Pois a Ericeira, Sr. Presidente e Srs. Deputados, precisa que os poderes constituídos olhem por ela e tentem remediar alguns males que a afligem. Não é por ser uma pequena vila, estar dentro, praticamente, de uma zona rica em turismo e a escassos quilómetros de Lisboa, que pode ou deve ser esquecida.

Não há dúvida, Sr. Presidente, e que esta Assembleia é essencialmente política, pois, quando não se fala de política, não se ouve nada.

Conheço e vivo de há muito os seus problemas, porque a "Vá me ligam laços de grande ternura e profundo, saudade. Ali me fiz homem; na Ericei rã se conheceram meus pais e, ali bambem, criei os meus filhos, e vão brincando, na inocência da tragédia que os atingiu, os meus netos.

Fui provedor, durante largo tempo, da Santa Casa da Misericórdia da vila, antiga de quase 300 anos, e pelo seu hospital e asilo fiz o que pude e os homens deixaram; mais vinculado, porém, lhe fiquei e, por isso, não soube recusar a presidência da Junta de Turismo, quando para o cargo fui convidado.

Sucede que a Ericeira, apesar do seu tamanho, mas pelo seu clima magnifico e pelas seus encantos naturais, que mercenários da construção tudo fazem paia liquidar, construindo, construindo sem rei cem roque, tem, lá fora, grande número de adeptos, ia a dizer de apaixonados. E, em certos meses de Vento, é de tal modo intensa a presença de estrangeiros que mal se ouve a nossa língua. Chamam-lhe, aliás, ridiculamente, Saint-Tropez portuguesa . . .

Pois bem, apesar da sua pequenez, repito, a Ericeira possui hoje um dos melhores e mais bem apetrechados hotéis do nosso litoral; com mais de 260 quartos, a sua localização ímpar constitui um verdadeiro encanto. Tem também três estalagens, modernas e bem apetrechadas, e ainda três pensões. Tudo completamente cheio nos meses de Verão.

E é do turismo - aliás, tão acarinhado pela Secretaria de Estado respectiva- que vive aquela linda terra e a sua boa gente. Do turismo e do mar; mas do mar como? Entre Cascais e Peniche, a Ericeira é a única saída praticável para o mor, tratando-se de embarcações de pesca ou recreio de pequeno e médio porte. Os Anais da Ericeira, de Lobo da Silva, dizem ter sido este porto a "4.ª Alfândega do Reino" e na foz da Ribeira de Ilhas, a norte da Ericeira, consta terem sido construídas algumas naus da índia.

Para manutenção da Ericeira, como porto de pesca individual-Artesanal, grandes esforços se têm produzido e influências se têm movido, e o Ministro Arantes e Oliveira, um ericeirense ilustre de coração, mandou que em 1964 se iniciasse uma primeira fase das obras reputadas de indispensáveis para a segurança dos bravos pescadores locais e daqueles que ali arribam para venderem o seu pescado ou reabastecerem os seus barcos.

Mas, infelizmente, as obras realizadas e a verba gasta (cerca de 4500 contos) de nada serviram; pelo contrário, pois provocaram um movimento de areias que descarnaram a Praia do Peixe (dos pescadores), inutilizaram-lhe uma das rampas de acesso, do lado sul, e tornaram mais perigoso, pelo aparecimento de rochas, o acesso à praia das embarcações registadas na Delegação Marítima local, em número superior a cinquenta, mas que, a continuar este estado de coisas, certamente terá tendência a diminuir, com grave, prejuízo de toda aquela gente que vive da sua faina piscatória, para cima de três centenas de pessoas. O porto cie abrigo, da Ericeira pode, se não se fizer um urgente esforço para o tornar praticável, constituir um perigo para aqueles que o demandam na angariação do pão nosso de cada dia . . .

O valor do pescado em 1969 andou à volta de 4000 contos, mas quanto maior não seria se se concluíssem as obras do porto de pesca, era má hora iniciadas, vai para sete anos? A utilidade do estaleiro, construído sobre o paredão conquistado ao mar, apenas serve, no Verão, para bailaricos regionais, pois nem sequer se podem ali guardar, no Inverno, as embarcações; levá-las-ia o mar! É pouco, é muito pouco!

Daqui apelo, pois, para um estadista moderno, desempoeirado, dinâmico, e que sabe viver os problemas das populações dos grandes e dos pequenos centros; talvez mais ainda destes ... - o Ministro Engenheiro Rui Sanches.

Mas já agora não fico por aqui nas minhas queixas. A Ericeira, que, por razões já expressas, está no meu coração e, pelas funções que ali exerço, constitui minha obrigação defender, pertence ao concelho de Mafra, onde existe, como todos sabem, o velho e monumental convento é a lindíssima tapada que o circunda. Pois são alguns também os problemas que ali existem, apesar do esforço e da dedicação do presidente da sua Câmara Municipal e dos seus principais colaboradores.

Os seus cento e quarenta quilómetros de estradas municipais, que servem quinze freguesias, carecem também de reparação urgente, pois há algumas verdadeiramente intransitáveis; algumas povoações mesmo nem acesso têm!

A densidade local de tractores destinados à pequena lavoura, mais de 800 em 1969, é muito grande e todos os seus possuidores muito lucrariam com a obra que se pede.

Solicita-se, já agora, ao Ministério da Educação Nacional que o ciclo preparatório ali existente seja ampliado e no concelho - de mais de 33 000 habitantes, espalhados por 15 freguesias, e cerca de 9000 fogos - exista a possibilidade de se cursar todo o liceu.

Uma escola técnica seria a grande ambição da vila de Mafra, e daí o pedir desta tribuna que o assunto seja devidamente estudado e resolvido em conformidade com os reais necessidades de um concelho cuja sede excede, em muito, os 6000 habitantes.

Parece-me que a beleza da região, o encanto que constitui, com os seus múltiplos atractivos, para nacionais e estrangeiros, et, sobretudo, o bem-estar e progresso dos seus naturais, bem merece do Governo da Noção que sobre os seus problemas e anseios se debrucem os técnicos e os resolvam quem o pode fazer, a bem de um Portuga cada vez melhor e mais progressivo.

Como ericeirense do coração, como Deputado pelo círculo de Lisboa, atento, portanto, não apenas à política nacional, mas aos problemas locais, daqui me atrevo, pois a apelar para quem de direito, de modo que se olhe com carinho para o concelho de Mafra, cujas necessidades excedem em muito o que aqui foi dito, e para a vila da Ericeira, cujo progresso depende, ao fim e ao cabo, de tão poucas coisas, mas tão necessárias, não se deixando ao abandono o esforço, a dedicação e o interesse de que