Diz-nos a História que as sociedades do bem-estar se deixam destruir com facilidade. E preciso serem muito abanadas para reagirem, e não há dúvida de que estamos a ser bem abanados.

Toda a gente parece ter medo de falar da crise da juventude e do ensino. Se esta instituição parlamentar, com as suas características, não se interessa por estes candentes problemas, por estas questões primordiais da vida nacional, quem é que o vai fazer? Quantas vezes me apeteceu aqui salientar a necessidade de atacar prioritariamente estes problemas, deixando outros para a posição que a sua pequenez ou o seu regionalismo lhes dão jus.

Trabalhei quatro anos na Universidade de Lourenço Marques. Aí criámos um clima de permanente estudo e de cuidadosa investigação dos problemas que afligem a Universidade portuguesa. O actual Ministro da Educação, nosso ex-reitor, com o seu dinamismo, com a sua extraordinária capacidade de trabalho, não dava um só momento de folga aos responsáveis pelos departamentos. Foi possível realizar porque trabalhámos e foi possível trabalhar porque trabalhámos em tempo integral.

Assim, ao fundarmos em Moçambique um hospital da Universidade, com a legislação original, abrimos caminho a uma nova forma de ensino médico em Portugal, e que

esperamos venha em breve a constituir exemplo no País. O nosso círculo universitário e a fundação de bolsas de estudo constituem exemplos vivos de como a Universidade se articula com a sociedade moderna. Finalmente, os nossos grupos de trabalho com estudantes e professores, base do nosso actual conselho consultivo universitário, são embrião viável e robusto de uma nova concepção de gerência universitária.

Ao falarmos destes órgãos não apontamos hipóteses, mas referimos as experiências vividas, que servem como elementos de estudo ou que representam subsídios para a crítica de construções abstractas. Este processo experimental, desprovido da rigidez dogmática de uma opinião isolada, mesmo a mais autorizada, parece-me que é o verdadeiro caminho para a reforma universitária. Este espírito de investigação experimental que si Universidade utilizada e que ella devo aplicar a si própria, e ao qual nem a política, nem a sociologia, se podem furtar, é o único que fará com que as instituições não sejam obsoletas, por ultrapassadas, no próprio momento em que são inauguradas.

Tenho dito.

O orador foi muito cumprimentado.