tências e que estas resistências não deixam de ruir mais ou menos rapidamente.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:

Em boa verdade, é necessário muito tempo para que se verifique progresso e é indispensável boa vontade e muita fé por porte dos homens que se devotam a esse progresso.

A vinda de S. Ex.ª o Sr. Presidente da República até as margens do Guadiana, ao sítio onde se projecto a barragem de Alqueva, acompanhado de mais membros responsáveis do Governo, é a prova certa de que os homens que mandam têm fé acrisolada no progresso; só assim, em redobro dessa fé, seremos capazes de caminhar para diante, com os olhos postos nas metas do autêntico interesse nacional.

Pela honra que S. Ex.ª deu ao povo de Beja e seu termo, do qual teve vincado testemunho de quanto o estima e venera, e ainda pela quase certeza, com n sua presença, de que Alqueva é uma realização a breve prazo, que transformará em muito a nudez da terra alentejana, dirijo ao venerando Chefe do Estado o preito maior da minha gratidão pessoal e das gentes do Alentejo que nos elegeram.

Vozes: - Muito bem!

O orador foi cumprimentado.

O Sr. Presidente: - Vai passar-se à

O Sr. Presidente: - A primeira parte da ordem do dia consiste na continuação do debate do aviso prévio do Sr. Deputado Miller Queira sobre as Universidades tradicionais e a sociedade moderna.

Tem a palavra o Sr. Deputado Nunes de Oliveira.

O Sr. Nunes de Oliveira: - Sr. Presidente, Srs. Deputados: Procurarei não ser longo na exposição que me proponho fazer a propósito do aviso prévio ora em discussão, mas, antes de iniciar algumas despretensiosas considerações, desejo exprimir ao ilustre Deputado a cuja iniciativa se deve a sua apresentação o quanto apreciei as suas palavras na sessão em que o efectivou, embora não nos identifiquemos, como é natural, num ou noutro dos aspectos abordados. De qualquer modo, isto não invalida o apreço que sinceramente lhe testemunho.

A seara é vasta e em muitos casos complexa, motivo por que se torna impraticável, numa intervenção desta natureza, dissertar sobre assuntos que exigem análise atenta e profunda.

Assim, direi apenas algumas palavras sobre três pontos que julgo da maior importância.

O problema da reforma geral do ensino superior tem sido debatido, de há uns anos a esta parte, por distintas e qualificadas personalidades, muitas das quais ligadas a Universidade.

Quantos e quantos testemunhos poderia invocar - até como um acto de justiça e alguns deles altamente valiosos -, a porem em evidência a necessidade de muitas inovações ou modificações, algumas das quais nem sequer trariam qualquer aumento de despesa, e mesmo para aquelas que o exigissem a apontar-se como rumo a seguir um escalonamento de entrada em vigor, na dependência das progressivas disponibilidades do Tesouro.

Neste aspecto curiosas e judiciosas considerações proferiu o Doutor Guilherme Braga da Cruz, por exemplo, aquando da abertura solene das aulas na Universidade de Coimbra, em Outubro de 1962, para não falar de outros utilíssimos trabalhos por si publicados relativamente a tão apaixonante assunto.

Alguém escreveu que se a legislação se faz e se impõe, o ensino pode decretar-se, mas não passa do papel".

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - E porque na realidade assim é, avisadamente escreveu um dia o ilustre professor da Universidade de Coimbra a que aludi, que "a principal reforma da Universidade tem de partir de dentro - tem de partir de todos nós, professores e estudantes, que tantas vezes procuramos esconder as responsabilidades que neste tarefa nos cabem".

A vida institucional da Universidade não pode ser pautada somente pelo que nesse sentido se legisla, ela tem de ser essencialmente vivida com entusiasmo, com espírito de total dedicação por todos aqueles que a servem, sejam professores ou alunos, porque todos devem sentir essa obrigação como um alto ideal que se abraça e ao qual indissoluvelmente nos ligamos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Estamos, sem dúvida, em presença de problemas bem mais vastos e complexos, repito, do que alguns pensam, a despertaram por todo o mundo vivo dialogo e que têm de ser estudados em profundidade, de maneira a procurarem-se, além do mais, novas estruturas que conduzam seguramente a um objectivo sério e de acordo não só com as necessidades, mas também com as nossas reais possibilidades financeiras.

O ideal é inimigo do possível e, porque assim o reconheceu o ilustre Ministro Veiga Simão, é que decidiu, como primeiro passo a dar, a abertura de um diálogo que se espera construtivo, com o fim, detectadas as deficiências, de preconizar soluções validas e exequíveis, condição fundamental quando se pretende levar a bom termo uma obra das maiores repercussões sociais e económicas.

Nunca me deixei arrastar por utopias, que por vezes terão como consequência, não só gerar condenáveis climas emocionais, como manter estados de insatisfação permanente, focos de agitação e rebelião, e, embora concorde plenamente em que deve fazer-se um sério esforço de transformação e adaptação da Universidade, de maneira a torná-la capaz de corresponder às altas responsabilidades que lhe cabem no mundo de hoje, penso que à volte do problema, que devia ser encarado com mais frieza e critério e menos calor e paixão, se tem fomentado um movimento de opinião, do qual para já, se uma ou outra vantagem adveio, resultaram injustiças e juízos pouco prestigiantes para a instituição que desejamos ver elevada e engrandecida.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Aliás, quando oiço ou leio críticas à nossa Universidade, no sentido de provar a sua decadência e n sua total ineficácia, penso, para mim, que a Universidade não se encontra, afinal, tão mal que não tenha podido formar muitos desses críticos.