Todavia, o futuro da Comunidade Luso-Brasileira, alicerçada como ainda está em bases espirituais e afectivas, será aquilo que nós quisermos se, Portugueses e Brasileiros, acertarmos o passo na concretização dessa grande realidade histórica, mas depressa e bem.

E não só no plano económico, mas nos outros domínios do cultural e do administrativo, e neste é pedra fundamental a reciprocidade de tratamento com relação aos cargos de que o Governo Brasileiro considerou poderem ser ocupados por portugueses, bem como a abolição de passaportes entre os cidadãos dos dois países, bastardo apenas a identificação usual exigida aos respectivos naturais.

São do Sr. Presidente do Conselho as seguintes palavras proferidas em S. Paulo aquando da sua recente visita:

De qualquer maneira, não podemos, a partir de agora, parar ou esperar mais. Há que transportar paro o plano da, Comunidade Luso-Brasileira e dos seus interesses económicos este afã que fez de S. Paulo uma cidade em continuo crescimento na extensão e na riqueza. Sente-se a vida, vive-se o movimento, respeita-se o êxito. Não ha espaço para o pessimismo, nem tempo para o desânimo. Como duvidar neste lugar de que querendo firmemente construir e consolidar a Comunidade Luso-Brasileira o conseguiremos?

Obstáculos existem, decerto. Mas não há obstáculo que resista à firme resolução de o vencer. A causa do nossa comunidade merece bem que na máxima tensão das nossas energias nos proponhamos obter uma vitória plena.

Vozes: - Muito bem!

O Orador:

A Comunidade é um sentimento. A Comunidade é um propósito. A Comunidade é uma política. Pois bem: depende da vontade dos Brasileiros e dos Portugueses, depende da nossa energia realizadora, depende da nossa acção eficaz, depende, senhores, de nós todos, que a Comunidade Luso-Brasileira seja no Mundo uma grande, uma pujante, uma imponente realidade viva e fecunda.

Que assim seja é o meu mais ardente voto.

Tenho dito.

Vozes: - Muito bem!

O orador foi cumprimentado.

O Sr. Albino dos Reis: - Sr. Presidente: Silo para V. Ex.a as minhas primeiras palavras, para renovar as saudações que lhe dirigi no acto da eleição para o alto cargo que vem desempenhando com aprumo e dignidade. Sabe V. Ex.ª quão sinceras são as minhas palavras. A longa camaradagem que nos uniu nesta Casa, embora em lugares distintos, permitiu-me a mim admirar o parlamentar e conhecer o homem. A gentileza de espírito e de trato dão com certeza realce ao cargo que exerce e prestígio à instituição. E são a demonstração de que, para além da competência e do saber para o bom desempenho dos altos cargos do Estado, não são indiferentes uma esmerada educação e inatas qualidades humanas.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Aos meus distintos colegas quero apresentar os meus cumprimentos fraternos e dizer-lhes que tenho seguido com a atenção possível as intervenções que têm feito nesta Assembleia, que os tenho ouvido encantado e aprendido muito com VV. Ex.ªs. Quero afirmar-lhes que os ouço sempre com o espírito de larga compreensão. Sejam quais forem as divergências que por vezes nos separem, eu mantenho sempre o espírito de respeito pela sinceridade das convicções e rectidão das intenções que os animam c por uma indiscutível devoção ao serviço do País.

Sr. Presidente: Entendeu V. Ex.ª que não devíamos deixar de anotar, neste dia, nos fastos da Assembleia, a comemoração da Comunidade Luso-Brasileira. Felicito V. Ex.ª, porque interpretou perfeitamente os sentimentos da Câmara e, certamente, o sentimento dos portugueses de aquém e além-mar.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

O Orador: - Com efeito, por iniciativa feliz do Senador brasileiro Vasconcelos Torres, depois sancionada por deliberação do Senado e da Câmara dos Representantes e por uma resolução desta Assembleia, votada por unanimidade, e mais tarde traduzida no decreto de 22 de Abril de 1067, ficou instituído o dia 22 de Abril de cada ano como destinado à comemoração da data gloriosa da descoberta do Brasil. Posteriormente, no dia 22 de Abril de cada ano sempre se têm realizado comemorações significativos dos estreitos laços que nos prendem ao Brasil.

É na sequência destes factos que eu venho evocar e erguer, perante VV. Ex.ªs e perante o país continental e ultramarino, essa entidade singular que é a Comunidade Luso-Brasileira, mostrar ao mundo que já existe uma grande comunidade, resultante apenas da associação de dois países irmãos: o Brasil e Portugal. E neste momento, em que tom to se fala de integrações económicas, pressuposto interessado de sonhadas integrações políticas, parece oportuno verificar e proclamar: já existe no Mundo uma grande comunidade, a Comunidade Luso-Brasileira, comunidade, que não resulta de qualquer artifício da política, mas flui naturalmente da consciência e do coração dos dois povos.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Comunidade que não é mais um produto das férteis e transitórias criações da diplomacia, mas uma imposição e um corolário da realidade da história comum de uma convivência secular de dois povos fraternos.

Sr. Presidente: Estas comunidades que têm raízes naturais são aquelas em cuja permanência e eficácia mais podemos acreditar: o Brasil e Portugal. O Brasil é hoje, com os seus 100 milhões de habitantes, com uma extensão territorial da grandeza de um continente, uma grande nação. E Portugal, meus senhores, com a vida em pedaços repartida, na expressão do nosso épico, com a constelação brilhante das suas províncias ultramarinas, é também hoje, e há-de continuar a ser, se assim o quisermos, uma grande e próspera nação, na frase do Presidente Salazar.

Vozes: - Muito bem!

O Orador: - Pensemos, por momentos, no que pode representar esta vasta associação como presença, como força, como cultura portadora de novos ideais de justiça e humanidade.

Vozes: - Muito bem, muito bem!

Vozes: - Muito bem!