campo, quanto seria necessário, tem, porém, a consciência de que tem ido até onde o permitiram os recursos de que dispôs para este efeito.

Numerosas infra-estruturas espalhadas pelo País atestam o que fica dito. E mais importante que elas tem sido a acção de mentalização dos agricultores, indispensável ao funcionamento daquelas cooperativas. Importa, sobretudo, convencer os agricultores de que é deles que depende a actuação da cooperativa na defesa dos seus interesses. Mas é por vezes difícil convencer certo tipo de agricultores, geralmente os que vivem longe do campo e fazem agricultura por interpostas pessoas; de que não deve ser o Estado a resolver-lhes os problemas, sejam eles de cultura, sejam de mão-de-obra. sejam comerciais. O que se passou com a batata na presente campanha afigura-se cristalinamente transparente.

Quando o preço da batata chegou, em Dezembro, a 2$ por quilograma ao produtor, toda a gente pensou que este preço iria subir muito mais até Abril. E daí nasceu um movimento especulativo desencadeado por comerciantes, mas imitado por numerosos agricultores, geralmente de maior capacidade financeira.

A Junta, com os seus armazéns vazios, conseguiu adquirir a muito custo, e a 2$ por quilograma, apenas trinta e cinco vagões de batata para ensaiar o equipamento dos armazéns que tinha completado para servirem a produção, em número de onze.

Aquele movimento especulativo conduziu, porém, à constituição de reservas superiores à que o mercado poderia consumir e daí que o preço, ao contrário das previsões, tenha descido.

Resultaram desta situação os apelos para a intervenção da Junta para garantir os preços. Essa garantia efectuada a nível alto sancionaria a especulação, quer a dos agricultores, a qual, ainda, que discutível, se poderia aceitar, mas também a doa comerciantes, já que não existem quaisquer dúvidas de que muita batota já comprada por negociantes, mas ainda de posse dos agricultores, acorreria, em nome destes, aos armazéns da Junta!

Daí o ter sido determinada uma intervenção, limitada aos agricultores e ao nível de ISSO por quilograma.

Em situação de carência de batata em quase toda a Europa, seria esta uma ocasião magnífica de efectuar uma exportação que permitisse regularizar o mercado. Mas a variedade que obstinadamente os agricultores preferem, e cuja ' utilização a Junta tem vindo a contrariar, não nos dá qualquer oportunidade de concretizar aquela possibilidade potencial. Todos os mercados exigem batata de bom nível culinário, de polpa amarela. O Reino Unido, único mercado que aceita as variedades de polpa branca, está-nos vedado em razão de exigências de natureza fitopatológica a que o agricultor português não dá satisfação e que impedem os serviços oficiais de passar o indispensável certificado de sanidade. Faz o Sr. Deputado uma referência à "ruinoso intervenção da Junta de 1967", a qual o deixou "apavorado", pois nunca viu "tamanha desorganização".

O menos que se pode dizer dessa referência a uma intervenção que custou ao Estado cerca de 205 000 contos (e não 300 000, como afirma o Sr. Deputado, uma vez mais mal documentado) é que traduz uma ingratidão para com o Governo, que corajosamente se dispôs a perder tão elevada quantia em proveito exclusivo dos agricultores produtores de batata. Pode discurse-se se não teria sido mais útil dar outra aplicação àquele dinheiro, mas o que não sofre discussão é que, sem n intervenção do Governo, perante uma situação do excesso de oferta provocada por causas climatéricas favoráveis, muitos milhares de agricultores teriam perdido quanto possuíam.

Alguns milhares de toneladas de batatas se deterioraram, mas convém não esquecer que esse destino foi o único possível, já que não havia consumo para elas já que a exportação não era viável o já que as possibilidades de industrialização ficaram u curto prazo saturadas. Passemos agora h apreciação de. outro passo das afirmações do Sr. Deputado, a não construção de um armazém em Lamego.

No plano de armazéns aprovado superiormente previa-se a construção do um armazém em Lamego, a qual não foi ainda concretizada por não ter sido possível a Junta reuniu todos os créditos necessários. Na impossibilidade de construir todos os armazéns simultaneamente, deu-se preferência à região de Trás-os-Montes e Alto Douro, no que respeita aos armazéns para batata e a regiões onde a fruticultura comercial tem importância incontestada e potencialidades para se expandir, para os polivalentes: Fundão, Mangualde, Guarda. Vila Real, Macedo de Cavaleiros e Braga.

Dada a expansão da cultura fruteira nalgumas zonas setentrionais da Beira Alta encarou a Junta a possibilidade de construir aí um armazém polivalente em vez do projectado armazém só para batata.

Para discutir com os interessados a mais conveniente localização, efectuou-se em Lamego uma reunião, no decurso da qual vieram a terreiro manifestações lastimáveis de um inflamado bairrismo, a que eram completamente estranhos os argumentos de natureza económica. Formaram-se dois blocos irredutíveis, um representado pelos produtores do concelho de Tarouca e outro pelos produtores dos restantes concelhos.

Posta a questão neste pé, e como pareceria à Junta que era principalmente aos argumentos de natureza económica que se deveria atender,