ser função da sociedade em que enraíza e estar em condições de responder às necessidades reais do País tanto no presente como no futuro.

Importa, por isso, que disponha de uma orgânica eficaz, atenta às mutações, pronta a responder a novas exigências, de uma orgânica, enfim, capaz de eliminar quanto se revele inoperante, desactualizado, contrário ao que o povo português espera das suas Universidades agora e sempre.

O orador foi muito cumprimentado.

porque os fumos ida cultura ou o jogo das políticas não lhes desvirtuam os sentimentos ancestrais -, não compreende que ia perturbação e a desordem se instalem na Universidade, que é a sua esperança de um futuro melhor.

A jovens operários, que atrás das máquinas trabalham pelo progresso industrial do País; a jovens empregados, que sobre as secretárias trabalham pelo progresso económico do País; a homens que envelheceram atrás das máquinas e sobre ias mesmas secretárias, tenho ouvido perguntar, com revolta e com angústia, para que vale o seu trabalho até ao sacrifício se os jovens, que estão na Universidade, sem nada produzirem, e vivendo, portanto, da vida que com o trabalho das oficinas e dos escritórios eles vão orlando, em vez de estudar, fazem comícios, em vez de investigar, madraçam, em vez de participar, amotinam. Se os professores, em vez de ensinar, faltam às aulas, em vez de investigar, administram. E se os jovens operários e empregados, que cedo foram chamados às responsabilidades da vida e cedo marcham para a defesa do ultramar, dissessem um dia aos estudantes que não trabalhavam mais paru eles, pois não queriam ter por futuros dirigentes aqueles que tinham desperdiçado, em revolução, o tempo gratuito da sua preparação intelectual ou científica? E se eles exigem um dia aos professores que sejam mesmo professores, como eles são operários? Mas, Sr. Presidente, se chegado porventura esse momento trágico, e que não se deseja, os estudantes. respondessem que o que desejavam era, muito simplesmente, uma Universidade em condições de lhes ensinar o que pretendiam e o que a Nação pretenda? Ora os factos, as pessoas responsáveis, este mesmo debate, mostram e demonstram que a Universidade necessita de profunda e urgente reforma. Ao reclamá-la. Os estudantes estão no caminho das justas reivindicações; ao provocá-la, os estudantes estão a participar como podem e sabem. De deplorar é, porém, os excessos havidos, mas a mocidade é assim mesmo: dá-se sempre totalmente no ardor de um idealismo que é a sua mais forte característica, e todos louvamos e fortalecemos, quando se trata da luta ordenada de um campo de batalha, e todos estamos prontos a atacar e a combater, quando foge à nossa orientação.

A Universidade está doente - poderia eu dizer, parafraseando dito célebre -, doente da doença de que todas as instituições fechadas e tradicionalistas sofrem em épocas revolucionárias. E é fora de dúvida de que estamos numa dessas épocas, num ponto de viragem da história dos homens. Por isso, o esforço tem de ser de todos para a adaptação das velhas instituições aos tempos do futuro (anunciados hoje) ou, não sendo possível, à criação de instituições que melhor saibam corresponder aos anseios e necessidades humanas.

Muitas, acertadas e profundas medidas estão si ser tomadas para levar a Universidade a fazer a sua reforma, mas trazido o problema ao conhecimento consciente da Nação, esta não pode deixar de dizer( por todos os seus sectores, uma palavra, ao menos de esperança. O movimento estudantil, esquecidos os pormenores políticos trazidos pelos chamados, «pescadores de águas turvas», bulindo com a nossa responsabilidade de pais e a nossa responsabilidade de cidadãos, foi a gota de água que fez derramar um problema de que, pelos vistos, muitos estavam já cheios, mas não tinham voz para os pôr ou foragem. Com a sua irreverência, a juventude gritou que o rei ia nu. Perturbados os espíritos com a verdade, ajudemos nós, também aqui, serenamente, a vestir o rei.

Sr. Presidente: Um espírito brilhante que por esta Casa passou, e não há muito a Morte levou consigo, ao ouvir reclamar aqui, com insistência, a reforma dos mais variados graus de ensino, em especial secundário, costumava comentar à boca pequena (e francamente não sei porque o não disse nunca à boca larga) que a reforma urgente e primeira deveria ser a da Universidade.

Recorrendo a figuras geométricas e pondo a Universidade num dos vértices do triângulo em que a frequência escolar se arruma, é-se tentado a pensar, e até a defender, que se deve começar a reforma total do ensino pela base para, de apuramento a apuramento, se alcançar, o cimo. É a imagem da gradação normal da marcha da nossa vida a influenciar o pensamento e a acção dos homens. Mas nem, ao desenhar-se despreocupadamente um triângulo, se começa pela base, mas sempre pelo vértice, nem ninguém constrói a vida ao sabor do imprevisto; mas tendo sempre em mira um fim qualquer, a partir do qual projecta e disciplina as suas acções.

Uma reforma do ensino tem de começar pela reforma do ensino universitário e ir-se descendo até à base, sem se pôr nunca a interrogação de se todos os estudantes terão ou não ingresso na Universidade. Todos têm de ter acesso a ela.

A Universidade, necessita saber o que a Nação pretende dela, isto é, quais os conhecimentos que os seus alunos deverão adquirir, em que medida e em quanto tempo, para serem úteis às tarefas mediatas da Nação. Não pode. todavia, esquecer-se que, para além dessa tarefa de ensino programado e de investigação aplicada, à Universidade cabe a grave responsabilidade da investigação pura e de ser a guardiã de uma cultura milenária. Ela tem de ser, por isso, um padrão, mas não pode esquecer que tem de ser igualmente um instrumento. É entre estes parâmetros que a Universidade tem de fazer a sua reforma. Mas, simultaneamente, para conseguir um ensino de rendimento sem sacrifício exagerado dos que nela se matriculam, a Universidade tem de dizer aos liceus e aos institutos médios que ensino base eles terão de fazer como alicerce seguro para a frequência dos cursos universitários.

A Universidade está doente e é urgente a sua cura. Para o ensino médio há o anunciado propósito de o reformar. No ensino secundário está em curso uma profunda reforma, urgente para articulação com o ensino prepara-