupa os edifícios, evitando o decorrer normal da actividade académica; que desrespeita as autoridades e insulta os professores; numa palavra: que pretende subverter e destruir em vê/de reformar e aperfeiçoar.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Torna-se mister que o Governo e aqueles que nas Universidades são seus delegados esclareçam os estudantes, de uma vez para sempre, fazendo-lhes ver que o estado de espírito reformista, insatisfeito, construtivamente crítico, não pode confundir-se com a selvatização das reivindicações, nem com a politização das atitudes. As carências universitárias e o generalizado desejo de reformas por que todos anseiam não justificam, de modo algum, ultrapassarem-se os limites da problemática universitária, resvalando-se, mais ou menos conscientemente, para situações subversivas- ou pré-revolucionárias que qualquer governo digno do nome e da missão que lhe está confiada não poderá deixar de implacávelmente combater.

Estas palavras tinham de ser ditas, e por alguém que pudesse apresentar determinado saldo positivo no que toca a respeito pela opinião alheia e identificação com o clima de desejável abertura e evolução pacífica que vai sendo tempo de instaurar na terra portuguesa.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - A desordem só aproveita aos extremismo. A uns porque legitima a repressão; aos outros porque gera o caos.

É essencial, por isso, que aqueles que se encontram directamente comprometidos na planificação do novo ordenamento universitário não se deixem manobrar pelo activismo de quaisquer grupelhos, cujos últimos desígnios se situam muito para além dos quadros e do interesse da Universidade.

Vozes: - Muito bem!

Sr. Presidente: E tempo de me circunscrever ao conteúdo exacto do debate e vou ser tanto quanto possível breve.

Está feito o processo do statu que universitário. Não carece, por isso, que um leigo sobre ele teça maiores desenvolvimentos.

Preferível será, então, esboçar algo de concreto que possa trazer, ainda que modestamente, qualquer achega válida para a obra que é mister levar a bom termo.

A Universidade deixou de ser, como bem referiu o Prof. Miller Guerra, a turrís ebúrnea de minorias privilegiadas.

O número de licenciados, no alvorecer deste século, era aflitivamente confrangedor. Os raros que atingiam o grau universitário provinham das camadas mais favorecidas. Verificava-se, portanto, um trágico e pródigo não aproveitamento da inteligência portuguesa. E o privilégio universitário não era apenas social, mas incidia também na natureza do sexo. Quem não se recorda da notoriedade da primeira portuguesa licenciada em Direito, viva ainda até há bem pouco tempo?

Hoje, sem que se possa dizer que o acesso à Universidade esteja garantido a todos. pode., contudo, afirmar-se que está aberto a muitos mais. E a tantos, que não só assistimos a ficarem ultrapassadas as vetustas instalações das escolas centenárias, mas também os novos edifícios, que, em menos de um lustro, se revelaram incapazes de albergar tão grande número dei estudantes.

Vozes: -Muito bem I

O Orador: - Parece, assim, tornâr-se prioritário que se diligencie dar a, todos, a mesma igualdade de oportunidades, permitindo que não se desperdice um só cérebro capaz de vir a ser útil na batalha do futuro, que estamos a